Concorrência desleal de chineses une empresários e parlamentares

Na primeira audiência pública da Comissão Especial Contra a Invasão dos Produtos Chineses da Assembléia Legislativa d...

17/10/2006 - 00:03
 

Concorrência desleal de chineses une empresários e parlamentares

Na primeira audiência pública da Comissão Especial Contra a Invasão dos Produtos Chineses da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, os participantes reclamaram da concorrência desleal da China e sugeriram a criação de uma frente multipartidária para pressionar o governo federal a mudar a política para o setor. A audiência foi realizada nesta terça-feira (17/10/06), a requerimento do presidente da comissão, deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB). A comissão foi criada para estudar, num prazo de 60 dias, os reflexos na economia mineira das importações dos produtos chineses.

E os reflexos já são sombrios, segundo depoimento da presidente do Conselho de Relações Econômicas Internacionais da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Martha Teixeira Lassance. Segundo ela, apesar do discurso governamental de aumento das exportações de produtos brasileiros para a China, a importação de produtos chineses pelo Brasil tem sido muito maior e "extremamente danosa, tornando o crescimento brasileiro irreal, com base num mercado interno ancorado nas importações e não no fortalecimento do parque industrial nacional".

Martha Lassance exemplificou com algumas estatísticas nacionais para demonstrar que há um processo em curso de desmonte do parque industrial brasileiro, que começou com os setores calçadista e têxtil e avança rapidamente para outros, como brinquedos, máquinas e equipamentos, ótico e eletroeletrônico. Segundo números passados à comissão, um exemplo é o setor de vestuário, que registrou crescimento nas importações de 400% no primeiro semestre de 2006, em comparação com o mesmo período de 2003, e que teve queda na produção interna de 25% neste período. "Mesmo com setores que registraram crescimento, como o de autopeças, que cresceu 38% neste mesmo período de análise, o desequilíbrio é grande, já que as importações aumentaram 1.115%". Além disso, os números referem-se a importações legais, segundo Martha Lassance, sem considerar a pirataria. E as exportações brasileiras para aquele país são só de comoditties, porque a China não aceita produtos industrializados", acrescentou.

A comissão vai ouvir outros setores além do têxtil e calçadista, como brinquedos e máquinas. Segundo o deputado Dalmo Ribeiro Silva, dados recentes demonstram a urgência de medidas concretas. "Conforme estatísticas oficiais, as indústrias têxteis e de confecção brasileiras concorrem com a entrada de produtos com preços que se aproximam de um quarto do valor pago nas importações pelos Estados Unidos. O mesmo tecido chinês que chega à Argentina por U$ 20 a tonelada está entrando no Brasil por apenas U$ 2,50".

Para o deputado, o problema mais sério está no setor de vestuário, "que apesar de ser aquele que mais tem capacidade de geração de postos de trabalho, dentro de toda a indústria de transformação, foi o que sofreu maior impacto, com a extinção de mais de 260 mil empregos desde 2002".

Sindicato pede acordos bilaterais

Representando um setor que emprega cerca de 800 mil pessoas no Estado (dos quais 200 mil são empregos diretos), o presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem (SIFT-MG), Aguinaldo Diniz Filho, pediu três coisas: uma política nacional de acordos comerciais bilaterais, fugindo do modelo atual de comércio de bloco (Mercosul, por exemplo); o combate às práticas desleais de comércio praticadas pela China, baseadas em políticas protecionistas daquele país; e a desoneração da indústria de confecção, como forma de fortalecer o setor têxtil.

Assim como Aguinaldo Diniz, outros participantes destacaram que o Brasil está gerando emprego e renda na China, como o presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas de Minas Gerais (Sindimalhas), Flávio Roscoe Nogueira. O dirigente classista sugeriu a criação de uma frente multipartidária para atuar junto ao governo federal e a criação de uma legislação, numa parceria entre Executivo mineiro e Assembléia, que permita o socorro a setores da economia que sofram ataques de mercados externos. O presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário (Sindivest), Michel Aburachid, foi mais enfático ainda: "Empresários mineiros e brasileiros estão transferindo suas fábricas para a China e ajudando o governo daquele país a explorar os trabalhadores chineses".

Uso de créditos de ICMS

O deputado Jayro Lessa (PFL) sugeriu, acompanhado pelos presidentes de entidades e demais deputados, o uso de créditos de ICMS para pagamento de taxas estaduais, como contas de luz. Os créditos de ICMS são gerados em situações de pequena margem de lucro das empresas. O presidente da comissão, Dalmo Ribeiro Silva, pediu ao representante da Secretaria da Fazenda, Antônio Caetano Lemos, assessor de legislação tributária, uma reunião com o titular da secretaria para negociar os créditos de ICMS, "o que já seria um resultado prático da comissão", na avaliação dos deputados e do presidente do SIFT-MG. Antônio Caetano enfatizou a impotência do Estado diante do problema com as importações, lembrando que qualquer solução está na esfera federal, mas adiantou que a Secretaria da Fazenda está disposta a engrossar as fileiras para alterar a situação.

O relator da comissão, deputado Paulo Cesar (PDT), destacou que além das contribuições dos convidados, espera sugestões de outros segmentos para seu relatório. E salientou a profunda desestruturação do setor calçadista, devido à concorrência do produto chinês. "Acompanho este setor há mais de 30 anos, já que minha cidade, Nova Serrana, tem sua economia baseada nessa indústria e esta é a pior crise que enfrentamos".

O deputado Doutor Viana (PFL) culpou o governo federal pela "catástrofe da economia brasileira", com a legalização do comércio com a China (reconhecimento do país como economia de mercado pelo governo brasileiro), e o fechamento de olhos diante da pirataria. A comissão aprovou requerimento do deputado Dalmo Ribeiro Silva convidando para terem participação permanente na comissão, além dos sindicatos já citados, o Sindicato Calçadista de Nova Serrana (Sindinova) e o Sindicato das Indústrias Mecânicas (Sindimec).

Presenças - Deputados Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), presidente; Paulo Cesar (PDT), vice e relator; Doutor Viana (PFL) e Jayro Lessa (PFL). Além dos convidados citados, participaram da audiência ainda: Marco Antônio Branquinho Júnior, gerente de RH da Companhia Cedro Cachoeira; José Canuto de Oliveira, diretor da Têxtil, Indústria e Comércio Ltda (Tear); Vitor Mascarenhas Borges, diretor da Cedro Cachoeira; e Pollyiane Lessa Boczar, diretora executiva da Horizonte Têxtil Ltda.

 

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