Saúde Mental já está no Programa de Saúde da Família, diz psiquiatra

A Comissão Especial de Transtorno, Deficiência Mental e Autismo realizou sua sexta reunião ordinária na tarde desta q...

29/06/2006 - 00:01
 

Saúde Mental já está no Programa de Saúde da Família, diz psiquiatra

A Comissão Especial de Transtorno, Deficiência Mental e Autismo realizou sua sexta reunião ordinária na tarde desta quinta-feira (29/6/06), com a presença de especialistas, dirigentes de instituições e o Auditório da Assembléia Legislativa de Minas Gerais lotado de pacientes, familiares e trabalhadores das instituições privadas que os atendem. A principal revelação foi feita pelo psiquiatra Políbio José Campos, coordenador de Saúde Mental da Prefeitura de Belo Horizonte: a Saúde Mental já integra as equipes do Programa de Saúde da Família.

O deputado Célio Moreira (PSDB), presidente da comissão, relatou a visita que realizou na parte da manhã às instituições André Luiz e Cersam Oeste, e manifestou sua inquietação com o tratamento que é dado aos pacientes, principalmente aos idosos, e o sofrimento dos familiares que são agredidos pelos filhos. Em seguida deu a palavra por 15 minutos a cada um dos convidados, que foram dez.

Natália Inês Costa, gerente de Desenvolvimento do Centro Especializado Nossa Senhora Assumpção, disse que 1,68% da população brasileira é composta por deficientes mentais graves. Seriam 2,8 milhões de brasileiros que têm direito a atendimento especializado, individualizado e integral. Falou também da longevidade que a medicina trouxe a esses pacientes, alguns com mais de 70 anos.

Ana Senra, coordenadora clínica da Fundação de Assistência Especializada de Nova Lima, discorreu sobre as linhas teóricas de tratamento, e estabeleceu os conceitos de diferente e deficiente, afirmando que hoje não se fala mais em reabilitar ou corrigir, mas em incluir. "Os sistemas educacionais é que precisam mudar". Falou sobre o trabalho do NUPI - Núcleo de Prevenção e Intervenção.

Pacientes hospedados em hotéis especializados reduzem stress

Outra experiência relatada foi do Hotel Crer-Ser, que apresenta um conceito de tratamento para o paciente que alivia o stress dos familiares. Luciana Braga Guerra, responsável técnica, assegurou que não é local de isolamento, porque os pacientes podem voltar ao convívio familiar, freqüentar parques, clubes e hotéis-fazenda.

Margaret Pereira Leal de Assis dirige a Escola Especial Creia, de Belo Horizonte, e relatou casos notáveis de pacientes agressivos, potencialmente suicidas, que se tornaram úteis e produtivos após aulas de dança, música, educação física, natação, e depois, na Casa do Ofício, com assistência de pedagogos e instrutores de ourivesaria, artesanato, etc. Os pacientes prepararam salgados que foram distribuídos durante a reunião.

Por sua vez, Maria Dolores da Cunha Pinto, vice-presidente da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae-BH), disse que a Apae teve um grande crescimento com as mobilizações na época das constituintes estadual e federal, e que por isso tinha presença em 2.200 municípios brasileiros. "Estamos em 440 municípios mineiros, atendendo a 52 mil pessoas", informou. Entre os direitos garantidos pela legislação e que não estão sendo cumpridos, ela destacou que é obrigatório assegurar condições de acessibilidade na construção de novas escolas.

Uma associação assemelhada à Apae é a Apape - Associação de Pais e Amigos de Pessoas Especiais. Sua presidente, Estela Mares Guillen de Souza, manifestou sua preocupação com a violência contra os deficientes. "De cada doze desaparecidos, nove são deficientes, e essa estatística poucos ficam sabendo". Estela cobrou dos governantes todos os direitos assegurados aos deficientes.

Um ponto de vista diferente foi trazido pela representante da Arquidiocese de BH, Leila Regina da Silva. Ela disse que uma discussão dentro da Igreja criou embaraços ao se identificar a dívida histórica da sociedade e do clero com os deficientes. Isso desfechou uma pesquisa para identificar onde estão, como vivem, o que necessitam, e uma ação para valorizá-los e melhorar sua auto-estima.

A deputada Maria Tereza Lara (PT) e o psiquiatra Políbio José Campos mostraram linhas análogas de raciocínio, ao dizerem que o momento de construir políticas públicas para esses pacientes é o momento presente. Políbio defendeu a desospitalização, apresentando o argumento de que, nos Estados Unidos, em um ano, morreram 150 pessoas sob contenção. Destas, 40% estavam em instituições privadas e 26% eram jovens. "A segregação ocorre por razões práticas. Cabe a nós e à sociedade fiscalizar sempre para evitar abusos e ilegalidades", afirmou.

No final da reunião, o deputado Doutor Viana (PFL) manifestou seu otimismo em relação ao relatório a ser elaborado pela comissão. Ele disse que os parlamentares estão conscientes da necessidade de que sejam traçadas políticas públicas capazes de minorar o sofrimento das famílias de pessoas que sofrem de transtorno mental.

Requerimentos - Três requerimentos assinados pelos deputados Célio Moreira e Doutor Viana e pela deputada Maria Tereza Lara foram aprovados. O primeiro pede que sejam enviados ofícios às Promotorias de Defesa dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência e dos Idosos das comarcas de Belo Horizonte e Nova Lima, solicitando-lhes o envio à comissão de cópias dos autos do processo relativo ao encerramento das atividades do Hotel Crer-Ser. O segundo requerimento solicita o envio de um ofício à Secretaria de Estado da Saúde e à Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, pedindo cópia dos relatórios de vistorias realizadas na Escola Especial Creia e no Hotel Crer-Ser. O outro requerimento aprovado solicita a realização de uma audiência pública com a finalidade de promover um debate entre a sociedade e os convidados permanentes da comissão.

Presenças - Deputados Célio Moreia (PSDB), presidente; e Doutor Viana (PFL); e a deputada Maria Tereza Lara (PT), relatora.

 

 

 

 

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