Grupos temáticos se reúnem no fórum sobre mulheres

O período da tarde do Fórum Técnico "Políticas públicas para as mulheres", realizado nesta quinta-feira (10/8/06) na ...

10/08/2006 - 00:00
 

Grupos temáticos se reúnem no fórum sobre mulheres

O período da tarde do Fórum Técnico "Políticas públicas para as mulheres", realizado nesta quinta-feira (10/8/06) na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, foi dedicado ao trabalho de grupos temáticos, que discutiram as políticas públicas existentes em cada área e elaboraram propostas para aprimorá-las. Temas como creches em horário integral e ampliação da licença-maternidade permearam a discussão em mais de um grupo. Entre as propostas consta ainda a de criação de uma Secretaria Estadual da Mulher, para centralizar todas as políticas públicas voltadas para esse segmento. As conclusões serão votadas na plenária final do fórum nesta sexta-feira (11).

Com o tema "Autonomia e igualdade no mundo do trabalho", o Grupo 1 ampliou as discussões sobre a inserção e qualificação da mulher para o mercado de trabalho e o incentivo ao trabalho das mulheres em cooperativas, propostas iniciais para o debate. A coordenadora do grupo, Carmem Rocha Dias, superintendente de Trabalho e Renda da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes, salientou ainda a proposta de integração entre as políticas públicas voltadas para as mulheres, em áreas como saúde, educação e trabalho.

"Fica cada vez mais evidente a importância das políticas públicas para a inserção da mulher. Ações pontuais, estanques, não avançam. Para assegurar continuidade e resultados, é preciso criar estratégias que considerem peculiaridades regionais e a diversidade da população feminina urbana e rural, jovem e idosa ou branca e negra", completou. Dados do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE) e ainda o enfoque econômico da desigualdade - como salários mais baixos pagos a mulheres em tarefas semelhantes às de homens - também foram apresentados pela coordenadora para subsidiar o debate, que resultou em dezenas de propostas.

Peregrinação pelo SUS

O tema que mais gerou debates no Grupo 2, "Saúde da mulher, direitos sexuais e direitos reprodutivos", foi o combate ao câncer de colo de útero e mama. O depoimento da salgadeira Maria da Penha do Carmo emocionou e arrancou aplausos dos participantes. Diagnosticada como portadora de câncer no seio em 1994, apenas sete anos depois ela conseguiu extirpar o tumor pela rede pública.

Maria da Penha contou sua trajetória pelos hospitais de Belo Horizonte. Nesse período, em função dos constantes afastamentos do trabalho, acabou perdendo o emprego e o companheiro. Até hoje ela ainda não conseguiu fazer a cirurgia de reconstituição da mama. Com a retirada do tumor, perdeu 180g do seio direito. "Sinto-me abençoada porque não houve metástase (disseminação da doença), mas foi uma luta dolorosa para conseguir o atendimento", comentou.

O Grupo 3, "Enfrentamento da violência contra as mulheres", foi o que mais atraiu público: cerca de 200 pessoas de vários municípios mineiros. A presidente em exercício do Conselho Estadual da Mulher, Maria de Nazaré Barreto de Carvalho, considerou muito produtivo o encontro. Segundo ela, foram discutidas as diversas dificuldades que os municípios enfrentam, como os conselhos que não funcionam ou não existem, delegacias fechadas e falta de infra-estrutura para proteção da mulher.

Nazaré ressaltou o caso de uma mulher que deu depoimento, cuja identidade está sendo mantida em sigilo, que provocou constrangimento. Ela sofreu assédio moral do patrão e foi convencida pela delegada da cidade a não apresentar queixa porque o agressor "era muito influente".

Dentre as propostas apresentadas no grupo, a mais importante é a criação de uma Secretaria Estadual da Mulher para centralizar todas as políticas públicas existentes em Minas Gerais. "O Conselho da Mulher sente necessidade de contar com um órgão que tenha autonomia financeira e administrativa para garantir o atendimento à mulher", afirmou.

Discriminação chega aos livros didáticos

A "Educação inclusiva e não sexista" foi o tema do Grupo 4, que ratificou a necessidade de aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb); a luta por mais creches e pré-escola; e a importância da valorização e melhoria de condições de trabalho dos educadores. Outra meta é a de criação de uma comissão com representantes do poder público e da sociedade civil para acompanhar a seleção de livros didáticos e a elaboração de currículos, com vistas a superar a discriminação de gênero. Entre as várias propostas novas que surgiram do debate, está a de formação dos professores para atendimento a crianças com deficiência e para orientação afetiva e sexual dos alunos.

Para a coordenadora do grupo, a doutora em Educação e professora da Universidade Fumec, Magda Chamon, as "pretensas" políticas públicas estaduais nessa área são tênues e não contemplam a educação inclusiva e não sexista. "Os livros, por exemplo, não abordam temas como a sujeição e discriminação da mulher, um quadro construído historicamente e que chega a parecer natural", aponta. Ela salienta ainda que é preciso envolver os homens nessa luta e manter a formação continuada para professores e outros públicos, para alcançar uma mudança de mentalidade.

O Grupo 5 discutiu "Direitos da mulher à terra e à moradia". A coordenadora da Central de Movimentos Populares, Antônia de Pádua, se surpreendeu com o nível do debate e a representatividade dos participantes. Em todos os grupos, participaram representantes de prefeituras, vereadores, movimentos sociais, governo estadual e de universidades. "Tivemos representação de segmentos importantes como o poder público, o movimento social e a academia".

Na opinião de Antônia de Pádua, a heterogeneidade dos grupos de discussão foi responsável pela profusão de propostas. "Trouxemos 13 sugestões e estamos saindo com mais de 20. Os participantes apresentaram questões que sequer tínhamos imaginado".

 

 

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