Comissão vai intervir contra abuso policial em Pains

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais deverá pedir o afastamento de um policial ci...

19/12/2006 - 01:00
 

Comissão vai intervir contra abuso policial em Pains

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais deverá pedir o afastamento de um policial civil envolvido em dois casos de prisão indevida, agressão e tortura contra dois funcionários da prefeitura de Pains, município do Centro-Oeste do Estado. A avaliação foi feita pelo presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), após realização de audiência pública nesta terça-feira (19/12/06) naquela cidade. O policial envolvido nas denúncias é Cleiton Rezende, filho do superintendente regional da Polícia Civil de Minas Gerais, João Pedro Rezende. Durante a reunião em Pains, também foi apurada a utilização indevida de carros da Polícia Civil por pessoas que não pertencem à corporação, inclusive outro filho de Rezende, conhecido como Totonho.

De acordo com Durval Ângelo, o afastamento de Cleiton Rezende da Polícia Civil deverá ser pedido assim que a Justiça acatar denúncia que já está sendo preparada pelo Ministério Público. O delegado regional de Polícia Civil de Formiga, Rogério de Mello Franco Assis Araújo, que participou da audiência pública em Pains, disse que já foi instaurada sindicância para apurar o comportamento dos policiais envolvidos nas denúncias de abusos, a última delas ocorrida em novembro. Além disso, afirmou que será instaurada investigação sobre o uso irregular das viaturas. O delegado de polícia de Pains, Ricardo de Bessas, também afirmou que já foi instaurado inquérito policial para apurar o caso, por determinação da Corregedoria de Polícia de Minas Gerais.

Espancamento foi seguido de ameaças de morte

Os dois casos de agressões policiais contra funcionários da prefeitura de Pains aconteceram em 10 de maio e 12 de novembro de 2006. De acordo com os relatos do servidor Bruno Freire Marinho durante a audiência pública, o primeiro caso aconteceu após ele ter chamado a atenção de Cleiton Rezende, que estava de pé sobre a mureta de uma praça restaurada recentemente pela prefeitura. Após o desentendimento, Marinho disse ter sido algemado, espancado e quase estrangulado por diversos policiais. Em seguida, foi levado para a delegacia de Pains, onde ficou preso por meia hora na cela. Ao ser solto, disse ter sido advertido por Cleiton Rezende. "Ele disse que, caso a gente fosse processá-los, a gente ia ver qual a força da polícia, o tanto que eles são unidos", afirmou Marinho. Na ocasião, o servidor foi apoiado por seu colega e chefe, Paulo César da Silva, chefe do setor de Patrimônio Público da prefeitura, que o acompanhou até a delegacia para pedir sua liberação.

Em novembro, foi a vez de Paulo César ser preso. O caso aconteceu em Pimenta, município vizinho, durante uma festa à fantasia em que ele trabalhava autonomamente como segurança. Segundo seu depoimento, logo no início da festa ele foi cercado por cerca de dez policiais, que o agarraram, cegaram com spray de pimenta, espancaram e algemaram. O grupo, segundo ele, era liderado por Cleiton Rezende. Levado para uma delegacia do município de Formiga, sofreu ameaças de morte e mais espancamentos, durante cerca de duas horas e meia. Tudo foi feito sem ordem de prisão, e não lhe permitiram o contato com advogado. Foi libertado após interferência do prefeito de Pains, Ronaldo Gonçalves, a quem tinha conseguido avisar por telefone celular quando ainda estava na viatura policial. Durante a audiência pública, Paulo César exibiu fotos das lesões e um relatório de ultra-som que comprovaria traumas internos, inclusive uma trombose em uma das pernas.

Bruno e Paulo César afirmaram que alguns policiais tentaram defendê-los da ação dos colegas. "Não acusamos todos os policiais", salientou Paulo César. Apesar de ter sido acusado de ser traficante e ladrão durante sua prisão, o servidor só foi acusado formalmente de desacato à autoridade e resistência. O deputado Durval Ângelo lembrou que desacato não é crime que implique na perda de liberdade física. O parlamentar também questionou denúncias de que pessoas que não são policiais estariam circulando na cidade em carros pertencentes à Polícia Civil. Um dos casos seria o de "Totonho", filho do superintendente regional da Polícia Civil, João Pedro Rezende. Totonho foi visto por diversas pessoas dirigindo viatura caracterizada e um Siena prata, placa HAK-5372, de propriedade da 4ª Delegacia Regional de Formiga.

Servidor é acusado de ameaça e desacato

O delegado regional de Formiga, Rogério Araújo, admitiu que, em alguns casos, servidores administrativos da Polícia Civil dirigem viaturas, em decorrência da falta de recursos humanos. Ainda assim, isso não se aplicaria ao caso do filho do superintendente, que não é servidor. Ele disse que o caso será investigado. Sobre as agressões contra Paulo César e Bruno Marinho, o delegado regional afirmou que os fatos também estão sendo apurados, mas que eles também tinham que admitir alguns erros. Ele apresentou dois boletins de ocorrência em que Paulo é acusado de ter ameaçado e desacatado autoridades policiais. Acrescentou ainda que os dois servidores da prefeitura também integram uma agência de segurança não autorizada pela Polícia Federal, intitulada Tropa de Choque Cobra Kan.

Paulo César negou que tenha ameaçado qualquer autoridade, e afirmou que isso ficou claro em audiências judiciais. Ele admitiu a irregularidade de sua empresa. "Eu achava que a autorização da Polícia Federal só era necessária em caso de segurança armada", afirmou. Ele disse estar tentando regularizar a empresa.

Diversos requerimentos foram propostos pelo deputado Durval Ângelo, como resultado da audiência pública. Alguns para que as notas taquigráficas da audiência pública sejam encaminhadas ao Ministério Público de Formiga; ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e de Apoio Comunitário; à Corregedoria de Polícia; ao Chefe da Polícia Civil, Otto Teixeira; ao Colegiado das Corregedorias; à Secretaria Nacional de Direitos Humanos e à Subsecretaria de Estado de Direitos Humanos. Outro requerimento irá pedir a abertura de investigação sobre o uso irregular de viaturas policiais. Todos os requerimentos seriam votados pela comissão nesta quarta-feira (20).

Presenças - Deputado Durval Ângelo (PT), presidente. Também participaram da audiência o prefeito de Pains, Ronaldo Gonçalves; o presidente da Câmara Municipal de Pains, Rosimar Machado; o perito criminal da Polícia Federal, Adriano Reis; e o advogado Weber Lima.

 

 

 

 

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