Célio Valle pede repasse de R$ 40 milhões/ano para questão fundiária

A destinação anual de pelo menos R$ 40 milhões no Orçamento do Estado para serem usados exclusivamente na regularizaç...

24/11/2006 - 01:01
 

Célio Valle pede repasse de R$ 40 milhões/ano para questão fundiária

A destinação anual de pelo menos R$ 40 milhões no Orçamento do Estado para serem usados exclusivamente na regularização fundiária das unidades de conservação (UCs) foi defendida pelo diretor de Pesca e Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF), professor Célio Valle, nesta quinta-feira (23/11/06), durante palestra de abertura do Ciclo de Debates "Regularização fundiária das unidades de conservação", na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Para Valle, essa rotina é a bandeira mais importante para os ambientalistas. "Esses recursos não podem ser contingenciados. O resto a legislação segura", frisou.

Ambientalista apaixonado, Valle exemplifica que o parque em fase de criação em Grão Mogol, no Norte de Minas, abriga um tipo de cactus aparentemente inútil, mas que não existe em nenhum outro lugar do planeta. "A penicilina veio de uma planta. E a evolução ainda não terminou. Quem me garante que uma capivara não será essencial no futuro? Eu tenho o direito de destruir isso? Somos ligados de maneira física a plantas e bichos, e isso não é poesia. A natureza protegida é condição para que o homem viva", afirmou.

Para Valle, grandes áreas protegidas são a solução para plantas e bichos. Fazendo um paralelo com uma rede, ele argumenta que as UCs são os nós que sustentam a rede, enquanto as pessoas habitam os vazios. Segundo o diretor do IEF, se o homem acreditar que é importante resolver o problema da propriedade da terra para animais e plantas, tomará a decisão de investir, decisão essa a cargo dos poderes públicos. "O meu orçamento diz onde está meu coração. Essa reunião de hoje talvez seja histórica. Espero ver, todo ano, uma verba aprovada por essa Casa para as unidades de conservação", defendeu.

UCs representam menos de 10% da área explorada pela agricultura

Informações do IEF apontam que as unidades de conservação de Minas Gerais, inseridas no grupo de proteção integral (estação ecológica, reserva biológica, parque, monumento natural e refúgio da vida silvestre) ocupam 375 mil hectares, demandando quase R$ 417 milhões para a regularização fundiária. Já a área do Estado efetivamente explorada com reflorestamento, agricultura e pastagem soma quase 38 milhões de hectares.

Célio Valle argumenta que a área protegida parece grande, mas está longe de chegar, por exemplo, aos 727 mil hectares de lâmina d'água das hidrelétricas mineiras. "Uma onça precisa de 50 mil m2 para viver", completa. O professor faz comparações também com recursos destinados a outras causas no Estado. Segundo ele, a Usina de Irapé demandou R$ 1 bilhão, enquanto cada quilômetro de estrada asfaltado no programa Pró-Acesso custa R$ 300 mil. "Será que nossos filhos e netos não merecem receber uma natureza protegida?", pondera.

Questão social permeia regularização das unidades

Falando para a platéia composta, inclusive, por proprietários de terras transformadas em parques, que convivem com as incertezas do processo de regularização fundiária, o professor Célio Valle defendeu que as pessoas recebam um valor justo pela terra e que sejam levadas para um lugar melhor. De outra forma, segundo ele, seria uma injustiça tirá-las da terra para deixar o lugar para plantas e bichos. "Enquanto a unidade de conservação for considerada um invasor, é impossível defendê-la. Isso só se resolve comprando a terra e pagando corretamente. Com dinheiro, é possível fazer", afirmou.

Debate - Na fase de debates, representantes de ONGs e associações de moradores se manifestaram, preocupados com a questão. Um deles, Jesuilton José Gonçalves, presidente de uma associação de quilombolas de Matias Cardoso, no Norte do Estado, viajou cerca de 700 quilômetros para relatar, no Plenário da Assembléia, a situação de sua comunidade, que faz fronteira com um parque. "Querem comprar metade das terras e inundar outra parte. Então por que não compram tudo?", questionou.

O procurador Afonso Henrique de Miranda Teixeira, coordenador da Procuradoria de Conflitos Agrários do Ministério Público, observou que se a criação de UCs gerar exclusão social, a problema da conservação permanece. "O motor da exclusão social é o mesmo da degradação ambiental", concordou o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho. Já o deputado Laudelino Augusto (PT), autor do requerimento para a realização do ciclo de debates, lembrou que os quilombos têm legislação especial no País.

Moradores de Grão Mogol, cidade cujo parque foi criado em 1998 mas ainda não efetivado, também reclamaram da exclusão de 150 famílias, assim como agricultores da região dos parques Sete Salões e Serra do Papagaio. Para este último, localizado no Sul de Minas, os proprietários de terra sugeriram a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural como forma de permanecerem no local. "O maior problema é o de comunicação entre o poder público e os moradores", afirmou Fábio Costa, do Instituto Alma da Terra. "Cuidamos de um lugar onde o Estado não está presente e somos tratados como inimigos", reforçou Guilherme Figueiredo, proprietário de uma pousada que chegou a ser fechada no ano passado.

Laudelino Augusto lembrou que a audiência pública sobre o Parque Estadual da Serra do Papagaio, realizada pela Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais em maio deste ano, foi justamente o ponto de partida para a realização do ciclo de debates. "Os depoimentos confirmam a urgência dessa discussão", avaliou.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715