Preservação da Vargem das Flores leva comissão a Contagem

A represa Vargem das Flores, manancial da Região Metropolitana de Belo Horizonte, pode secar até 2060, se não for res...

29/08/2006 - 00:01
 

Preservação da Vargem das Flores leva comissão a Contagem

A represa Vargem das Flores, manancial da Região Metropolitana de Belo Horizonte, pode secar até 2060, se não for restringido o seu uso e o ritmo atual de ocupação indiscriminada. Previsão de cenário feita por especialistas aponta a fadiga total do reservatório naquela data e já aponta a infestação por algas que inviabilizariam o tratamento da água, como aconteceu com a lagoa da Pampulha.

A Vargem das Flores e os 12,3 mil hectares de sua bacia foram transformadas em área de proteção ambiental (APA) pela Lei 16.197/06, de autoria do deputado Rogério Correia (PT). Na tarde desta terça-feira (29/8/06), realizou-se no auditório da Prefeitura de Contagem uma audiência pública para a regulamentação dessa lei. "Estamos fazendo aqui uma experiência de democracia participativa, que é buscar o conhecimento de todos para preservar o milagre da água contra a feiúra da destruição da natureza", afirmou o deputado Laudelino Augusto (PT), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Rogério Correia lembrou que 55% do território de Contagem agora são APA, o mesmo acontecendo com 6% de Betim, tornando-se merecedores dos cuidados do IEF e do Governo do Estado. "Apresentamos esse projeto em 2003 a pedido da vereadora Letícia da Penha, para impedir que aconteça com a Vargem o mesmo que houve com a Pampulha. Décadas atrás, a Pampulha abastecia a Região Norte da Capital", disse o deputado.

A prefeita de Contagem, Marília Campos, alertou que há 100 mil pessoas vivendo na APA da Vargem. "Nesta região está a maior área de exclusão social de Contagem. Temos que conciliar a preservação com o desenvolvimento, e atender os pedidos de extensão da rede de esgotos de bairros como o Praia e as Chácaras Del Rey", equilibrou a prefeita.

Copasa investiu R$ 100 milhões em esgotos

Exemplos concretos de proteção ambiental foram apresentados pelo superintendente de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Copasa, Valter Vilela Cunha, para quem as águas da Vargem das Flores ainda teriam um bom nível de qualidade. A empresa teria captado recursos do Prosam para construir redes coletoras na sede de Contagem, com interceptores e elevatórias que desviam o esgoto para a ETE Onça, pela Pampulha. Cunha assegurou que está praticamente pronta a ETE Nova Contagem/Retiro, onde o esgoto será tratado e bombeado para o Córrego Meloso, de Esmeraldas, afluente do Paraopeba.

O superintendente anunciou também que a empresa desapropriou e indenizou 2.800 lotes nos bairros Santa Rita e Padre Eustáquio, de Betim, para transformá-los em área de preservação. "São obras caras. A Copasa já investiu mais de R$ 100 milhões em Contagem e Betim só em esgotos". Ele manifestou também sua preocupação com o projeto do Rodoanel da Região Metropolitana, que viria aliviar o saturado Anel Rodoviário de Belo Horizonte. "O atual projeto do DNIT, que está em análise no Copam, atravessa de fora a fora a APA e passa às margens da represa. Sabemos que uma obra dessas traria um crescimento rápido, com danos previsíveis para a área. Assim, a análise está suspensa e buscamos uma negociação para mudar o traçado do Rodoanel", informou.

Mário Guimarães Filho, da associação dos bairros Granjas e Ouro Branco, lembrou que a criação da APA traz incentivos governamentais, como o ICMS ecológico. Roner Gontijo, da Associação dos Protetores, Usuários e Amigos da Vargem das Flores (Apua Vargem das Flores), disse que essa oscip vai exigir participação no Conselho Gestor da APA, conforme prevê a lei, e anunciou que "a Secretaria do meio Ambiente de Betim, a Apua Vargem das Flores, a Copasa e entidades organizadas, como a PUC Betim, conseguiram aprovar, junto ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, um projeto de recuperação de nascentes e cursos d'água que margeiam os córregos do Urubu e Batatais".

Mansões de luxo invadem o reservatório

Quando o deputado Laudelino abriu a palavra para a platéia, Eliana Narciso, do bairro Ouro Branco, leu uma carta-manifesto assinada por vários líderes comunitários, denunciando a ocupação ilegal na bacia e pedindo o fim da comercialização de lotes irregulares e o desmembramento de lotes. Eliana fez ainda duas graves denúncias. Segundo ela, o poder público estimulou a ocupação predatória do bairro Darcy Ribeiro, e as mansões de luxo estariam invadindo o próprio reservatório da Vargem que abastece a cidade, e jogando na água o lixo do turismo e do lazer.

Eunice Vasconcelos, do bairro Colonial, denunciou a contaminação do lençol freático do lago do Praia Clube pelas fossas dos bairros acima. Alertou também para a queimada ilegal numa reserva cercada pela Copasa. Eunice propôs ainda que houvesse um representante de cada bairro no Conselho Gestor da APA Vargem das Flores. Suzana Coelho pediu fiscalização intensiva e treinamento de brigadas de moradores para proteger nascentes e dar o primeiro combate a incêndios criminosos, até a chegada dos bombeiros. Outros moradores denunciaram o soterramento de nascentes.

Requerimento: Os deputados Laudelino Augusto e Rogério Correia apresentaram requerimento pedindo audiência na Secretaria de Meio Ambiente, com representantes dos bairros, das prefeituras, da Copasa e do IEF, para discutir a regulamentação da lei de criação da APA.

Presenças: Deputados Laudelino Augusto (PT), presidente, e Rogério Correia (PT). Além dos já citados, compuseram a mesa ainda Regina Camargos, do IEF-MG; Lucilela Toledo, da Prefeitura de Betim e Isnard Monteiro Horta, secretário-adjunto de Meio Ambiente de Contagem.

 

 

 

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