Comissão de deficiência mental e autismo aprova relatório final

Criação de leitos na rede hospitalar para internação de deficientes mentais graves e autistas em situação de crise; a...

12/07/2006 - 00:00
 

Comissão de deficiência mental e autismo aprova relatório final

Criação de leitos na rede hospitalar para internação de deficientes mentais graves e autistas em situação de crise; apoio técnico para que os municípios criem ou ampliem redes de assistência à pessoa portadora de deficiência física, mental ou com autismo; criação de condições legais e administrativas para o pagamento de cuidadores, quando for possível a convivência do deficiente mental grave ou autista na residência da família; e mapeamento das instituições que abrigam esses pacientes. Essas são algumas das recomendações do relatório final da Comissão Especial do Transtorno, Deficiência Mental e Autismo da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, aprovado nesta quarta-feira (12/7/06).

A comissão foi instalada em 24 de abril, a requerimento do deputado Célio Moreira (PSDB), depois que pais de pacientes com transtornos mentais e autismo denunciaram a deficiência do atendimento - a partir da lei da desospitalização -; o alto custo de clínicas particulares; e a falta de atendimento em casos de surto. Várias audiências foram realizadas com familiares de pacientes, órgãos de governo, instituições de atendimento, entre outros convidados permanentes da comissão, para discutir o tratamento e a inclusão da pessoa com transtorno, deficiência mental ou autismo. O relatório final ficou a cargo da deputada Maria Tereza Lara (PT).

Em suas conclusões, a deputada enfatizou que a rede de saúde mental não oferece ao autista e ao portador de deficiência mental o tipo de atenção que os familiares pleiteiam. De acordo com o relatório, a assistência a esses pacientes ainda é precária em Minas, apesar da consolidação e aprimoramento da rede de atenção substitutiva em saúde mental no Estado. "Cabe-nos o desafio de pensar uma nova modalidade assistencial específica para o autista e o deficiente mental, que lhes garanta atendimento integral e intensivo em instituições que promovam sua sociabilização e educação, pois também chegou-se ao consenso de que a segregação não é solução para essas pessoas", diz o documento.

Segundo a deputada, esses pacientes exigem especificidades no atendimento, como atenção contínua durante 24 horas por dia e suporte de equipe multidisciplinar. O relatório traz, inclusive, a definição de transtornos mentais, deficiência mental e autismo, além de uma pesquisa da legislação sobre essa matéria O problema mais sério, de acordo com o documento, é "a falta de instituições que acolham o deficiente mental grave ou autista em situação de crise e aquele que, devido ao nível de agressividade, está impossibilitado de conviver com seus familiares".

Relatório recomenda mudança na legislação

Entre as recomendações do documento final da comissão, consta a retificação da Deliberação CIB-SUS 57, de 2003, para que casos mais complexos possam ser atendidos em regime de tempo integral. O relatório recomenda ainda a ampliação da rede de atendimento no Estado e a celebração de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) para que o Hotel Crer-Ser mantenha suas atividades, até que uma solução para o caso seja encontrada. O Hotel, que faz atendimento particular a pacientes no período da noite, está funcionando em Nova Lima, amparado por liminar, depois de ter sido interditado em Belo Horizonte, por não se enquadrar nas características de clínica.

O relatório cita ainda o Projeto de Lei (PL) 3.410/06, do deputado Célio Moreira, presidente da comissão, que determina a obrigatoriedade de o Governo do Estado proporcionar tratamento especializado, educação e assistência específicas a todas as pessoas portadoras de autismo, independente da idade. De acordo com a assessoria do parlamentar, apenas uma instituição do Estado, o Centro Psicopedagógico (CPP), presta esse atendimento a pacientes menores de 18 anos. Durante a reunião desta quarta-feira (12), o deputado Célio Moreira informou que apresentará substitutivo para aprimorar seu projeto, a partir das discussões da comissão.

Outras recomendações

Entre as recomendações do relatório, que deve ser enviado a vários órgãos e instituições, constam ainda:

* Criação de um grupo de trabalho intersetorial para estudar alternativas de atenção integral ao deficiente mental grave e ao autista e acompanhar a implementação dessas políticas;

* Ampliação da equipe técnica do CPP e capacitação de equipes dos municípios mineiros;

* Oferta de educação de qualidade aos deficientes mentais e autistas, em tempo integral, nos níveis fundamental e média, na rede regular de ensino e, quando isso não for possível, em escolas especiais;

* Fortalecimento e maior investimento no Projeto Incluir, da Secretaria de Estado da Educação, para identificação de alunos com deficiência;

* Constituição de equipe interdisciplinar de saúde, à disposição da Secretaria de Estado da Educação, para realizar diagnósticos dos alunos das escolas públicas e avaliar sua inclusão na rede de educação regular ou especial;

* Ampliação do Programa Casa-Lar, do Governo do Estado, para que possa acolher em todas as regiões do Estado um número maior de pessoas com deficiência impossibilitadas do convívio com seus familiares;

* Ampliação do número de promotores de defesa da saúde e de defesa dos direitos das pessoas portadoras de deficiência em atuação no Estado;

* Divulgação de campanhas informativas sobre autismo e de números de telefone para denúncias de mau atendimento ou recusa no atendimento dos portadores de deficiência mental ou autismo na rede de saúde e de ensino;

* Fomento de parcerias com instituições de ensino superior para desenvolvimento de projetos-piloto e divulgação de estudos nessa área.

Deputados pedem apoio a entidades

Para a deputada Maria Tereza Lara, o debate realizado pela comissão só terá sentido se forem encontradas medidas, com desdobramentos práticos, que solucionem os problemas. Para isso, ela pediu que as entidades que apóiam os deficientes mentais e autistas continuem reivindicando essas medidas. A deputada sugeriu ainda a realização, no segundo semestre, de uma audiência pública da Comissão de Participação Popular, que ela preside, para avaliar os encaminhamentos das ações propostas no relatório.

O deputado Célio Moreira também enfatizou que os familiares dos pacientes não querem caridade, mas apenas justiça e o atendimento a um direito. "Acredito que as autoridades públicas não fecharão os olhos a essa luta", afirmou. Já a deputada Maria Olívia (PSDB), vice-presidente da Comissão do Transtorno, Deficiência Mental e Autismo, reforçou que todos os avanços no atendimento às crianças com necessidades especiais são fruto da ação da sociedade organizada e que o Poder Público pouco contribuiu. "Foram vocês que tiraram essas crianças de casa, onde ficavam escondidas", afirmou, dirigindo-se a familiares e representantes de entidades de apoio.

Presenças - Deputado Célio Moreira, presidente; deputadas Maria Olívia, vice-presidente, e Maria Tereza Lara, relatora.

 

 

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