Compensação ambiental é fonte única de recursos para UCs

O coordenador do Núcleo de Compensação Ambiental do Instituto Estadual de Florestas (IEF)/Unesco, Ronaldo César Vieir...

24/11/2006 - 01:01
 

Compensação ambiental é fonte única de recursos para UCs

O coordenador do Núcleo de Compensação Ambiental do Instituto Estadual de Florestas (IEF)/Unesco, Ronaldo César Vieira de Almeida, abriu o painel "Fontes de recursos para regularização fundiária", na manhã desta sexta-feira (24/11/06), durante o segundo dia do Ciclo de Debates "Regularização das unidades de conservação do Estado". Em sua apresentação, ele disse que os recursos destinados ao IEF para a aplicação em unidades de conservação (UCs) não são suficientes para promover a regularização fundiária em Minas. Segundo o coordenador, o órgão conta apenas com a compensação ambiental como único instrumento econômico para a manutenção das unidades de conservação e sua respectiva regularização.

A compensação representa de 0,5% a 1,1% do valor de implantação de todos os empreendimentos que geram impacto ambiental no Estado. O valor é definido no licenciamento ambiental pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). De caráter indenizatório, o recurso totalizou R$ 101 milhões no Orçamento de 2006 (sendo 4% destinados às unidades de conservação ambiental); e será de R$ 94 milhões (com aumento para 7% na aplicação em unidades de conservação) no próximo ano. "Tivemos aumento nos repasses, mas diminuição no orçamento. Infelizmente não foi possível disponibilizar mais recursos para o próximo ano, e será preciso participação de todos os setores da sociedade para encontrarmos soluções para o problema", alertou.

O palestrante explicou que a prioridade maior para a aplicação de recursos gerados pela compensação ambiental é a regularização e a demarcação das terras nas unidades de conservação, mas que o montante também deve contemplar os planos de manejo, a aquisição de bens e serviços, os estudos para a criação de novas UCs e os projetos de pesquisa. "Os recursos são poucos e não podem ser considerados como fonte de arrecadação. Afinal, a compensação é uma taxa única que decorre apenas do processo de licenciamento ambiental", lembrou.

Apesar das dificuldades, Ronaldo César Vieira de Almeida apontou resultados satisfatórios na aplicação desses recursos no Estado. A inadimplência no repasse da compensação é zero e dezenas de unidades de conservação são beneficiadas. Entre elas, foram citados 16 parques estaduais, seis estações ecológicas e quatro parques municipais. "Temos que dar mais celeridade ao repasse da receita. Acredito que esse ciclo de debates pode encontrar soluções para o problema, assim como para a questão da regularização fundiária em Minas", concluiu.

Produtores rurais cobram do Estado diálogo e nova postura

A fase de debates foi marcada pelo desabafo de produtores rurais que residem em áreas pertencentes a unidades de conservação e que até agora não foram indenizados pelo Estado. Rita de Oliveira Marques da Silva, de Conselheiro Pena, emocionou-se ao relatar os problemas vividos por mais de 130 famílias em área do Parque Estadual dos Sete Salões, no Vale do Rio Doce. "Muito me dói ver proprietários de 70, 90 anos morrendo de tristeza, de desgosto", disse ela, que cobrou novos debates, nos moldes do evento desta sexta-feira (24), na busca de soluções para o impasse. O parque foi criado há oito anos e até hoje os moradores, que não podem mais trabalhar em suas terras, não foram indenizados. São famílias de Aimorés, Resplendor, Conselheiro Pena, Santa Rita do Itueto e Itueta.

Rita Silva cobrou apoio psicológico para as famílias e se ressentiu do tratamento dado pela legislação aos produtores. "Somos tratados como infames, como bandidos. Não protestamos contra a criação dos parques, mas queremos atenção com o ser humano. As autoridades devem buscar o diálogo conosco, ouvindo as necessidades daqueles que vivem há anos nesses locais, contribuindo para sua preservação", desabafou.

