Copasa nega risco de privatização com criação de subsidiárias

O presidente da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Márcio Augusto Vasconcelos Nunes, negou, nesta quar...

28/06/2006 - 00:00
 

Copasa nega risco de privatização com criação de subsidiárias

O presidente da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Márcio Augusto Vasconcelos Nunes, negou, nesta quarta-feira (28/6/06), os riscos de privatização e de redução de salários na empresa, com a criação de subsidiárias para exploração econômica das águas minerais do Sul de Minas, oferta de água para irrigação no Projeto Jaíba II e atendimento das populações dos Vales do Mucuri, Jequitinhonha e São Mateus e Norte de Minas e municípios carentes. A criação dessas subsidiárias está prevista no Projeto de Lei (PL) 3.374/06, do governador, que tramita na Assembléia Legislativa de Minas Gerais em 1º turno e em regime de urgência e que foi discutido em reunião das Comissões de Administração Pública e de Fiscalização Financeira e Orçamentária.

A reunião, que durou cerca de três horas, foi marcada, de um lado, pela defesa do projeto feita por representantes da Copasa e por deputados da base do Governo na Assembléia. De outro lado, parlamentares do PT e Sindágua fizeram várias críticas ao conteúdo e à forma da tramitação da matéria. O presidente do sindicato que reúne os trabalhadores da empresa, José Maria dos Santos, questionou o porquê da rapidez da tramitação e cobrou uma audiência pública com a participação de prefeitos, vereadores e população das regiões contempladas pelo projeto. Servidores da Copasa também marcaram presença nas galerias do Plenarinho IV, portando faixa que cobrava que "saneamento é vida; privatização, não".

Subsidiária dos Vales - Os deputados Edson Rezende e Laudelino Augusto e a deputada Elisa Costa, do PT, reivindicaram que fosse retirada do projeto a menção à subsidiária que, segundo parecer aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça, será criada para "planejar, projetar, executar, ampliar, remodelar e explorar serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário em localidades dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri, São Mateus e Norte de Minas e em outras regiões com IDH abaixo da média do Estado, onde a Copasa atue ou venha a atuar". O Sindágua reiterou o pedido, solicitando mais tempo para discutir o assunto. As dúvidas englobam, entre outros aspectos, os riscos de precarização do serviço e de redução do salários dos servidores, bem como o fim do subsídio cruzado como forma de atender os municípios mais carentes.

Presidente da Copasa explica projeto

O presidente da Copasa explicou que, ao criar a subsidiária dos Vales, seria possível praticar uma tarifa diferenciada para essas regiões sem prejudicar a companhia, fazendo uso, inclusive, de recursos a fundo perdido que poderiam vir tanto dos governos estadual e federal, quanto de instituições internacionais. Criar subsidiárias também foi a solução encontrada pela companhia para assumir atividades totalmente diferentes das atuais, como a oferta de água para irrigação no Jaíba II e a exploração econômica das águas minerais do Sul de Minas.

Salários - Márcio Nunes explicou ainda que o pessoal que vier a ser contratado será submetido a concurso público. Poderão ser aproveitados, por meio de cessão às subsidiárias, funcionários de nível gerencial. O presidente da companhia admitiu a possibilidade de os funcionários das subsidiárias receberem salários diferentes daqueles dos trabalhadores da Copasa. Garantiu, no entanto, que serão pagos salários superiores à média das localidades onde essas empresas forem instaladas. Nunes repetiu, durante a reunião, que, entre salários e benefícios, nenhum empregado da companhia recebe hoje menos de R$ 1,2 mil mensais. Ele também enfatizou que todas as subsidiárias a serem criadas serão integrais, ou seja, 100% de seu capital pertencerão à Copasa.

Segundo o presidente da Copasa, o lucro líquido da empresa em 2005 foi de R$ 288 milhões, quantia considerada baixa por ele, levando-se em conta os investimentos na ordem de R$ 900 milhões, em 2006. "Por isso temos reduzidos nossos custos mês a mês, menos com despesa de pessoal. Isso não está nos nossos planos", garantiu.

Trabalhadores questionam - Para o presidente do Sindágua, José Maria dos Santos, o risco de privatização não está afastado. "Hoje não se fala em privatização, mas em terceirização, quarteirização. O que interessa hoje na Copasa é o resultado financeiro para pagamento dos acionistas. A universalização dos serviços está em segundo plano", opinou. O presidente da Federação dos Urbanitários, Luiz Cláudio Simões, completou a crítica, afirmando que hoje os salários são diferenciados, em comparação com a matriz; que a tarifa da Copasa não abaixou e que "o lucro é o mesmo".

