Pais de autistas marcam manifestação na Assembléia para esta terça-feira

A Comissão Especial do Transtorno, Deficiência Mental e Autismo da Assembléia Legislativa de Minas Gerais está conclu...

07/07/2006 - 00:01
 

Pais de autistas marcam manifestação na Assembléia para esta terça-feira

A Comissão Especial do Transtorno, Deficiência Mental e Autismo da Assembléia Legislativa de Minas Gerais está concluindo seus trabalhos e marcou para a próxima quarta-feira (12/7/06), a apresentação do relatório final preparado pela relatora, deputada Maria Tereza Lara (PT). A reunião acontece às 15h30, no Plenarinho III. Nesta terça-feira (11/7/06), às 9 horas, pais e familiares dos usuários do sistema público de saúde mental marcaram uma manifestação diante da Assembléia, exigindo o direito ao tratamento assegurado pela legislação.

Instalada em 24 de abril, a comissão procurou discutir o tratamento da pessoa com transtorno, deficiência mental ou autismo e buscar sua inclusão, ouvindo, para isso, órgãos de governo, instituições de atendimento e familiares, entre outros. Segundo o presidente, deputado Célio Moreira (PSDB), a idéia da comissão surgiu depois de denúncias de pais de pacientes com transtornos e de autistas, como a deficiência do atendimento, com a lei da desospitalização; o alto custo de clínicas particulares; e falta de atendimento em casos de surto.

De acordo com dados da Organização Mundial de Psiquiatria (OMP), os transtornos mentais podem ser classificados de acordo com uma causa preponderante, idade de aparecimento ou por características sintomatológicas comuns. Segundo a OMP, os transtornos mentais são bastante comuns. Cerca de uma em cada quatro pessoas irá apresentar um transtorno mental durante a vida, e eles podem ocorrer em pessoas de qualquer sexo, idade e classe social.

Solicitada em requerimento do deputado Célio Moreira, a comissão tem como vice-presidente a deputada Maria Olívia (PSDB). Foram convidados a participar da última reunião o secretário de Estado de Saúde, Marcelo Gouveia Teixeira, e representantes do Ministério Público, Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Associação Mineira de Psiquiatria, Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, Fórum Mineiro de Saúde Mental e Associações de Pais e Amigos de Pessoas Especiais e dos Excepcionais. Todos são convidados permanentes da comissão especial.

Histórico dos trabalhos

* 23/5/06: a necessidade de tratamento específico para os autistas e a dificuldade que as famílias dos portadores de necessidades especiais maiores de 18 anos encontram para receber atendimento foram a tônica da reunião. O psiquiatra Gean Carlo Mário Capeline enfatizou que 50% dos acometidos por autismo conseguem algum nível de inserção social, desde que haja diagnóstico precoce e acompanhamento. A vice-presidente da Associação de Pais e Amigos dos Portadores de Necessidades Especiais de Minas Gerais (Apapene), Gilda Maria e Silva, avalia que essas pessoas precisam de atendimento em três níveis: assistência, inclusive à família; diagnóstico; e pesquisa científica, para diminuir a distância entre a descoberta e a aplicação de novos tratamentos. Mãe de um portador de autismo grave, Gilda lembrou que esse transtorno se manifesta de várias formas, algumas consideradas brandas, que permitem que o paciente se dedique à música ou literatura.

* 30/5/06: os deputados foram informados de que a definição de autismo como um transtorno mental específico tem apenas 60 anos e que, durante muito tempo, não havia nenhum atendimento público a esses 14 mil pacientes, que ficavam exclusivamente a cargo da família. A luta por sua inclusão na rede pública de saúde começou em 1983, quando Marisa Furia Silva, que tem um filho autista hoje com 28 anos, fundou a Associação Brasileira de Autismo. Hoje Marisa luta para que a inclusão desses pacientes seja específica, com uma programação de trabalho para cada um. Outros pais de pacientes, psiquiatras e autoridades da área de saúde também participaram. Convidados alertaram para as entidades que têm um caráter muito mais assistencialista que reabilitador.