Ela foi apoiada pelo apicultor Marcos Gonçalves Amorim, de Baependi, no Sul de Minas, que reside em área na Serra do Papagaio. Ele e os demais integrantes da Associação de Moradores da Alta Mantiqueira têm propriedades que representam 25% da área total do parque, destacou. Para Amorim, o Estado promoveu uma apropriação administrativa das terras, sem pagamento de indenização. "O Estado não está sendo bom pagador", disse, taxativo. Os proprietários de terra do Parque da Serra do Papagaio sugerem a criação de reservas particulares do patrimônio natural como forma de permanecerem no local.

Apoio - Os deputados Laudelino Augusto (PT), autor do requerimento do ciclo de debates, e Paulo Piau (PPS), que presidiu o painel da manhã, apoiaram as falas dos produtores rurais. "É preciso avançar na relação Estado e sociedade. Essa relação não pode ser injusta ou de medo, mas sim de parceria", acompanhou o deputado Paulo Piau, para quem o ciclo de debates e a pressão social legítima podem ser instrumentos de mudança, transformando em prioritária a questão das UCs. "A razão de ser do Estado é exercer o poder que emana do povo em benefício do próprio povo", ressaltou o deputado Laudelino Augusto. Ele também defendeu mudanças no padrão de relacionamento entre Estado e sociedade, em prol da preservação ambiental e da justiça social.

Fala do governo - O consultor jurídico do IEF/Promata/KFW, Charles Alessandro Mendes, respondeu algumas críticas, entre elas a de que as leis são duras com os pequenos produtores que residem há anos nas áreas das UCs. Ele lembrou que a legislação sobre o assunto é federal e lamentou casos como o de Rita Silva. Acrescentou, por outro lado, que o direito de propriedade hoje não é imaculado e que, se há pessoas cuidando do meio ambiente, existem outras não preservando as unidades de conservação. Ele acatou o alerta feito pelos proprietários rurais e enfatizou que o IEF quer compatibilizar a preservação do meio ambiente com a justiça social.

Cemig defende recursos orçamentários para a regularização e mudanças na legislação

O gerente de Avaliação e Licenciamento Ambiental da Cemig, Ênio Marcus Brandão Fonseca, elogiou o fato de a compensação ambiental ser utilizada para a regularização das unidades de conservação, afirmando que a legislação existente no Brasil não tem similares no mundo. "É uma opção de medida mitigadora, uma saída brilhante do legislador brasileiro para atender às necessidades da sociedade", analisou. Apesar disso, ele criticou a adoção da compensação ambiental como única fonte de recursos para a regularização das UCs, sugerindo que é preciso alocar recursos no Orçamento para essa tarefa.

Ênio Fonseca defendeu mudanças na legislação existente. Entre elas, que se implemente lei similar à de Incentivo à Cultura, a fim de angariar mais recursos para a regularização das UCs; e que sejam instituídos benefícios concretos para as áreas protegidas por particulares. "Não adianta uma lei com o propósito de impedir que o proprietário rural mexa nas áreas protegidas, sem que haja um mecanismo de compensação financeira", alertou. Por fim, o representante da Cemig - que possui 5 mil hectares em unidades de conservação - afirmou que o setor elétrico já dá uma grande contribuição para as UCs. Ao mesmo tempo, queixou-se da alta carga tributária paga pelo segmento: segundo Fonseca, de 51,56% do faturamento, incluindo os encargos setoriais.

Ata da reunião e transmissão pela TV - A ata com todo o conteúdo do ciclo de debates será publicada no diário oficial "Minas Gerais"/Diário do Legislativo do dia 2 de dezembro. A TV Assembléia (canal 11 do sistema a cabo) transmitirá a programação da noite do dia 23 no dia 8 de dezembro, às 8h30. A programação da manhã do dia 24 irá ao ar no dia 9 de dezembro e a da tarde do dia 24, no dia 10 de dezembro. As reprises serão sempre às 8h30.

 

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