Ambientalistas denunciam avanço de desmatamento para ferro-gusa

Minas Gerais consome em média 25 milhões de metros cúbicos de carvão por ano, sendo que 12,4 milhões são provenientes...

17/08/2006 - 00:00
 

Ambientalistas denunciam avanço de desmatamento para ferro-gusa

Minas Gerais consome em média 25 milhões de metros cúbicos de carvão por ano, sendo que 12,4 milhões são provenientes de áreas plantadas e 2,28 milhões de áreas nativas, em desmatamento autorizado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). Esses números, relativos ao ano passado, foram informados pelo instituto, em reunião da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. A reunião, requerida pelo presidente da comissão, deputado Laudelino Augusto (PT), nesta quinta-feira (17/8/06), discutiu o elevado consumo de carvão vegetal por indústrias de ferro-gusa.

A diferença entre as autorizações e o que o Estado consome (90% pela indústria e 10% para uso doméstico e outros), provém do desmatamento ilegal, segundo a superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas. Ela denunciou o avanço do desmatamento em Minas, sobretudo em áreas de reservas legais, protegidas pela Constituição Federal, como é o caso da Mata Atlântica. Mesmo reconhecendo os avanços conseguidos pelo IEF e o setor produtivo, ela afirmou que eles não são suficientes. "Se não partirmos para o desmatamento zero, quando os avanços chegarem, não haverá mais nada para preservar".

A Amda defende a criação de incentivos fiscais para o produtor que preservar suas áreas, bem como a oneração do carvão nativo, como forma de tornar sua produção insustentável. Usando um atlas da Universidade Federal de Lavras (Ufla), sobre a cobertura vegetal em Minas, Maria Dalce Ricas mostrou os avanços do desmatamento no Estado, exemplificando com o Triângulo Mineiro, quase sem cobertura de matas.

Ferro-gusa não é o único responsável pelo desmate

Com uma cobertura florestal de 20 milhões de metros cúbicos de matas nativas, Minas Gerais teve 156 mil hectares autorizados para desmatamento no ano passado, 90% usados pela indústria guseira, segundo dados do diretor de controle e fiscalização do IEF, Júlio Silva de Oliveira. Ele explicou que o abastecimento do mercado mineiro não é só pela extração ilegal, mas pela compra do produto paulista, de Goiás e do Sul da Bahia, situação que, no caso dos dois últimos estados, coloca Minas na condição de indutor de desmatamento naquelas unidades federativas, segundo Maria Dalce Ricas.

Lembrando que o ferro-gusa não é o único responsável pelo desmatamento ilegal, Júlio Silva culpou também o avanço das fronteiras agrícolas, como no Triângulo - com as culturas de soja, milho e algodão e a pecuária -, pela degradação. Ele destaca que o Estado trabalha com a legislação federal e estadual, que muitas vezes são conflituosas entre si e com os direitos do proprietário. "A solução é o Estado aumentar seus estoques de floresta plantada até atingir a auto-sustentabilidade", receita Júlio Silva.

Esta sustentabilidade, segundo o diretor, poderá ser alcançada em 7 ou 8 anos, se o Estado mantiver os níveis de reflorestamento atuais, que foram de 1,5 milhão de hectares plantados no ano passado. Além do incentivo à produção de florestas, Júlio Silva recomenda a união entre Estado, ONGs e setor produtivo para atuar conjuntamente na busca de soluções.

União de esforços - O discurso de união de esforços foi defendido também pelo presidente do Sindicato da Indústria do Ferro do Estado de Minas Gerais (Sindifer), Bruno Melo e Lima, e também pelo presidente da Associação Mineira de Silvicultura, por meio de seu gerente administrativo, Dárcio Calais. Melo e Lima pediu que a questão seja analisada sem preconceito, garantindo que as 54 empresas que formam a entidade, não compactuam com a produção ilegal. "O Sindifer estará ao lado do IEF em toda ação que vier coibir desmatamento", afirmou.

O deputado João Leite (PSDB) destacou a importância do trabalho desenvolvido em Minas Gerais pelo IEF. Para ele, é necessário que a Assembléia dê mais condições de fiscalização ao IEF com a aprovação de legislação ambiental. Já o deputado Laudelino Augusto ressaltou que a Comissão de Meio Ambiente e outras comissões temáticas, como a de Resíduos Sólidos e a do Protocolo de Quioto, vêm contribuindo para o acompanhamento e fiscalização da utilização dos recursos naturais em Minas Gerais.

Os deputados João Leite e Laudelino Augusto anunciaram que irão apresentar requerimento solicitando que a TV Assembléia desenvolva um programa dedicado ao meio ambiente, com o objetivo de esclarecer dúvidas e discutir o tema com a população. Laudelino Augusto também irá apresentar requerimento solicitando a realização de audiência pública para a discussão do Mapeamento e Inventário das Florestas Nativas e dos Reflorestamentos de Minas Gerais, do Atlas de Áreas Prioritárias para Proteção da Biodiversidade de Minas Gerais (da Ufla) e do trabalho de elaboração do zoneamento ecológico-econômico.

Debates - Na fase de debates, o engenheiro Frederico Alexandre Costa afirmou que vem constatando um aumento do desmatamento em Minas Gerais, em especial na região do município de Piranga e da Serra do Cipó. Segundo ele, as empresas de ferro-gusa precisam do carvão e muitas vezes acabam por incentivar a utilização da mata nativa para a sua produção.

Clécia Cavalcante, do IEF, afirmou que o instituto não está alheio ao problema ambiental do Estado e que vem desenvolvendo uma série de projetos com o objetivo de garantir uma utilização racional dos recursos naturais. Segundo ela, o IEF apoia o plantio de florestas de eucaliptos em áreas já desmatadas, o que contribui para a diminuição da exploração das florestas nativas.

Presenças - Deputados Laudelino Augusto (PT), presidente e João Leite (PSDB).

 

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