Nova Serrana já se preocupa com invasão do calçado chinês

A falta de encomendas para o próximo ano leva o setor calçadista de Nova Serrana, Centro-Oeste mineiro, a temer pela ...

14/11/2006 - 01:01
 

Nova Serrana já se preocupa com invasão do calçado chinês

A falta de encomendas para o próximo ano leva o setor calçadista de Nova Serrana, Centro-Oeste mineiro, a temer pela sobrevivência das 854 fábricas instaladas na cidade. A situação pode ser reflexo da entrada dos calçados chineses no País, segundo especialistas. Santo Antônio do Monte, na mesma região, maior produtora de fogos de artifício do Brasil, com 98% da produção brasileira, já amarga os efeitos dessa concorrência: 2 mil empregos foram perdidos desde o ano passado. O impacto dos produtos chineses nos dois segmentos foi discutido nesta segunda-feira (13/11/06), em Nova Serrana, pela Comissão Especial contra a Invasão dos Produtos Chineses da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, a requerimento do deputado Paulo Cesar (PDT), relator da comissão.

Se a concorrência chinesa ainda não afetou diretamente o setor calçadista de Nova Serrana, números da importação dos produtos da China mostram que o perigo está perto. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados da cidade, Júnior César da Silva, este ano já houve uma redução de 5% na produção. Enquanto em 2000 foram importados 3 milhões de pares de sapatos daquele país, somente no primeiro semestre de 2006 este número pulou para 11 milhões de pares. A permanecer a atual situação, de câmbio baixo, protecionismo extremo do governo chinês, carga tributária alta no Brasil, o que torna a competitividade do produto brasileiro em níveis próximos de zero, "nossa indústria está fadada a fechar", garante Júnior Silva.

Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados e Complementos de Belo Horizonte e Região, Rogério Jorge de Aquino, lembrou que a luta dos empresários agora é a mesma dos trabalhadores. "É preciso uma denúncia junto à Organização Internacional do Trabalho (OIT) quanto às condições de trabalho na China. A massa trabalhadora vive condições de servidão, por isso a mão-de-obra de lá pode concorrer com o resto do mundo", acrescenta.

Em três anos, as exportações chinesas de calçados para o Brasil cresceram 47%, com o faturamento saltando de U$ 12,9 bilhões para U$ 19 bilhões. A produção interna neste período foi de apenas 2,7%. Esses números foram apresentados pela consultora da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Marta Lassance. O calçado brasileiro custa U$ 9, enquanto o chinês tem custo de U$ 5,50. Nova Serrana é a maior produtora de tênis do País, tendo produzido 77 milhões de pares no ano passado, o que gerou uma receita de ICMS para o Estado de R$ 600 milhões. A indústria calçadista da cidade é responsável por 41 mil empregos diretos e indiretos.

Fogos de artifício enfrentam pirataria mais complexa

O pólo de produção de fogos de artifício de Santo Antônio do Monte, que congrega oito cidades, conta com 74 indústrias de pólvora, miudezas e fogos, e é responsável por 5 mil empregos diretos e 15 mil indiretos. Mas a concorrência chinesa já levou à perda de 2 mil postos de emprego.

Segundo o presidente do Sindicato de Explosivos de Minas Gerais, Américo Libério da Silva, o setor vive uma situação muito complexa, com todo tipo de pirataria, incluindo a importação de produtos semiacabados (o que é expressamente proibido pela legislação nacional), com a rotulagem do produto sendo feita no País, como forma de burlar a fiscalização.

Em 2000 foram importados 266 quilos de fogos da China e em 2005, houve um pulo para 315.531 quilos, de acordo com Américo Libério. "É difícil sobreviver desta forma. O Brasil tem a maior carga tributária, a maior quantidade de órgãos fiscalizadores sobre o produto nacional. É difícil concorrer com um produto que não tem nenhum critério técnico de produção", desabafou Américo. Em sua avaliação, 80% do que a China produz é lixo, "e é isto que está vindo para cá". Para Marta Lassance, a solução é uma fiscalização feita pelo Exército, com o uso dos mesmos critérios técnicos exigidos para o produto brasileiro.

Sugestões - Representantes dos sindicatos, da Câmara de Diretores Lojistas da cidade e da Fiemg sugeriram a intensificação da fiscalização nas fronteiras; que a taxação pela Receita Federal seja de acordo com o custo do similar brasileiro, mesmo que a nota fiscal traga preço menor; a definição de cotas de importação, a exemplo do que já foi feito pelo setor de brinquedos; uso de critérios técnicos iguais aos exigidos dos produtos brasileiros. Para o setor de fogos, foi sugerida ainda a criação de um incentivo para a fiscalização, com o objetivo de desestimular a corrupção nas barreiras alfandegárias.

O deputado Paulo Cesar manifestou preocupação com as importações chinesas, mesmo reconhecendo que a cidade ainda não foi afetada. Produtor de calçados há 30 anos, garantiu ao auditório lotado com mais de 400 presentes, sobretudo calçadistas, que irá procurar outras assembléias legislativas para que seja criada uma frente parlamentar nacional, com o objetivo de pressionar o governo federal. Ele informou que muitas sugestões já foram aproveitadas e encaminhadas à Secretaria de Estado da Fazenda e que com o relatório pronto, a comissão irá a Brasília entregar os resultados e sugestões ao Ministério da Fazenda.

O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), presidente da comissão, destacou a importância da mobilização de todos os segmentos afetados, insistindo para que todos participem com sugestões, para enriquecer os trabalhos da comissão. Para ele, depois de terem sido ouvidos vários segmentos, as queixas são as mesmas: condições desiguais de competitividade, enquanto a preocupação também é a mesma: a manutenção dos empregos brasileiros.

Presenças - Deputados Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), presidente; Paulo Cesar (PDT), vice-presidente e relator. Também participaram da reunião o vice-prefeito de Nova Serrana, Walter Lúcio de Freitas; Antônio Afonso Gonzaga, da Fiemg Regional Centro-Oeste; Dário Antônio faria Filho, da CDL; Luiz Aleixo Barcelos, presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Minas Gerais; e Gilmar Teodoro, prefeito de Perdigão.

 

 

 

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