Reunião é ponto de partida para criação de parque em Ouro Branco

Uma audiência pública realizada nesta quinta feira (14/12/06) pela Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da A...

14/12/2006 - 01:00
 

Reunião é ponto de partida para criação de parque em Ouro Branco

Uma audiência pública realizada nesta quinta feira (14/12/06) pela Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais em Ouro Branco, Região Central de Minas, selou a criação de unidades de conservação na Serra do Ouro Branco, que alcança também os municípios de Ouro Preto e Congonhas. A reunião teve caráter de consulta pública, uma das exigências da Lei 9.985, de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). Os deputados petistas Laudelino Augusto, presidente da comissão, e Padre João, autores do requerimento para o encontro, receberam um documento com 4.265 assinaturas, manifestando o desejo da comunidade para que a serra seja preservada.

Outra previsão legal, a de realização de estudos técnicos, também foi suprida na audiência. O Instituto Terra Brasilis, autor do trabalho que envolveu profissionais de dez áreas distintas, encomendado pela Gerdau-Açominas, recomenda a criação de um parque estadual na Serra do Ouro Branco, com 11.082,06 hectares (ha), além de pelo menos três reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs) somando 1.756,19 ha. A presidente do Terra Brasilis, Sônia Rigueira, salientou que foram registradas na Serra do Ouro Branco 45 espécies de anfíbios (sapos e pererecas), número que supera as ocorrências da Serra do Cipó, considerada, até agora, a de maior diversidade em Minas. "Esses animais são bons indicadores das condições ambientais do local", frisou.

O pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, Cláudio Leite, acrescentou que 800 espécies de plantas foram identificadas na serra, com ocorrência de 24 espécies por quilômetro quadrado, contra oito espécies na Serra do Cipó. "Mais de 30 espécies estão na lista de ameaçadas em Minas Gerais", salientou. O estudo técnico envolveu análises de geomorfologia, que apontaram a ocorrência de solo frágil e sujeito a erosões; flora campestre; flora arbórea; herpetologia (répteis e anfíbios); uso e ocupação do solo; e aspectos históricos e culturais, como sítios históricos e trechos da Estrada Real, que cortam o maciço.

De acordo com Sônia Rigueira, a região já é citada em atlas de áreas prioritárias para conservação, inclusive de Mata Atlântica. Além disso, há em seu entorno várias áreas com algum tipo de preservação, entre elas a Área de Proteção Especial do Córrego do Veríssimo, usada para captação de água pela Copasa; e o próprio Parque Estadual do Itacolomi, em Ouro Preto. Cláudio Leite lembrou ainda que a Serra do Ouro Branco é exaltada desde o século XIX, quando pesquisadores e naturalistas como Saint-Hilaire e Martius passaram pelo local, considerado um monumento geológico rico em diversidade biológica.

Já Lílian Fontes, da coordenação do Programa de Educação Ambiental da Gerdau-Açominas, lembrou que a serra é área de recarga de aqüíferos que abastecem a região e que o ecossistema de campos rupestres encontrado no topo do maciço contribuiu para a criação, pela Unesco, da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, cujo marco zero é justamente a Serra do Ouro Branco. O programa de educação ambiental da Gerdau, segundo ela, já atendeu 200 mil pessoas desde 1990.

IEF prevê para breve a oficialização do parque

Após receber o abaixo-assinado dos moradores e conhecer o estudo técnico sobre a Serra do Ouro Branco, o diretor de Pesca e Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Célio Murilo Valle, previu um "horizonte curto" para a criação do parque. Ele afirmou que encaminhará o processo ao governador, que poderá criar a unidade de conservação por meio de um decreto. "A idéia nasceu do amor da comunidade. Temos a presença da Assembléia Legislativa, o apoio do Poder Público e da iniciativa privada, que está promovendo o conhecimento técnico-científico sobre o bem. Problemas vão surgir, mas vamos achar soluções", sinalizou.

Alertados pela comunidade sobre a intenção de um grupo empreendedor de construir um condomínio residencial no topo da serra, os deputados Padre João e Laudelino Augusto se comprometeram a enviar ao IEF um documento solicitando a paralisação de todos os processos de licenciamento para obras, desmates ou mesmo para plantações de eucalipto. A comunidade solicitou o mesmo procedimento para toda a área do município, até que o plano diretor fique pronto, o que está previsto para abril de 2007.

O deputado Laudelino Augusto lembrou que a audiência foi solicitada durante o Ciclo de debates sobre a Regularização Fundiária das Unidades de Conservação, realizado pela ALMG no último mês de novembro. "Temos o compromisso de não deixar que isso fique no papel. Mas essa garantia passa mesmo é pela cidadania, pela sociedade organizada", frisou. Padre João, por outro lado, citou que Ouro Branco já viveu um processo de desapropriação de terras, por ocasião da instalação da Gerdau. "Temos que tratar com carinho a questão da desapropriação, que é uma questão afetiva. Mas esse parque garante a preservação e a conservação de riquezas para as futuras gerações", defendeu.

Participaram também da audiência o prefeito de Ouro Branco, Padre Rogério de Oliveira Pereira; o representante do Grupo Guardiães da Serra de Ouro Branco, responsável pela coleta de assinaturas, João Paulo Coutinho; e a secretária de Meio Ambiente de Ouro Preto, Tita Pedrosa. Diversas outras lideranças, políticos e representantes do meio acadêmico também compareceram. A audiência foi encerrada com uma homenagem proposta por Laudelino Augusto a dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana, falecido em 27 de agosto deste ano.

Presenças - Deputados Laudelino Augusto (PT), presidente; e Padre João (PT).

 

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