Comissão de Cultura debate interiorização de incentivos fiscais

O substitutivo ao Projeto de Lei (PL) 2.880/05, de autoria da deputada Elisa Costa (PT), que trata da regionalização ...

14/06/2006 - 00:00
 

Comissão de Cultura debate interiorização de incentivos fiscais

O substitutivo ao Projeto de Lei (PL) 2.880/05, de autoria da deputada Elisa Costa (PT), que trata da regionalização do incentivo à cultura, foi debatido nesta quarta-feira (14/6/06) na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, durante audiência da Comissão de Cultura, com a presença da secretária de Estado da Cultura, Eleonora Santa Rosa. O substitutivo é fruto do trabalho de um grupo criado para discutir as alterações que se fazem necessárias na Lei 12.733, de 1997, conhecida como Lei Estadual de Incentivo à Cultura. As discussões têm ainda o objetivo de subsidiar o relator, deputado Biel Rocha (PT), relator do projeto.

A deputada Elisa Costa, autora, junto com o deputado Biel Rocha, do requerimento para a audiência, explicou que foi motivada a propor a regionalização da concessão de incentivos culturais por várias entidades de regiões como o Norte de Minas, Mucuri e Jequitinhonha. Mas reconheceu que sua primeira proposta merecia correções. "Estou feliz com a forma participativa como esse processo foi conduzido", frisou. O deputado Biel Rocha salientou que os discussões do grupo de trabalho para aprimoramento do PL 2.880/05 tiveram como base a avaliação da aplicação da Lei 12.733 nos últimos anos.

O substitutivo "preliminar", como frisou o parlamentar, estabelece na lei uma prática hoje usada no edital para projetos culturais, que é a exigência de qualificação técnica do empreendedor cultural para executar o projeto. Mas cria a qualificação por faixas de recursos a serem definidas em regulamentação, superiores a 9.075 Unidades Fiscais do Estado de Minas Gerais (cerca de R$ 15 mil atualmente). Outra alteração busca escalonar também as faixas de dedução, aumentando o percentual para empresas menores, inclusive microempresas, que pagam menos imposto. Essa modificação, na visão do grupo de trabalho, ampliaria o número de empresas com capacidade de conceder o incentivo, sem alterar o percentual final de 0,3% do imposto destinado a esse fim.

As microempresas poderiam ainda, de acordo com o substitutivo, deduzir até 100% do total de recursos destinados ao projeto, sem a contrapartida de 20% exigida hoje. Outro ponto central é a destinação de 4% do total de recursos para apoio à produção cultural local de cada uma das dez regiões de Planejamento do Estado, buscando garantir a desconcentração dos recursos. Números divulgados pela secretária de Estado de Cultura, Eleonora Santa Rosa, na reunião mostram que a Região Central, onde está Belo Horizonte, respondeu por 74,81% do total de recursos pleiteados para projetos culturais e por 75,59% do total aprovado neste ano. No outro extremo, o Alto Paranaíba ficou com 0,10% dos recursos pleiteados e 0,22% dos aprovados, enquanto a Região Noroeste ficou com 0,11% e zero, respectivamente.

Ainda buscando fortalecer a descentralização, o substitutivo prevê representantes da sociedade civil das regiões de Planejamento do Estado na Comissão Técnica de Análise de Projetos (Ctap), da Secretaria de Cultura. Essa comissão seria ainda dividida em seis câmaras setoriais. Outra proposta é a disponibilização, para captação, de recursos incluídos na dívida ativa até o ano anterior à publicação do edital - e não apenas dos recursos incluídos até 1999, como diz a Lei 12.733, de 1997. De acordo com a substitutivo, os projetos acompanhados de uma Declaração de Intenção de uma empresa disposta a financiar pelo menos 50% do valor total do projeto teriam prioridade de avaliação.

Outro ponto polêmico é a aprovação facilitada para pequenos projetos, de até 9.075 Ufemgs (cerca de R$ 15 mil), que tenham a Declaração de Intenção, até o limite de 5% do valor total dos recursos dedutíveis. O substitutivo reduz ainda, de 35% para 20% do total de recursos, o teto para financiamento ao setor público pela Lei de Incentivo à Cultura. Por fim, a proposta prevê o teto de 15% do valor do projeto para despesas administrativas e veda a possibilidade de que um mesmo projeto receba incentivos da Lei de Incentivo e do Fundo Estadual de Cultura, em fase final de implantação pelo Estado.