Polêmica é centrada na subsidiária dos Vales

Referindo-se à subsidiária dos Vales, o deputado Edson Rezende questionou qual o nível de benefício que a empresa traria para a região. Segundo ele, 84 das 92 cidades dos Vales do Mucuri, Jequtinhonha e São Mateus já seriam atendidas pelo serviço de água da Copasa. Também ponderou que recursos a fundo perdido podem ser utilizados para investimento e não para custeio. O deputado afirmou ainda que, ao criar a subsidiária, já não haverá mais possibilidade de subsídio cruzado, instrumento para levar água de qualidade a um preço menor para a população. "Como vamos, então, reduzir o dispêndio? Será com a precarização dos serviços e com a redução dos salários?"

A deputada Elisa Costa lembrou que hoje a Copasa justifica as tarifas mais altas pelo instrumento do subsídio cruzado, que financiaria as localidades deficitárias. "Haverá, então, mudanças na tarifa das cidades superavitárias?", disse. Respondendo aos parlamentares, Márcio Nunes enfatizou que o subsídio cruzado "não é mágica que tira recursos de onde não existe e os multiplica". Ele informou que o preço médio do m³ de água é R$ 1,70, pois há municípios onde o custo é de R$ 0,60/m³ e outros onde o valor chega a R$ 5,00/m³. Segundo o presidente da Copasa, para atender todas as cidades de Minas (inclusive as 240 onde a companhia não atua), o preço médio subiria para R$ 3,40/m³. "Não há como os municípios mais carentes pagarem esse valor. Chegamos a um limite do subsídio cruzado como forma de atender essas cidades", concluiu.

A Copasa também informou, em entrevista após a reunião, que, dos 92 municípios das regiões de Mucuri, São Mateus e Jequitinhonha, tem a concessão de serviços de água de 84, mas opera efetivamente em 76, devido à impossibilidade de pagamento dos demais. Em relação ao tratamento de esgoto, de 16 cidades, o trabalho efetivo se dá em apenas sete. A direção da companhia defende que somente por meio da atuação de subsidiária dos Vales todos os municípios poderiam ser atendidos, inclusive 200 distritos e mais de mil localidades.

Estâncias - O deputado Laudelino Augusto (PT) reiterou, na reunião, o apelo para que o projeto fosse desmembrado, sugerindo que os parlamentares votem em primeiro lugar a criação de duas subsidiárias: a que atuará na exploração das águas das estâncias hidrominerais e a que cuidará do Projeto Jaíba II. Segundo o parlamentar, a população do Sul de Minas espera há tempos pela retomada do envazamento das águas, a fim de que a atividade gere emprego, renda e turismo para a região. "Nossa expectativa, no entanto, era de que o projeto tratasse apenas da subsidiária para exploração das águas minerais e não de outras três", criticou. Segundo Márcio Nunes, serão investidos R$ 10 milhões nesse projeto, com o qual a companhia espera ter boa rentabilidade.

Deputados defendem projeto

Após as explicações da Copasa, deputados da base do Governo na Assembléia fizeram uma análise positiva do projeto. O presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, deputado Domingos Sávio (PSDB), que presidiu a reunião conjunta, defendeu que, com a criação da subsidiária dos Vales, a Copasa poderia buscar recursos em órgãos de financiamento para viabilizar o atendimento em localidades deficitárias, sem prejuízos ou ônus para as demais cidades. O deputado Fahim Sawan (PSDB), que é relator do projeto pela Comissão de Administração Pública, lembrou ser o momento do debate importante para fundamentar seu parecer, que deverá ser discutido na tarde desta quarta-feira (28).

Ex-diretor da companhia, o deputado Fábio Avelar (PSC) lembrou que Emenda à Constituição condiciona a privatização da Copasa ao envio de projeto à Assembléia, a ser aprovado com quórum qualificado, e ao fato de que a decisão do Plenário será submetida a referendo popular. Ele defendeu a pulverização de serviços, assim como a ampliação da área de atuação da companhia. Fábio Avelar lembrou, ainda, que proposta de emenda de sua autoria, apresentada à Comissão de Constituição e Justiça, estabelece que as tarifas praticadas pela subsidiária que atuará nos Vales do Jequitinhonha, São Mateus, Norte e nas regiões com IDH abaixo da média serão diferenciadas, sempre inferiores às utilizadas pela Copasa.

Já o deputado Gustavo Valadares (PFL) lembrou que as populações pobres de municípios carentes também têm direito a receber água tratada de qualidade e saneamento de esgoto, como acontece nas regiões mais desenvolvidas do Estado. "Estou convencido de que isso só será possível a partir da criação da subsidiária", enfatizou.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Domingos Sávio (PSDB), presidente; Fahim Sawan (PSDB), presidente da Comissão de Administração Pública; José Henrique (PMDB), Luiz Humberto Carneiro (PSDB), Fábio Avelar (PSC), Gustavo Valadares (PFL), Elisa Costa, Edson Rezende e Laudelino Augusto, todos três do PT.

 

 

 

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