* 20/6/06: com o Auditório lotado por cerca de 80 pessoas, especialmente pais e portadores de deficiência mental, a comissão conheceu as instituições públicas que atuam no apoio a essas pessoas e os programas de inclusão. Inclusão esta que foi questionada por mães de deficientes. Em tom de desabafo, elas reclamaram da falta de atendimento médico especializado, criticaram as ações do governo estadual e municipal na área da educação e cobraram inclusão social com responsabilidade e respeito. "Essas crianças têm que ser preparadas gradativamente para a inclusão e precisam estar em escola especial", afirmou Divina Ferreira, mãe de uma criança deficiente. As secretarias de Estado da Saúde e Municipal de Saúde da Capital defenderam que a escola não precisa ser exclusiva para o deficiente mental ou autista e que tem que estar preparada para receber essas pessoas.

* 29/6/06: O psiquiatra Políbio José Campos, coordenador de Saúde Mental da PBH, informou que a Saúde Mental já integra as equipes do Programa de Saúde da Família. Ele defendeu a desospitalização, apresentando o argumento de que, nos Estados Unidos, em um ano, morreram 150 pessoas sob contenção. Destas, 40% estavam em instituições privadas e 26% eram jovens. "A segregação ocorre por razões práticas. Cabe a nós e à sociedade fiscalizar sempre para evitar abusos e ilegalidades", afirmou. Falaram também representantes do Centro Especializado Nossa Senhora Assumpção, Fundação de Assistência Especializada de Nova Lima, Hotel Crer-Ser, Escola Especial Creia, Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae-BH), Associação de Pais e Amigos de Pessoas Especiais (Apape) e Arquidiocese de BH.

* 4/7/06: o debate envolveu usuários dos serviços de saúde mental, familiares e órgãos e instituições que são membros natos da comissão. O único usuário do sistema que deu depoimento pessoal foi Sócrates de Araújo, que tem distúrbio da fala e dos movimentos, seqüelas neurológicas de um acidente de trânsito que sofreu aos 13 anos. Hoje grisalho, Sócrates lembra que passou 49 dias em coma e, ao despertar, teve que reaprender tudo. Esteve internado inúmeras vezes em hospitais psiquiátricos, tomou eletrochoque, foi cobaia de medicamentos, passou por todo o pacote repressor que a luta antimanicomial combate. Solidário, Sócrates criou a Associação Verde Esperança, para egressos do sistema psiquiátrico, e promove atividades esportivas e recreativas.

As autoridades e especialistas anotaram as queixas e sugestões para orientar a elaboração de políticas públicas, mas não deixaram dúvidas de que a questão da saúde mental se encaminha inexoravelmente para o SUS; que pode haver cooperação entre os sistemas estaduais de Saúde, Educação e Assistência Social para o atendimento aos autistas; que a luta antimanicomial prossegue, mas pode admitir formas alternativas de residência terapêutica para pacientes adultos.

A deputada Maria Tereza Lara (PT), relatora, enxerga um gargalo no relacionamento do privado com o público e lacunas na legislação que rege instituições como os hotéis para pacientes autistas. Dispôs-se a lutar contra o fechamento de instituições que os pais defendem, mas exigir que elas se adeqüem à legislação vigente. Exortou os pais a exerceram controle social juntamente com o governo sobre as instituições.

Visita - A comissão também visitou, no dia 29 de junho, o Hospital Espírita André Luiz; o Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam) da região Oeste da Capital, um dos sete Cersams mantidos pela PBH e que existe desde 2003; o Hospital Psiquiátrico Galba Velloso; e o Hotel Cre-Ser, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, única das quatro entidades que recebe pacientes autistas, além de pessoas com deficiência mental grave.

 

 

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