Desapropriações não levam em conta aspectos sociais

O terceiro painel do Ciclo de Debates "Regularização das unidades de conservação do Estado", ocorrido nesta sexta-fei...

24/11/2006 - 01:00
 

Desapropriações não levam em conta aspectos sociais

O terceiro painel do Ciclo de Debates "Regularização das unidades de conservação do Estado", ocorrido nesta sexta-feira (24/11/06) no Plenário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, tratou dos aspectos sociais da regularização. O analista ambiental do Instituto Estadual de Florestas (IEF) Silvério Seabra da Rocha demonstrou que a lógica da propriedade no modelo capitalista é diferente da existente no modelo tradicional, e que isso gera um conflito de difícil solução. Enquanto na lógica capitalista a posse da terra se baseia em documentos registrados em cartório, no modo tradicional esses papéis não existem, pois a posse vem passando de geração para geração ao longo do tempo.

Silvério salientou que é necessário um estudo socioambiental mais bem elaborado que contemple cada situação em particular. Outro problema social gerado pela desapropriação, segundo o analista, refere-se ao fato de as famílias reassentadas muitas vezes não serem capazes de se adaptar a terrenos diferentes.

Outro palestrante que tratou da questão social foi o diretor-geral do Instituto de Terras de Minas Gerais (Iter), Luiz Antônio Chaves. Para ele, ao criar parques e unidades de conservação, o poder público quase nunca levou em conta a realidade das famílias. Somente os aspectos ambientais foram considerados, sustentou. Ele citou como exemplo a criação da reserva biológica da Mata Escura, no Vale do Jequitinhonha, que coloca centenas de famílias de pequenos agricultores quilombolas sob ameaça de remoção.

Para Chaves, qualquer reassentamento deve ser feito de forma a garantir às famílias uma condição de vida melhor que a existente antes. Mas a realidade é outra, e isso tem levado até a reações extremas dos agricultores, que sistematicamente se recusam a permitir que técnicos de órgãos ambientais façam uma avaliação dos terrenos. Essa atitude, segundo ele, se deve ao fato de que essas pessoas já perderam a esperança de receber indenizações justas para deixar suas terras.

Latifúndios - O assessor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Eduardo Antônio Arantes do Nascimento, chamou atenção para o fato de Minas ser um Estado com predominância das grandes propriedades. "Nosso Estado é latifundiário e concentrador de terra", disse. Segundo ele, apenas 20% dos 58 milhões de hectares de área rural estão nas mãos de pequenos agricultores. "É preciso investir em políticas de desconcentração de terras. Com tantos latifúndios, pouco sobrou para as áreas de preservação ambiental e para a agricultura familiar", completou.

O representante da Fetaemg também criticou o processo de criação da Reserva da Mata Escura. "Tomaram várias medidas sem avaliar a pertinência. De que adianta criar área de proteção ambiental se toda a população da região em questão discorda e sequer é ouvida sobre o assunto?", indagou.

Fechando o painel "Aspectos Sociais da Regularização", o engenheiro agronônomo e superintendente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, Affonso Damásio Soares, lembrou que uma nova legislação ambiental deve levar em conta todos os segmentos sociais. "O Estado pode e deve preservar o meio ambiente, mas sem inibir seu potencial produtivo, que, diga-se de passagem, é enorme", opinou.

 

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