Setores óptico e de refratários pedem redução de tributos

Dois dos setores industriais atingidos pela concorrência de produtos chineses, o ótico e o de refratários, foram ouvi...

24/10/2006 - 00:01
 

Setores óptico e de refratários pedem redução de tributos

Dois dos setores industriais atingidos pela concorrência de produtos chineses, o ótico e o de refratários, foram ouvidos pela Comissão Especial Contra a Invasão de Produtos Chineses da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta terça-feira (24/10/06). Com queixas generalizadas sobre a concorrência desleal da China e os reflexos na indústria mineira, como perda de mercado, desemprego e falência, os participantes sugeriram medidas imediatas ao alcance do governo do Estado, como a redução da carga tributária.

A comissão foi criada para estudar os reflexos da concorrência dos produtos chineses, a requerimento do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que a preside. A audiência desta terça foi solicitada por ele e pelo deputado Paulo Cesar (PDT), vice-presidente e relator da comissão. Já foram ouvidos, na primeira audiência, na última terça (17), os setores têxtil e de vestuário.

Destacando as práticas comerciais predatórias da China, alicerçadas em subsídios, desoneração, mão-de-obra barata e até dumping (comércio baseado em preços irreais de venda, menores do que o custo de produção de um artigo, e condenado pela Organização Mundial do Comércio - OMC), os empresários pediram soluções rápidas. Entre elas, uma mudança tributária para os setores mais atacados, a valoração aduaneira (preços mais próximos dos reais, colocados pela Receita Federal, na entrada de produtos importados) e regulamentação de leis que já protegem alguns setores, como o óptico.

Indústria óptica é uma das mais atingidas

Concorrendo com produtos até 90% mais baratos, o setor óptico amarga os reflexos da concorrência na desestruturação do mercado, com o fechamento de fábricas e o desemprego. Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Ótico de Minas Gerais, Paulo Cançado Gonçalves, o País já chegou a ter 300 fábricas de armações e hoje tem apenas 35. Cerca de 80% dos produtos comercializados no Brasil são importados. O produto chinês chega ao País a R$ 0,80 o quilo. Ainda segundo Paulo Cançado, o contrabando de óculos no Brasil saltou de 29,3% em 2000 para 55% em 2005. Enquanto foram importados 45 milhões de óculos chineses no ano passado, a indústria nacional produziu apenas 2 milhões de unidades.

Em Minas são 4.470 óticas que empregam cerca de 19 mil pessoas diretamente. Os empresários querem que se cumpra a Lei 15.177, de 2004, de autoria do deputado Dalmo Ribeiro Silva, que permite a comercialização de produtos ópticos somente em estabelecimentos credenciados, "porque óculos é problema de saúde pública", enfatizou Régis Lobato, do Sindiótica.

Refratários - Minas Gerais é o maior produtor de refratários do Brasil, produtos que entram na composição da indústria de aço, vidro e cimento, e que no momento teme a expansão do setor siderúrgico nacional, ancorada sobretudo nos produtos chineses. Segundo o vice-presidente da Indústria de Refratários, Aníbal Camilo Togni, o componente chinês está chegando ao Brasil 60% mais barato. O setor emprega 165 mil pessoas diretamente e 20 mil indiretamente, é responsável por um faturamento anual de R$ 1,5 bilhão e está entre os dez maiores contribuintes de impostos em Minas Gerais.

Segundo a assessora da mesma entidade, Viviane Barreto Lamego, o Brasil não protege sua indústria, destacando que na Europa, onde está a maior indústria de refratários do mundo, foi colocada uma alíquota de importação de 55%. "O que nós pedimos ao Ministério da Indústria e do Comércio foi a taxação dos produtos chineses pela alíquota especial permitida pela OMC, que é de até 35%".

Representantes da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) pediram união de todos os segmentos mais prejudicados com a concorrência. E sugeriram uma pressão junto aos parlamentares federais para a aprovação de uma reforma tributária que contemple, a longo prazo, a questão das taxações, alíquotas e impostos.

Visita à Secretaria da Fazenda - A comissão visita o secretário de Estado da Fazenda, Fuad Noman, nesta quarta-feira (25), para levar as primeiras reivindicações das audiências, como a redução de alíquotas e o uso de crédito de ICMS. O deputado Dalmo Ribeiro lembrou outra vez as dificuldades que setores tradicionais mineiros, como o têxtil, de vestuário e calçadista, vêm sofrendo. Para ele, não se deve esperar que o problema seja resolvido em nível nacional. "Precisamos fazer alguma coisa no Estado e esta comissão dá os passos nesta direção".

O deputado disse que vai apresentar um requerimento pedindo a regulamentação da Lei 15.177 até o final do ano. E lembrou que a Assembléia já conseguiu, por meio de projetos, reduzir a carga tributária para vários setores, como moveleiro, vinicultura, cerâmica e sabonetes. "Nossa casa está indo ao encontro das aspirações do empresariado, que é o maior vetor do desenvolvimento e criação de empregos". Sobre a invasão dos produtos chineses, o presidente disse que já enviou requerimentos aos ministérios da Fazenda, das Relações Exteriores e da Indústria e Comércio, solicitando adoção de medidas de defesa social e criação de subsídios para os estados afetados.

O relator da comissão, deputado Paulo Cesar, disse que espera a contribuição dos empresários e técnicos para seu relatório e lembrou mais uma vez as dificuldades do setor calçadista. "Sou empresário do setor há 30 anos e nunca vimos uma crise igual. Em Franca (SP) e no Rio Grande Sul, já se fecharam várias indústrias e a quebradeira está chegando agora a Nova Serrana".

Presenças - Deputados Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), presidente; Paulo Cesar (PDT), vice e relator; e Jayro Lessa (PFL). Além dos convidados citados na matéria, participaram ainda o presidente do Conselho Regional de Óptica e Optometria, Édmo de Oliveira; assessores da Fiemg e o presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário, Michel Aburachid; entre outros.

 

 

 

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