Comissão investiga mortes de bebês em Poços de
Caldas
O elevado número de óbitos de recém-nascidos em
dois hospitais de Poços de Caldas levou a Comissão de Direitos
Humanos a realizar audiência pública na cidade. No primeiro semestre
de 2006, 12 bebês morreram na Santa Casa local; e outros quatro, no
Hospital Pedro Sanches. Os deputados Durval Ângelo (PT), presidente
da comissão; Rogério Correia (PT), autor do requerimento para o
encontro (PT); e Laudelino Augusto (PT), integrante da Frente
Parlamentar de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da
ALMG, ouviram, na manhã desta quarta-feira (6/9/06), relatos
emocionados de pais e outros parentes das crianças. Eles alegam
negligência no atendimento, falta de informação e até maus tratos
dos profissionais de saúde.
"O que nos chamou atenção foi o elevado índice de
mortes em situações estranhas. Na maioria dos casos relatados, o
pré-natal se deu normalmente, mas os bebês, antes ou logo após os
partos, morreram em circunstâncias mal explicadas pelos médicos. Por
isso resolvemos acionar as autoridades", explicou o presidente do
Conselho Tutelar da Criança e Adolescente de Poços de Caldas, Marcos
Cardinalle Calle.
Em dois casos, houve até erro na informação do sexo
dos bebês. "Sempre que íamos ao médico, ele nos garantia que estava
tudo correndo bem. Na hora de fazer o parto, descobrimos que o neném
estava morto. Além disso, foi-nos informado que era menina, mas veio
um menino", contou, emocionado, Rodrigo Lourenço, pai de uma das
crianças mortas.
Já Daniel de Oliveira reclamou do erro na contagem
do tempo da gravidez de sua esposa. Quando foram completados nove
meses de gravidez, fomos sete vezes à Santa Casa e nos mandaram
voltar, alegando que não estava na hora ainda de o bebê nascer.
Quando resolveram fazer a cesárea, meu filho estava morto.
Inicialmente, no entanto, me informaram que a criança nascera com um
problema no coração e por isso tinha sido levada para a UTI",
relatou, indignado.
A diretora da Santa Casa, Regina Maria Cioffi, que
é irmã de um dos médicos acusados de negligência e mau atendimento,
alegou que o número de óbitos é normal, levando-se em conta o porte
da cidade. Segundo ela, em 2005, houve 33 mortes de recém-nascidos
em Poços de Caldas; em 2004, foram 38. "A Santa Casa é o único
centro de saúde da região contar com UTI neonatal e o único que
recebe casos de urgência e alto risco".
Os deputados, no entanto, questionaram a inércia da
direção da instituição em apurar os fatos. "Os casos eram públicos e
notórios e haviam sido amplamente noticiados pela imprensa, mas a
direção não tomou nenhuma providência", argumentou Durval
Ângelo.
Diante disso, o deputado Rogério Correia apresentou
dois requerimentos: o primeiro solicitando que o Conselho Regional
de Medicina apure a possível falta de ética dos profissionais; e o
segundo, pedindo uma auditoria com participação do MP e CRM na Santa
Casa local.
A comissão também vai enviar as notas taquigráficas
da reunião, com os depoimentos do pais das crianças, ao Ministério
Público e à Polícia Civil, que estão investigando os casos.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente da comissão; Laudelino Augusto (PT) e
Rogério Correia (PT); o promotor Eduardo Bustamente; o delegado de
polícia Carlos Augusto Camargos; o presidente do Conselho Tutelar
dos Direitos da Criança e do Adolescente, Marcos Cardinalle; a
diretora técnica da Irmandade do Hospital da Santa Casa, Regina
Maria Cioffi; a vereadora Gláucia Costa Barreto; e o prefeito de
Poços de Caldas, Sebastião Navarro.
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