Comissão defende criação de delegacia de desaparecimentos

A garantia de recursos no Orçamento 2007 e a criação de uma delegacia especializada em desaparecimento de crianças e ...

30/11/2006 - 01:01
 

Comissão defende criação de delegacia de desaparecimentos

A garantia de recursos no Orçamento 2007 e a criação de uma delegacia especializada em desaparecimento de crianças e adolescentes foi a proposta da reunião da Comissão Especial das Pessoas Desaparecidas da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta quinta-feira (30/11/06). O encontro, que contou com a participação de representantes das polícias Civil e Militar, do Ministério Público e de parentes de familiares desaparecidos, discutiu a aplicação e regulamentação da Lei 5.432, de 2005, que institui o Sistema de Comunicação e Cadastro de Pessoas Desaparecidas. A lei estipula que os veículos públicos de comunicação impressa, televisiva, radiofônica e eletrônica destinarão espaço para a divulgação dos dados das pessoas desaparecidas. Representantes de oito emissoras de TV, 13 canais de rádio, cinco jornais impressos e dois portais de notícias da internet foram convidados mas somente um desses veículos compareceu à reunião.

O diretor do jornal O Debate Portal de Notícias, Eduardo Carvalhaes Nobre, lamentou a ausência da imprensa, por ser importante fonte de informação para famílias de pessoas desaparecidas. Para ele, o Sindicato dos Jornalistas e as associações Mineira e Brasileira de Imprensa também devem ser convocados para participar das próximas reuniões.

Para o promotor de Justiça da Infância e Juventude, Celso Penna, as pessoas vão continuar desaparecendo se providências urgentes não forem tomadas. Ele disse que o Ministério Público tem mecanismos de cobrar se a lei vem sendo cumprida, e defendeu a criação de uma delegacia específica para crianças e adolescentes desaparecidos, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Para o deputado Sargento Rodrigues (PDT), presidente da comissão, todos os órgãos do poder público e a iniciativa privada devem participar desta mobilização. Ele sugeriu a criação de um departamento específico, dentro da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida do Departamento de Investigação da Polícia Civil, caso não seja possível criar uma delegacia especializada de imediato.

O deputado João Leite (PSDB) pediu a inclusão de um representante do Núcleo de Atendimento às Pessoas Vítimas de Crimes Violentos como membro permanente da comissão especial. Para o deputado, os parlamentares devem participar desta luta garantindo recursos através da apresentação de emendas ao Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) e ao Orçamento 2007. O deputado Adalclcler Lopes (PMDB), vice-presidente da comissão, confirmou a sugestão: ele apresentou emenda ao Orçamento destinando os R$ 600 mil a que tem direito tem direito para investimentos na Secretaria de Estado de Defesa Social.

De acordo com o deputado Durval Ângelo (PT), relator da comissão, o poder público deve promover ações concretas na prevenção desses desaparecimentos, com o cuidado de não causar alarme na sociedade. O deputado questionou se os desaparecimentos têm aumentado e se existe alguma relação com tráfico de órgãos. "As pessoas merecem informações e também enterrar os entes queridos".

Delegada desmente boato do carro preto

A delegada da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida do Departamento de Investigação da Polícia Civil, Cristina Coelli Cicarellli Masson, desmentiu o boato da existência de que carros pretos estariam parados em portas de escolas para seqüestrar crianças. Ela informou que há seis anos o quadro de desaparecimentos está estável e tende a diminuir com a campanha de prevenção "Conviver", que será iniciada até o final do ano.

Cristina Coelli esclareceu ainda outra dificuldade na busca dos desaparecidos. "O desaparecimento não é considerado crime, por isso é apurado dentro de processo administrativo. O inquérito policial somente é instaurado quando surge a suspeita de envolvimento criminoso", explicou. Ela disse que a maioria das pessoas desaparecidas são homens entre 22 e 45 anos de idade, e negou a ligação entre o desaparecimento de pessoas e o tráfico de órgãos. "O que existe é o tráfico de drogas, armas e de pessoas para trabalho escravo e exploração sexual".

O capitão Gedir Chirtian Rocha, assessor de imprensa da Polícia Militar, também lamentou a ausência da imprensa e negou boato com relação aos carros pretos: "Não conseguimos encontrar nenhum desses carros. A imprensa deveria estar presente aqui também para ajudar na divulgação desses fatos que vêm alarmando a sociedade". Ele informou que a PM criou uma comissão encarregada de estudar ações de prevenção na Capital e no interior do Estado.

O senador Hélio Costa foi convidado, não pôde comparecer e mandou representante. O assessor parlamentar dele, Odécio Reis, afirmou que o parlamentar acredita que é obrigação da sociedade, poder público e imprensa trabalhar no combate aos desaparecimentos.

Familiares cobram providências das autoridades

Parentes de desaparecidos cobraram atitude das autoridades. Simone Helena Rodrigues, mãe de Douglas Freitas Ferreira, que teve o filho desaparecido no dia 4 de março de 2006, disse que esperou 48 horas para que a polícia entrasse em ação. "Como posso ter esperança neste momento, se no dia em que meu filho desapareceu viraram as costas para mim?", desabafou.

"Vim a esta reunião dizer que todo parente de pessoa desaparecida tem direito à informação dentro da justiça", afirmou Vânia Lúcia Froes, mãe de Saulo Froes, desaparecido em 20 de agosto de 2005 aos 23 anos de idade, e encontrado morto em 27 de junho deste ano. Ela acredita que a campanha "Volta", do governo do Estado, tem contribuído para a mobilização da sociedade, e defende também a realização de uma varredura, pelas polícias Civil e Militar, em locais sugeridos pelas famílias. "Quando meu filho desapareceu entreguei para a polícia até cartão com o endereço de onde ele foi encontrado morto quase um ano depois", lamentou.

Também estavam presentes Neide Maria Lima Camargos, mãe de Leandro Lima Camargos, desaparecido em outubro deste ano, aos 30 anos de idade; Benoni Prates Beltrão, pai de Pedro Augusto Beltrão, desaparecido em 8 de agosto de 2006, aos 12 anos de idade; Denise Célia de Freitas, tia de Douglas; e Lilian Lema Camargos, irmã de Leandro, todos integrantes permanentes da comissão.

Requerimentos - Durante a reunião, foram aprovados cinco requerimentos, três de autoria da comissão. Um deles pede que seja enviado ofício à presidente do Servas, à secretária de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes, à delegada titular da Delegacia das Pessoas Desaparecidas e à Associação de Familiares e Amigos de Pessoas Desaparecidas convidando para a próxima reunião da comissão. Outro requerimento solicita que seja feito um levantamento estatístico, juntamente com a delegacia especializada, dos desaparecidos nos últimos dez anos em Minas e em outros Estados. O terceiro requerimento da comissão solicita uma audiência com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, para viabilizar parcerias com os órgãos de comunicação para divulgar a situação dos desaparecidos.

Os outros dois requerimentos, do deputado Célio Moreira (PSDB), solicitam que sejam enviados ofícios ao Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência, à Secretaria de Estado da Educação e ao presidente da Associação Mineira de Municípios, convidando também para próxima reunião da comissão.

Presenças - Deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Adalclever Lopes (PMDB), vice-presidente; Durval Ângelo (PT), relator; Célio Moreira (PSDB) e João Leite (PSDB).

 

 

 

 

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