Fechamento de clínica em BH gera divergências na ALMG

A Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais recebeu, durante audiência pública realizada nesta terç...

18/07/2006 - 00:01
 

Fechamento de clínica em BH gera divergências na ALMG

A Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais recebeu, durante audiência pública realizada nesta terça-feira (18/7/06), um abaixo-assinado de representantes do terceiro setor e sociedade civil, que pede a reabertura da Clínica Nossa Senhora da Conceição, fechada em junho deste ano, em Belo Horizonte, e atendia pacientes de câncer em estado terminal e portadores do vírus HIV. O requerimento da reunião foi do deputado Fábio Avelar (PSC).

Segundo o deputado, a intenção da comissão é encontrar formas de fazer com que o trabalho multidisciplinar realizado pela clínica tenha continuidade. "Lutamos em defesa desta instituição que há mais de uma década atendeu não só pacientes terminais, mas famílias carentes de todo o Estado", afirmou.

O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) reforçou as palavras de Fábio Avelar, e reconheceu ainda a luta dos profissionais da instituição, muitos deles em situação de desemprego. De acordo com ele, é importante reconhecer a dedicação dos enfermeiros, médicos e funcionários da clínica, que sempre acolheram pacientes carentes com dignidade e respeito.

A Clínica Nossa Senhora da Conceição foi fechada pela Arquidiocese de Belo Horizonte, sua gestora e mantenedora, no dia 30 junho, sob a alegação de falta de recursos para pagamento de salários e tratamento adequado para os pacientes. Na data do encerramento dos trabalhos, a clínica contava com 28 leitos e recebia pacientes da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O supervisor da Igreja Divina Providência, responsável imediata pela gestão da clínica, Mário Delavi, justifica a ação como forma de evitar que a instituição chegasse a uma condição insustentável. Ele afirma que a clínica foi fechada enquanto ainda havia condições de pagar ao menos os direitos trabalhistas dos funcionários. "O Estado demandava pacientes, mas sem repasse suficiente de recursos, o que tornou a sua manutenção inviável. A arquidiocese se compromete a auxiliar na criação de políticas públicas de saúde que tornem possível manter clínicas como aquela com sustentabilidade", afirmou.

O representante da arquidiocese, padre João Marcelino, alegou readequação no foco do serviço como causa do fechamento da clínica. "Queremos continuar o trabalho, mas entendemos que é preciso que o governo cumpra sua parte e crie formas de apoiar iniciativas como esta", reivindicou.

Ex-diretora questiona alegações da Igreja

A diretora da Clínica Ammor e ex-diretora da clínica Nossa Senhora da Conceição, Irene Adams, questionou as alegações de que o trabalho não é papel da arquidiocese, e que a falta de recursos financeiros e apoio do governo foram responsáveis pelo fechamento da instituição. Para ela, não foram feitas tentativas de captação de recursos junto à iniciativa privada e foi negada a assinatura de um convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS) para ampliação dos leitos da clínica. "Mais que isso, acredito que o papel da Igreja, como apoio motivacional e espiritual aos pacientes, é fundamental no tratamento", disse. Ela questionou ainda a falta de respostas da arquidiocese à sua proposta para um plano de financiamento da clínica, proposto em 2005.

A presidente da Associação de Defesa dos Usuários, Consumidores e Contribuintes de Minas Gerais, Ilma Arruda Araújo, acredita que o fechamento da clínica não deveria ter acontecido sem que a sociedade civil fosse ouvida. Segundo ela, grande parte das doações que ajudaram na manutenção da instituição eram feitas por cidadãos comuns. "Proponho a criação de uma comissão para cuidar especificamente dos interesses da clínica e que contasse com o apoio dos deputados da Comissão de Saúde", solicitou.

Para a deputada Maria Tereza Lara (PT), o momento é de crise e, por isso, é preciso unir esforços para que o trabalho realizado na extinta clínica tenha continuidade e seja ampliado para toda a rede pública de saúde. "Igreja e sociedade não podem ser adversários, mas parceiros na luta pelo bem de todos", ponderou.

O deputado Miguel Martini (PHS) fez coro à fala de Maria Tereza Lara, e chamou atenção para importância do Estado no processo. "O dever da sustentabilidade da saúde pública é do governo e a sociedade civil deve fiscalizar e cobrar os resultados do seu trabalho", concluiu.

Presenças - Deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), presidente da comissão; Doutor Ronaldo (PDT), Fábio Avelar (PSC) e Miguel Martini (PHS) e a deputada Maria Tereza Lara (PT). Também participaram da reunião a ex-supervisora da clínica Nossa Senhora da Conceição, Miria Ferreira de Oliveira; a assistente social do Hospital da Baleia, Miria Junqueira Alvarenga; o consultor do Ministério da Saúde, Marcelo Dardich Apigaua; e a representante da Sociedade de Tanatologia de Minas Gerais, Mariel Nogueira da Gama.

 

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