Novas vagas em presídios não resolvem superpopulação prisional

Apesar da transferência de 1.500 presos de delegacias para novas unidades prisionais da Região Metropolitana de Belo ...

21/06/2006 - 00:00
 

Novas vagas em presídios não resolvem superpopulação prisional

Apesar da transferência de 1.500 presos de delegacias para novas unidades prisionais da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a situação continua caótica nos presídios, com freqüentes denúncias de violações de direitos humanos e tráfico de influência. As constatações foram relatadas nesta quarta-feira (21/6/06), em reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. A comissão reuniu-se em audiência pública, por requerimento do seu presidente, deputado Durval Ângelo (PT), para debater a questão carcerária na RMBH.

Segundo Durval Ângelo, as novas unidades, como o pavilhão extra do Presídio Nelson Hungria, em Contagem, e a penitenciária de Ribeirão das Neves, não aliviaram a superpopulação. E outros problemas têm sido denunciados, segundo o deputado, como a violação de direitos humanos e a cobrança pela transferência para unidades de melhores condições (sistema chamado "bonde"), pela disponibilização de celulares em celas e pelo fornecimento de comida.

Além da superlotação, foram citados outros problemas, como a dificuldade de celebração de convênios do Estado com a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac), para a implantação do modelo em Santa Luzia. Segundo o professor Fábio Alves dos Santos, presidente do Conselho de Fundadores das Apacs/RMBH, a unidade prisional de Santa Luzia ainda não está ocupada. "Apesar de nossos esforços há nove meses, o convênio com o Estado não sai, porque há sempre nova exigência em seus termos", lamentou.

Esforços de subsecretaria não são suficientes

Fábio dos Santos manifestou seu temor de que o presídio seja transformado em um "cadeião", fugindo do objetivo inicial de destinar parte das vagas para o modelo das Apacs. Contudo o professor elogiou o empenho do governo estadual, especialmente da Subsecretaria de Administração Penitenciária, em solucionar o problema da superlotação. A opinião foi compartilhado pelo juiz Herbert Almeida Carneiro, da Vara de Execuções Criminais de Belo Horizonte, que contudo, denunciou o descompasso existente entre o que a comissão encarregada das transferências de presos define e o que é executado. A comissão tem representantes da Polícia Civil, Secretaria de Estado de Defesa Social, Ministério Público e Defensoria Pública.

Herbert Carneiro denunciou ainda que além do descompasso, há falta de transparência nas transferências e descumprimento de alguns acordos, como o de que não sejam enviados presos para a Delegacia Seccional de Venda Nova, "que já teve 160 presos alojados no pátio em condições subumanas e ainda hoje mantém 64". Herbert Carneiro disse que a superpopulação é um problema de outras unidades do Estado, e que mesmo com as novas vagas anunciadas para o segundo semestre (400 para a Dutra Ladeira e 820 para São Joaquim de Bicas), a situação ainda persistirá. E anunciou a visita a Minas do Conselho Nacional de Política Penitenciária, em agosto, para verificação dos resultados da política mineira para o setor, "mas também para o levantamento dos problemas".

O diretor executivo da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (Fbac) e presidente da Apac de Itaúna, Valdeci Antônio Ferreira, pediu mais atenção para o modelo de administração prisional desenvolvido pela associação. Ele destacou que a Apac não é uma unidade física, mas uma metodologia, "que precisa ter garantidos os recursos para o funcionamento das unidades onde é empregada".

O deputado Roberto Ramos (PSDB) concordou com as colocações dos convidados sobre as dificuldades do sistema prisional, destacando a situação de Santa Luzia. Mas manifestou esperança na sensibilidade do governador Aécio Neves, de modo que das 10 mil vagas anunciadas para o ano que vem, pelo menos 5 mil sejam destinadas para a Apac.

Audiência de Itapecerica resulta em requerimentos

Foram aprovados os seguintes requerimentos:

Do deputado Durval Ângelo: solicita à Polícia Civil a abertura de inquérito para apurar possível existência de substituição de boletim de ocorrência de abordagem e apreensão de adolescente em Itapecerica, que resultou em sua morte; envio de ofício à Universidade de Campinas solicitando a perícia e recuperação de CD referente a este caso; envio de ofício à Subsecretaria de Administração Penitenciária e Polícia Civil para a reforma da cadeia de Itapecerica; envio de ofícios à 1ª Auditoria da Justiça Militar do Estado, à Promotoria de Justiça de Direitos Humanos, à Promotoria de Itapecerica, à Corregedoria da Polícia Militar, encaminhando as notas taquigráficas da reunião realizada naquela cidade no dia 14 de junho; e que seja agendada nova visita da comissão à 1ª Auditoria de Justiça Militar para solicitar agilidade na apuração de possível desvio de conduta de policiais militares envolvidos no episódio do adolescente morto. E ainda os requerimentos de retirada de tramitação do Requerimento 6.619/06; e o envio de ofício ao governador Aécio Neves, solicitando a retirada de projeto de sua autoria que revoga leis que garantem aos trabalhadores rurais sem terra o direito de serem assistidos pela Comissão de Direitos Humanos, durante retirada por ordem judicial.

Dos deputados Durval Ângelo, Rogério Correia e Jésus Lima, todos do PT: o envio de cópias das notas taquigráficas da audiência pública realizada em Montes Claros em 7 de junho, para tratar das terras dos quilombolas, ao Ministério da Igualdade Racial, ao Incra, ao Iter e ao CAO de Conflitos Agrários (órgão do Ministério Público); envio de cópia do manifesto "Grito das mulheres e homens vazanteiros" ao IEF e ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Direitos Humanos; envio de cópia da "Carta dos quilombolas" a autoridades mineiras e ao Incra; envio de ofício ao presidente do Incra lamentando a ausência de representação na audiência de Montes Claros; realização de debate público, na Assembléia, para discutir problemas de regularização das terras dos quilombolas.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PSDB), vice; e Paulo Cesar (PDT).

 

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