Autoridades da saúde defendem prioridade no atendimento
básico
A tendência mundial em investir recursos da saúde
para o atendimento básico ao paciente foi tema comum entre os
participantes da reunião desta quarta-feira (6/12/06) da Comissão de
Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O objetivo era
discutir com autoridades do setor e os autores da matéria "Gargalo
na fila da saúde", publicada em 3 de novembro no jornal Estado de
Minas, o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas
Gerais, mas os jornalistas não compareceram. Fato este que foi
lamentado pelo autor do requerimento para o debate e presidente da
comissão, deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), e pelas autoridades
presentes na reunião.
Segundo o parlamentar a mídia é importante para a
construção da consciência crítica dos cidadãos e pode contribuir
para formação de juízo e valores distorcidos. Na reportagem, os
jornalistas buscaram atendimento, simulando serem cidadãos comuns,
em nove postos de saúde de Belo Horizonte, para verificar a
qualidade do atendimento. Entre os problemas constatados, de acordo
com a matéria, estariam a demora no tempo médio de espera por
consulta, de quase quatro horas, e falta de médicos em algumas
equipes do Programa Saúde da Família (PSF). "A matéria levanta
problemas, mas algumas questões não foram tratadas com a seriedade
que o assunto merece. Temos que dar continuidade ao debate para
refletirmos, já que a matéria não é finalística", opinou o
parlamentar.
"Ficamos frustrados depois da matéria porque não
pudemos repercutir o que está constatado. O início da conversa é
admitir que temos problemas, mas que buscamos soluções e estamos
mudando os paradigmas da saúde. Estamos mudando a prática do modelo
assistencial do SUS", afirmou a assessora em Políticas Públicas da
Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Maria Aparecida Turci. Segundo
ela, Belo Horizonte está no "olho do furacão" dessa mudança e uma
das ações foi a implantação, a partir de 2002, do PSF, voltado para
a atenção básica. "O modelo tradicional era e ainda é centrado na
figura médica. E a busca desses jornalistas e da matéria foi por
atendimento médico", ressaltou Maria Aparecida Turci.
Em relação ao atendimento básico de saúde, o
subsecretário de Estado de Políticas e Ações de Saúde, José Maria
Borges, destacou que a área ficou em segundo plano durante muitos
anos, porque foram priorizados investimentos para os hospitais e
equipamentos de alta tecnologia, e que hoje os recursos estão sendo
redirecionados. "A tendência natural é fazer investimentos no
atendimento primário, que pode ser feito nos centros de saúde, e ter
mais resolutividade", ressaltou. Essa opinião foi reforçada pelo
diretor hospitalar da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais
(Fhemig), José Orleans da Costa: "a saída tem sido qualificar a
saúde em casa e ter mais resolutividade". De acordo com o diretor da
Fhemig, 30% das internações feitas atualmente no Estado são de
pessoas que deveriam ter resolvido, em outro tempo, suas questões na
atenção primária.
Reportagem apresenta problemas do setor
Entre os problemas apresentados na reportagem do
Estado de Minas, que foram admitidos pela assessora da PBH,
estão a dificuldade de acesso à informação e a espera por
atendimento médico. Mas Maria Aparecida Turci ponderou que as
pessoas com plano de saúde particular têm dificuldade em marcar,
para o mesmo dia, uma consulta médica. Para o presidente do Conselho
Municipal de Saúde, Robson Tamar da Silva, a matéria apresenta
vícios de todo grande jornal, mas tem seu mérito ao apresentar os
problemas no atendimento do SUS.
De acordo com Robson, o Estado deve repensar a
política de saúde pública e priorizar investimentos. Disse ainda que
a implantação do PSF em Belo Horizonte foi feita de forma apressada
"porque não havia rede equipada para atender, de uma hora para
outra, tantas famílias". Segundo ele, outro gargalo da saúde é a
falta de atendimento médico especializado, e acrescentou: "temos que
valorizar e respeitar os profissionais da saúde". Já o subsecretário
José Maria Borges defendeu que o papel do Estado é dar apoio
financeiro, criar condições de treinamento das pessoas, oferecer
atividades complementares e apoiar os municípios na organização da
saúde.
Importância do SUS - Mesmo
com todos os problemas, a importância do Sistema Único de Saúde para
a inclusão social foi abordada pelos participantes do debate.
"Apesar de todos os constrangimentos ainda existentes no SUS, não há
dúvida quanto ao reconhecimento de que o sistema é o maior programa
de inclusão social do continente, quem sabe do mundo", afirmou José
Maria Borges. Já Robson Tamar Silva disse estar convencido da
importância de defender o SUS "porque ele fomenta a cidadania".
Para José Orleans da Costa, da Fhemig, não existe
setor mais democrático no País do que o da saúde. Mas ele defendeu
aumento de recursos para atender às demandas. O deputado Adelmo
Carneiro Leão destacou os avanços do SUS ao longo dos anos,
afirmando que todos eles eram protagonistas e testemunhas de
mudanças extraordinárias na área da saúde, tanto no aspecto
tecnológico quanto de relações humanas e investimentos.
Presenças - Deputados
Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice; e
Doutor Ronaldo (PDT). Também participou da reunião a chefe de
gabinete da Secretaria Municipal de Saúde, Rosiene de
Freitas.
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