Programa de defesa sanitária é defendido em reunião
conjunta
Implementar um programa de defesa sanitária em
Minas Gerais para erradicar a febre aftosa e respaldar as
negociações para o comércio de carne bovina com a Comunidade
Econômica Européia (CEE). Essa foi a sugestão do deputado Domingos
Sávio (PSDB) durante reunião conjunta das Comissões de Fiscalização
Financeira e Orçamentária e de Política Agropecuária e
Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada
nesta quarta-feira (6/9/06). A audiência teve o objetivo de debater
os efeitos da Portaria do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA)
129/1994, que impede 288 municípios do Estado de exportarem carne
bovina para 25 países da CEE, que compram 30% da carne brasileira. O
rebanho chega a 5 milhões de cabeças.
Carmo da Mata - De acordo
com o deputado, o programa seria desenvolvido pelo IMA, em parceria
com o Ministério da Agricultura, os sindicatos rurais e as
prefeituras, nos moldes do trabalho pioneiro realizado em Carmo da
Mata, onde todas as propriedades do município foram visitadas e o
controle sanitário vistoriado pelo Sindicato Rural e pelo IMA. "Se
mesmo com a implantação de um programa modelo a recusa da Comunidade
Européia em comprar a carne brasileira persistir, o caso deveria ser
levado à Organização Mundial de Comércio", argumentou o deputado,
que acredita que o problema não é só científico, mas também político
e econômico.
Deputado acredita que portaria não se justifica
mais
O deputado Domingos Sávio também comentou a
Portaria 129/1994. De acordo com ele, a norma
foi expedida dentro de um contexto que justificava sua publicação,
já que a região citada, naquele momento, não tinha condições ideais
de pleno controle da aftosa, em função de focos da doença ocorridos
no Estado em 1990. Porém, o parlamentar lembra que já se passaram
mais de dez anos. "Houve investimentos incontestes do IMA e também
de produtores, sem novos focos de aftosa. Esse tratamento é perverso
e injusto", argumentou. Para Domingos Sávio, embora a liberação
dependa de acordo com a Comunidade Econômica Européia (CEE), o
assunto tem que ser debatido em Minas.
"Vacinamos com o mesmo critério, temos as mesmas
despesas e investimentos e não temos doença no rebanho. Mas, quando
vamos vender o boi gordo, nosso preço chega a ser até 20% mais baixo
do que o do boi de outra área, criado nas mesmas condições
sanitárias e ambientais", reclamou Domingos Sávio, também médico
veterinário e produtor rural. O parlamentar citou que, enquanto a
arroba de carne vendida aos frigoríficos exportadores custa entre R$
52,00 e R$ 53,00, a carne da região atingida pela Portaria 129/1994
é cotada a R$ 43,00.
Por outro lado, de acordo com Domingos Sávio, o
preço ao consumidor nas regiões com barreira não é menor. "O mercado
interno já está sendo punido, e alguém está levando vantagens com
isso", afirmou. Segundo ele, há frigoríficos que querem a manutenção
da barreira, justamente para comprar a carne mais barata, lucrando
mais. Já os frigoríficos exportadores, ainda segundo Sávio, querem
que a situação seja revista, para que possam ter um aumento da
oferta do produto, o que permitiria a abertura de novos mercados
para exportação.
Segundo Domingos Sávio, o ex-ministro da
Agricultura, Roberto Rodrigues, havia manifestado sensibilidade para
com o caso, embora argumentasse que os recentes surtos da doença em
outras regiões do Brasil tiraram do País as condições para pedir à
Comunidade Européia a revisão das barreiras sanitárias. "Essa
situação está sendo usada como barreira comercial. Temos que levar
uma posição clara de Minas e ser mais agressivos com o parceiro
comercial", defendeu Domingos Sávio. Ele salientou que estados do
Sul do Brasil estão querendo rever barreiras, mesmo tendo sofrido
com a aftosa no ano passado.
Ministério nega impedimento da exportação
O chefe de Serviço de Sanidade Agropecuária do
Ministério da Agricultura, José de Oliveira Mascarenhas Júnior,
afirmou que não existem, por parte do ministério, proibições quanto
ao trânsito de bovinos de áreas não habilitadas e nem quanto ao
abate desse gado para o consumo interno. "As restrições são
colocadas pela própria Comunidade Européia. O ministério apenas
estabelece algumas regras de controle, como a quarentena", explicou.
O diretor-geral do IMA, Altino Rodrigues Neto, alegou que a regra da
quarentena inviabiliza a exportação porque, de acordo com essa
exigência, o proprietário teria que ter outra propriedade para
deixar o rebanho.
Segundo o diretor do IMA, as exigências para a
exportação trazem prejuízo econômico para o produtor. Ele citou o
caso de um produtor do município de Formiga que precisou gastar
quase R$ 200 mil para rastrear o rebanho que seria entregue ao
frigorífico de exportação. "Não é só o Brasil que precisa vender a
carne, o mercado internacional também precisa da carne brasileira,
que tem boas condições de preço e qualidade sanitária", afirmou.
O representante do Ministério da Agricultura, José
de Oliveira, entende que enquanto não for feito um trabalho de
defesa sanitária nos países que fazem fronteira com o Brasil, o
risco de contaminação dos rebanhos estará presente. "Existem grandes
dificuldades nos acordos bilaterais, porque o Brasil não aplica
recursos nessa área", afirmou. Segundo ele, no ano passado houve
contingenciamento de recursos do ministério. Ele afirmou também que,
com isso, os recursos acabam chegando fora do tempo hábil para que
os Estados possam trabalhar políticas de prevenção. "Falta aporte de
recursos para que as políticas já planejadas sejam executadas",
concluiu.
José de Oliveira também defendeu um melhor
aparelhamento humano do IMA. Ele informou que, no último ano, foram
repassados R$ 7,8 milhões do ministério para o instituto, que foram
investidos em melhoria da estrutura física do órgão. No entanto, de
acordo com o técnico, faltam recursos humanos e o IMA paga os piores
salários do País.
Logo no início da reunião, o deputado Domingos
Sávio lamentou a ausência de representantes da Federação da
Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e salientou que o
assunto interessa aos produtores e à economia de Minas
Gerais.
Presenças - Deputado
Domingos Sávio (PSDB), presidente da Comissão, além dos convidados
citados na matéria.
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