Debate sobre segurança em Juiz de Fora mobiliza Zona da Mata

Juiz de Fora apresenta índices de criminalidade mais baixos que os do restante do Estado mas, assim como nas demais c...

03/07/2006 - 00:02
 

Debate sobre segurança em Juiz de Fora mobiliza Zona da Mata

Juiz de Fora apresenta índices de criminalidade mais baixos que os do restante do Estado mas, assim como nas demais cidades de porte médio e grande de Minas Gerais, esse número vem aumentando com o passar dos anos. A informação foi passada pelo coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp/UFMG), Cláudio Beato, aos 125 participantes do encontro regional do Seminário Legislativo "Segurança para Todos - propostas para uma sociedade mais segura", realizado na cidade da Zona da Mata nesta segunda-feira (3/7/06). Estavam representadas no encontro as cidades de Barbacena, Leopoldina, Juiz de Fora, Ponte Nova, Santos Dumont, São João Nepomuceno e Conselheiro Lafaiete.

O seminário é promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais com o apoio de diversas entidades. O evento em Juiz de Fora foi a quarta reunião de interiorização do seminário, que terá sua plenária final nos dias 21, 22 e 23 de agosto, em Belo Horizonte.

Cláudio Beato apresentou dados que comprovam a urbanização do crime. Segundo ele, até a década de 80, os homicídios praticados no Brasil estavam concentrados nas fronteiras agrícolas. A partir dessa época, além do número de casos ter aumentado de 10 (em 1980) para 27 (2002) por grupo de 100 mil habitantes, houve uma migração das ocorrências para os centros urbanos, sobretudo para as regiões com maior concentração populacional. Segundo o pesquisador, as cidades com mais de 500 mil habitantes respondem por 34,6% dos homicídios no Estado, por exemplo.

Apesar da violência crescente, Cláudio Beato lembrou que, pela primeira vez em 15 anos, Minas Gerais apresentou uma redução de 12% nos índices de criminalidade. Para ele, isso é resultado de ações integradas, como a unificação das polícias, por exemplo. Mas o professor acredita que é preciso ir além: "Precisamos integrar também o Judiciário e o Ministério Público no sistema de segurança pública. Não é possível que cada órgão tenha prioridades destoantes".

Crimes violentos estão aumentando

Beato disse ainda que a criminalidade violenta está ligada à urbanidade e que, em Minas Gerais, Contagem é a cidade mais violenta. "Os crimes estão se tornando cada vez mais violentos. Além disso, houve, com o passar do tempo, o aumento do uso de arma de fogo por pessoas que não possuem porte de arma", completou. Para o pesquisador é preciso pesquisar as verdadeiras causas do aumento da violência e fugir de análises mais simplistas. Segundo ele, o cenário da criminalidade é muito diverso e, além da impunidade, do tráfico de drogas e da corrupção de parte da polícia, que são elementos freqüentemente apontados como as grandes causas da violência, fatores estruturais e organizacionais, entre outros, precisam ser considerados.

Cláudio Beato também descartou a idéia de que, somente após o controle do desemprego e de outros problemas estruturais, poderá ser encontrada uma saída para os problemas de segurança pública. "O debate que estamos realizando hoje é uma prova de que a solução precisa ser buscada a todo o momento, com a participação da sociedade", concluiu. Ele usou uma metáfora para definir a preocupação da sociedade hoje com as questões da segurança. "Os crimes costumavam acontecer nas senzalas e ninguém se importava. Quando as balas começaram a ser vistas da casa grande e, por vezes, a atingir os moradores dela, o assunto começou a se tornar caso de interesse público. Até então, a violência só atingia os pobres e não incomodava as elites", comparou.

Debate deve envolver toda a sociedade

A necessidade de envolvimento da sociedade, "formando-se uma rede de atitudes voltadas para garantir a segurança na família, nos espaços urbanos e na convivência social", também foi salientada pelo deputado Sebastião Helvécio (PDT), que presidiu os trabalhos e discursou em nome do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Mauri Torres (PSDB). "A queda verificada no índice de crimes violentos praticados no Estado é um resultado importante, mas não suficiente para deixarmos de dar prioridade ao tema e de discuti-lo amplamente, com todos os segmentos da sociedade e dos poderes públicos, porque a situação ainda é grave", alertou.

O deputado Edson Rezende (PT), coordenador da Frente Parlamentar de Segurança Pública, listou quatro pontos que considera fundamentais no debate sobre a segurança pública - a necessidade de ações preventivas, sobretudo focadas nos jovens, que correspondem a 70% das 40 mil vítimas de homicídios ocorridos por ano; a integração do sistema de justiça criminal, com o envolvimento das polícias, Corpo de Bombeiros, Defensorias, Ministério Público e Judiciário; a valorização e capacitação dos agentes de segurança pública; e o financiamento público para que as ações possam sair do papel. Segundo o deputado, dos R$ 360 milhões arrecadados em Minas Gerais no último ano com a taxa de segurança pública, apenas R$ 152 milhões foram investidos no setor.

Para o deputado Biel Rocha (PT) a Assembléia Legislativa cumpre o seu papel quando se desloca pelo Estado e entra em contato com a população para colher subsídios para a formulação de políticas públicas. Ele lamentou a ausência de representantes do Judiciário e do Ministério Público no debate e ressaltou a presença de líderes comunitários, além de especialistas, no encontro.

Debates - Quando a palavra foi aberta aos participantes, os deputados ouviram sugestões como a de criação de conselhos municipais de segurança pública, o pedido de que os debates pudessem chegar aos municípios pequenos e queixas quanto à falta de recursos para a segurança pública. Em seguida, os participantes foram divididos em três grupos de trabalho para analisar propostas e apresentar sugestões sobre os seguintes temas: "Ações preventivas e envolvimento da sociedade" (Grupo I); "Financiamento da segurança pública"(Grupo II) e "Sistema de justiça criminal, compartilhamento da informação e administração de recursos humanos" (Grupo III). Os grupos foram coordenados, respectivamente, pelo presidente do Conselho de Segurança Pública, João Carlos Pedrosa; pelo auditor setorial da Polícia Civil de Minas Gerais, Gustavo Persichini de Souza e pelo especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental da Superintendência de Integração da Secretaria de Estado de Defesa Social, Lisandro Nei Gualberto.

Moção de repúdio - Ao final do dia, foram eleitos 12 delegados que representarão a Zona da Mata na etapa final do evento, que acontecerá em Belo Horizonte. Foram eleitos seis delegados no Grupo I, dois no Grupo II e quatro no Grupo III. Por unanimidade, na plenária final, foi aprovada moção de repúdio pelo não comparecimento de representantes do Judiciário e do Ministério Público ao encontro regional do seminário.

Participaram da plenária final, compondo a mesa dos trabalhos, representantes da Delegacia Regional da Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros Militar, da Polícia Militar e da Prefeitura de Juiz de Fora.

As próximas cidades que sediarão os encontros regionais do seminário legislativo são Pouso Alegre (Sul de Minas), no dia 11 de julho, e Montes Claros (Norte de Minas), no dia 14.

 

 

 

 

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