Deputados conhecem unidade de biodigestores em Patos de
Minas
A necessidade de legislação que normatize o
comércio de créditos de carbono no Brasil e no Estado, prevendo
incentivos à implementação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL), foi apresentada aos deputados da Comissão Especial do
Protocolo de Quioto da Assembléia Legislativa de Minas Gerais,
durante visita à Granja Becker, em Patos de Minas, nesta
quarta-feira (21/6/06). "Queremos apoio para ampliar nosso poder de
negociação", afirmou o sócio-gerente da granja, Willian Gomes
Eugênio. A Granja Becker foi a pioneira na instalação de
biodigestores para o tratamento dos dejetos de suínos. O deputado
Laudelino Augusto (PT), presidente da comissão, afirmou que o
objetivo dos deputados é identificar o potencial do Estado para dar
o apoio necessário às iniciativas de controle de emissão de carbono
na atmosfera. Ele informou que protocolou emendas ao projeto da Lei
de Diretrizes Orçamentárias (LDO) nesse sentido.
O suinocultor de Patos de Minas acredita na
importância de um maior envolvimento dos governos no processo do MDL
para que os contratos de negociação de créditos de carbono tenham
maior respaldo. Ele comentou que o Ministério de Ciência e
Tecnologia aprovou o projeto da Granja Becker, mas nunca esteve lá.
Willian Eugênio disse também que gostaria de ver as secretarias de
Estado mais entrosadas com o projeto. O deputado Elmiro Nascimento
(PFL) sugeriu que os secretários das pastas relacionadas com a
questão fossem chamados a participar de uma reunião da comissão.
A experiência na implantação dos biodigestores na
Granja Becker também foi apresentada aos deputados pelo
sócio-gerente do empreendimento. Willian Eugênio afirmou que a
tecnologia implantada na granja é totalmente nacional, desenvolvida
em parceria com a Unesp de Jaboticabal (SP), e financiada com
recursos da empresa irlandesa AgCert S.A., que negociou os créditos
de carbono que serão gerados pelo empreendimento. A Granja Becker
tem 500 matrizes (fêmeas) e cerca de 5 mil suínos, que produzem 80
mil m3 de dejetos por dia. Esses dejetos geram o
equivalente a mil m3 de biogás diariamente, ou seja, 33
botijões de gás de cozinha ou 500 litros de gasolina. Essa energia
serviria para abastecer uma cidade com 1.500 habitantes. A mesma
quantidade de dejetos produz cerca de uma tonelada de
biofertilizante tratado por dia.
Dejetos dos suínos são mais lucrativos que a
carne
O investimento para a construção dos biodigestores,
incluindo a tramitação do processo de MDL na ONU, foi de cerca de U$
40 mil dólares, em 2004. A granja gera 7 mil créditos de carbono por
ano, que vêm sendo comercializados por cerca de seis euros. De
acordo com Cláudio Hister, da empresa Iengep, uma das parceiras no
projeto da Granja Becker, os dejetos valem hoje muito mais que a
carne do suíno. Somando o que o suinocultor pode ganhar com o biogás
e o biofertilizante, os lucros do empreendedor podem quadruplicar em
relação ao comércio da carne.
Vantagens do projeto são discutidas em audiência
À tarde, o aplicação do MDL na suinocultura foi
tema de audiência pública da comissão na Câmara Municipal de Patos
de Minas. O deputado Elmiro Nascimento elogiou o trabalho da Granja
Becker por seu pioneirismo. Segundo ele, 75% da genética suína está
em Patos de Minas. "O papel da Assembléia Legislativa nesse processo
é interligar a sociedade civil e o Executivo", defendeu.
As vantagens da aplicação do MDL da suinocultura
foram destacadas por Willian Eugênio. Além da redução de gases de
efeito estufa na atmosfera, com a adoção dos biodigestores, ele
citou a diminuição dos odores, da poluição do solo e do risco de
contaminação do lençol freático e dos rios. O produtor explicou que,
antes dos biodigestores, os efluentes gerados pelos suínos eram
lançados em lagoas a céu aberto, sem nenhum tratamento. Entre as
vantagens econômicas do projeto está a produção de energia renovável
e a geração de créditos de carbono. "A possibilidade de
comercialização dos créditos de carbono veio em um momento de crise
da suinocultura e trouxe novo ânimo para o setor, porque nos deu a
chance de nos adequarmos à legislação sem precisar investir",
afirmou.
O gerente comercial da Sansuy, Daniel Satoru Honda,
explicou que a empresa, parceira japonesa do projeto, não criou o
biodigestor, apenas adaptou o material para que a confecção dos
aparatos ficasse mais barata. Ele explicou que o metano é 21 vezes
mais poluente que o gás carbônico. Para a construção dos
biodigestores são feitas escavações em dois níveis onde os dejetos
ficam armazenados por 28 dias, período em que ocorre a fermentação
do material. Essas cavas são impermeabilizadas e cobertas com lonas
que guardam os gases produzidos pela decomposição dos efluentes. Em
seguida, os dejetos são lançados em uma lagoa, onde permanecem por
mais 15 dias. O passo seguinte é o despejo em uma segunda lagoa,
também forrada com lona, por mais 15 dias. Os desejos saem dessa
etapa como biofertilizantes prontos. Também há uma espécie de forno,
onde o gás é queimado.
O coordenador de Licenciamento Ambiental do IEF,
Jadir Silva de Oliveira, acredita que o maior desafio do MDL na
suinocultura é atingir os pequenos produtores. "Todo processo
produtivo resulta em resíduos e essa é a parte mais difícil de se
administrar em um negócio", afirmou. Como alternativa para isso,
Daniel Honda sugeriu que esses produtores se reunam em consórcios ou
criem institutos para negociar créditos de carbono.
Presenças - Deputados
Laudelino Augusto (PT), presidente; e Elmiro Nascimento (PFL). Além
dos convidados citados na matéria, participaram da audiência o
presidente da Câmara Municipal de Patos de Minas, João Bosco de
Castro; e o secretário municipal de Meio Ambiente, Ronaldo Siqueira.
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