Moradores de Sabinópolis queixam-se de omissão do MP

O agravamento da criminalidade no município de Sabinópolis (Vale do Rio Doce) e a denúncia de omissão do Ministério P...

18/07/2006 - 09:02
 

Moradores de Sabinópolis queixam-se de omissão do MP

O agravamento da criminalidade no município de Sabinópolis (Vale do Rio Doce) e a denúncia de omissão do Ministério Público foram investigados nesta segunda-feira (17/7/06) pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em audiência pública realizada na cidade. A reunião, realizada a requerimento do deputado Durval Ângelo (PT), aconteceu no auditório de "O Correntes Clube", no centro da cidade.

As queixas com relação à atuação do promotor de Justiça da comarca de Sabinópolis, Aylor Luiz Meirelles Júnior, partiram de vereadores do município, que destacaram em representação ao Ministério Público o acanhado número de providências tomadas pela autoridade durante 2006. De um total de 446 ocorrências registradas, resultaram apenas 15 termos circunstanciados de ocorrências (TCOs) e 11 inquéritos policiais enviados ao fórum pelo promotor.

Entre os crimes mais recentes que chocaram a cidade, estão o espancamento e assassinato de Pedro de José de Bina, em julho de 2005, brigas de gangues de jovens durante o carnaval de 2005, o seqüestro do taxista José do Café e a morte de Deli Araújo, fuzilado pelas costas e jogado no Rio Guanhães em 2003. Esses e outros crimes não solucionados foram citados na documentação enviada à Assembléia Legislativa pelos vereadores Otaviano Tavares e Carlos Roberto Mourão, junto a um abaixo-assinado com adesão de 635 moradores. Durante a reunião realizada no município, ficou clara a precariedade das polícias Militar e Civil para fazer frente a esses problemas.

Ao final do encontro, seis requerimentos foram apresentados pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT). Um requerimento ao Ministério Público pede a realização de uma correição extraordinária para averiguar a atuação do promotor local. Outro, a ser encaminhado à Secretaria de Defesa Social, pede o envio de uma viatura à Polícia Civil de Sabinópolis e a substituição da guarda de cadeia local por agentes penitenciários. Um requerimento ao chefe da Polícia Civil, Otto Teixeira, pede mais dois detetives e um escrivão para o município. Outro solicita à Polícia Militar o aumento do efetivo em Sabinópolis. Outros dois requerimentos pedem que sejam encaminhadas as notas taquigráficas da audiência pública ao Tribunal de Justiça e outras autoridades cabíveis, solicitando providências diversas para fazer frente aos problemas de segurança do município.

Promotor diz que é bode expiatório

Acusado de omissão no exercício de sua função, o promotor Aylor Meirelles Júnior disse ser alvo de mentiras e de uma tentativa de transformá-lo em bode expiatório dos problemas de segurança em Sabinópolis. Em sua defesa, o promotor citou parecer da Corregedoria Geral do Ministério Público, que concluiu pelo arquivamento das queixas contra ele. "Em dez anos de correições ordinárias, não houve nenhuma advertência", afirmou o promotor.

Durante a audiência pública realizada nesta segunda, no entanto, novas denúncias contra o promotor foram encaminhadas à comissão. O parlamentar decidiu não torná-las públicas, mas também encaminhá-las ao Ministério Público junto com o pedido para uma correição extraordinária. "As correições ordinárias são muito formais, superficiais, não ouvem a sociedade", argumentou o parlamentar.

Antes de encerrado o encontro, o promotor abandonou o evento, após comentário do deputado Roberto Ramos (PSDB) a respeito de uma das queixas contra o representante do Ministério Público. "Não vou acreditar que um promotor faz 'pega' na cidade. 'Pega' é coisa de moleque. Eu não acredito nisso", afirmou o parlamentar.

Polícia se queixa de infra-estrutura

A falta de efetivos e condições de trabalho tanto para a Polícia Militar quanto para a Polícia Civil foi um dos principais problemas verificados pela comissão em Sabinópolis. De acordo com o capitão Wilmar Reis Batista, o número ideal de policiais militares para garantir um bom policiamento ao município de 16 mil habitantes é de 22 homens. No entanto, existem apenas cinco policiais disponíveis para o policiamento, já que outros cinco estão mobilizados para a vigilância da cadeia municipal. "Pediríamos que as autoridades se sensibilizassem para que ocorresse a substituição da guarda de cadeia por agentes penitenciários", afirmou o capitão. De acordo com os dados da Polícia Militar, foram registradas 102 prisões em Sabinópolis durante o ano de 2002. Em 2005, esse número foi de 129.

O município está sem juiz residente há quatro anos, e estava sem delegado há dois anos. Recém-nomeado para Sabinópolis, o delegado Endgel Rebouças participou da audiência pública em seu primeiro dia no cargo. Segundo ele, o município conta com apenas um detetive e nenhum escrivão. A cadeia abriga 25 presos, sem contar os albergados, que dormem com os demais presos. "A luta é para que pelo menos mais três detetives venham para o município, a partir do novo concurso que está sendo feito", afirmou o delegado.

O diretor do Departamento Municipal de Saúde, padre Pedro João Daalhuizen, admitiu as dificuldades da polícia, mas ressalvou que a população não pode pagar por isso. "Não temos nada com isso. Sabinópolis paga impostos como qualquer outra cidade. Temos direito ao policiamento, como outros municípios têm", afirmou. O padre ressaltou que, em um levantamento entre as cidades de Minas que estão na mesma faixa de 16 mil habitantes de Sabinópolis, o município ficou em 1º lugar em número de pessoas envolvidas com alcoolismo, e 3º lugar no uso de drogas.

O consumo de drogas vem contribuindo para o fortalecimento de gangues de jovens no município. De acordo com a vice-diretora da Escola Estadual José Amantino, a professora Amarilda Pinho, as escolas vêm sofrendo com a rivalidade entre gangues rivais, como a do "Guetinho" e o "Comando Boa Vista", mais conhecido como "Cobvezinho". Em novembro de 2005, os jovens infratores chegaram a ameaçar de linchamento uma supervisora de escola.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; e Roberto Ramos (PSDB), vice. Também participaram da reunião o chefe de gabinete da Prefeitura de Sabinópolis, Isaac José Franklin; o gerente executivo do Bem-Estar do Menor, Daniel Ferdinand Van Eijk; e o presidente da Câmara Municipal de Sabinópolis, vereador Marcelo Augusto de Siqueira.

 

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