Secretária de Cultura analisa modificações propostas

A secretária Eleonora Santa Rosa enfatizou que a Secretaria de Cultura já vem trabalhando no sentido de interiorizar os recursos da Lei de Incentivo à Cultura. Segundo ela, quesitos técnicos e até mesmo uma maior pontuação para projetos do interior foram introduzidos no edital. Além disso, a infra-estrutura de cultura vem tendo prioridade sobre eventos. "O que me preocupa é em que medida podemos obrigar uma empresa a investir em uma determinada região. A cota pode engessar a lei e criar distorções", frisou. Para a secretária, a contrapartida das microempresas também não pode ser extinta, para não criar uma concorrência desleal.

Segundo Eleonora, a Secretaria da Fazenda pode vedar a entrada das microempresas no incentivo cultural, em função do Programa Micro Gerais, que já prevê outros incentivos. "É uma questão dogmática. Segundo a Fazenda, isso criaria uma situação insustentável do ponto de vista fiscal", salientou. Da mesma forma, ela acredita que a Fazenda não permitirá o uso de recursos da dívida ativa na forma do substitutivo (com desconto de 25%), para não incentivar a inadimplência. A secretária criticou ainda o que chamou de "aprovação automática" para pequenos projetos e defendeu a avaliação da consistência dessas propostas.

Com base nos números demandados por cada região neste ano, Eleonora avaliou que os 4% destinados a cada região serão um instrumento artificial. "Teremos que redistribuir o bolo", previu. Além disso, segundo ela, as Declarações de Intenção fortalecem os que já são fortes no processo e abrem o caminho para documentos fictícios, que podem não ser honrados depois. "Há ainda um rito burocrático, de julgamento, que precisa ser conhecido", acrescentou Eleonora. Mesmo defendendo a participação de representantes do interior na Ctap, ela lembrou que, neste ano, 1.814 projetos foram avaliados e 493 aprovados, sendo 207 do interior, em 20 reuniões realizadas em um prazo de cem dias. "Essas pessoas não têm remuneração", lembrou.

A secretária salientou ainda que o Fundo Estadual de Cultura pode ser um instrumento para corrigir essa centralização de recursos na Região Central. Ela pediu um esforço dos deputados para ampliar o orçamento do Fundo, que chega a R$ 10,4 milhões neste ano. De acordo com Eleonora, até o próximo dia 30 de junho, a regulamentação do Fundo deverá ser publicada, e até 30 de julho, deverá ser publicado o edital para este ano. "Esperamos receber os projetos em agosto e liberar os recursos até o final de setembro", previu.

Debate traz novas idéias para o projeto

Durante os debates, o representante do Fórum Técnico de Cultura realizado pela ALMG em 2004, Cássio Pinheiro, enfatizou que o grupo de trabalho que preparou o substitutivo se preocupou em diminuir erros e injustiças que qualquer processo de escolha traz. "A idéia é que a Lei seja um instrumento do Estado e não de um Governo", salientou. Para ele, é preciso discutir com a Secretaria da Fazenda a questão das microempresas, o que foi reforçado também pelo deputado Biel Rocha. Pinheiro defendeu ainda ações para estimular as regiões a atingirem os 4% dos recursos garantidos para cada uma delas. E opinou que as Declarações de Intenção evitam o engessamento de recursos, com projetos aprovados e sem captação.

Já o presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas (Sinparc), Rômulo Duque, criticou o que chamou de pulverização de recursos, que atrapalharia, segundo ele, a criação de um mercado profissional de cultura em Minas. Sobre isso, a presidente da Associação Cultural Dança Minas, Baby Mesquita salientou a responsabilidade também dos municípios pelo incentivo local à cultura. E a representante do Instituto de Arte Contemporânea Amílcar de Castro, Mara do Nascimento Fassy, manifestou sua preocupação com a retirada de recursos da Capital, onde a produção cultural é crescente.

Já o ator e diretor Wellington Santos sugeriu a criação de editais específicos para o interior, sem fixação de percentuais na lei. O presidente da Ctap, Rômulo Avelar, por outro lado, explicou os critérios de avaliação dos projetos e informou que a Secretaria está elaborando um manual de prestação de contas e fará diversos treinamentos em todo o Estado, visando à correta elaboração de projetos por parte dos empreendedores. Segundo Elisa Costa, o assunto continuará sendo debatido no grupo de trabalho. Ela defendeu, porém, as cotas para incentivar as regiões - ainda que de forma não permanente - e a aprovação simplificada, mas com critérios, dos pequenos projetos.

Presenças - Deputado Biel Rocha (PT) e deputada Elisa Costa (PT). Além dos convidados citados na matéria, compuseram a mesa da reunião: o professor da Univale e promotor do Tim Jazz Festival de Governador Valadares, Alpiniano Silva Filho, o Tim Filho; a presidente do Sindicato dos Artistas Técnicos de Minas Gerais (Sated), Magdalena Rodrigues; o representante do Movimento Teatro de Grupo, Gustavo Bartolozzi; e a superintendente de Ação Cultural da Secretaria, Silvana Pessoa.

 

 

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