Morte suspeita de rapaz leva Direitos Humanos a
Itapecerica
Duas versões contraditórias sobre a morte de um
rapaz de 17 anos, abordado por policiais militares em maio do ano
passado, na cidade de Itapecerica, a 180 km de Belo Horizonte. Esses
assuntos motivaram uma audiência pública da Comissão de Direitos
Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na Associação
Comercial e Industrial dessa cidade, nesta quarta-feira (14/6/06).
Familiares da vítima e autoridades prestaram depoimento diante do
presidente da Comissão, deputado Durval Ângelo (PT).
No dia 13 de maio de 2005, por volta das 19h15,
Thiago Rodrigues de Jesus saiu de casa para encontrar-se com um
amigo na praça São Francisco. Logo em seguida, a dupla foi abordada
por uma viatura da Polícia Militar, cujos ocupantes suspeitaram de
uso de drogas. Puseram-se em fuga, mas Thiago foi dominado pelo cabo
Adriano Alves da Costa, que lhe aplicou um golpe de estrangulamento.
Às 19h40, Thiago deu entrada na Santa Casa da cidade, algemado e
morto. O cabo ficou detido até que o laudo médico-legal expedido
pelo Instituto Médico Legal (IML) de Divinópolis apontou, como
causa-mortis, infarto agudo do miocárdio.
O tenente Eisenhower Guerck Austríaco, comandante
do destacamento da PM na cidade, alegou que Thiago entrara em luta
corporal com o cabo Adriano e lhe desferira três golpes de canivete,
perfurando sua gandola. Os militares informaram que o rapaz tinha
engasgado com uma bucha de maconha que tentava engolir, e que
procuraram socorrê-lo antes de levá-lo ao hospital. Afirmam que
chegou vivo ao hospital e que tentaram transferi-lo para uma UTI em
Divinópolis.
A família de Thiago, especialmente sua mãe, Diomar
Rodrigues de Jesus, sustenta que o rapaz foi barbaramente espancado
pelos PMs, sob as vistas da testemunha Ana Maria Melo Oliveira, que
procurou impedir os maus-tratos, mas teria sido ameaçada pelos
policiais. O médico de plantão lhes teria assegurado que Thiago
chegara morto. "Apesar de franzino, meu filho era ciclista, nadador
e capoeirista. Não posso acreditar que tenha morrido de infarto, nem
mesmo apanhando da Polícia", declarou Diomar Rodrigues.
Boletim de ocorrência teria sido adulterado
Por sua vez, o delegado de Polícia Álvaro Teodoro
da Silva estranhou que o boletim de ocorrência obtido no quartel
tenha sido alterado horas depois, para incluir auto de resistência à
prisão e outro histórico. Também o promotor público de Itapecerica,
Carlos José e Silva Fortes, relatou que o tenente Eisenhower teria
ameaçado, pela rádio local, prender quem fosse encontrado em público
comentando o caso.
Tal ameaça às liberdades civis foi considerada
grave pelo deputado Durval Ângelo, que solicitou cópia da entrevista
à rádio para enviar à Justiça Militar. O deputado também anunciou
que vai pedir ao Ministério Público que requeira exumação do
cadáver, para comprovar se não houve estrangulamento. Durval Ângelo
quer assistência do perito independente Roberto Campos, que tem
colaborado em outras investigações da Comissão de Direitos Humanos,
inclusive a da morte da modelo Cristiana Ferreira. Ao chefe de
Polícia, Otto Teixeira Filho, o deputado pedirá inquérito policial
para apurar adulteração do boletim de ocorrência. O tenente informou
que o cabo Adriano tem várias premiações por bons serviços, e que
foi transferido para a unidade policial de Iguatama.
Após a audiência, Durval Ângelo e o promotor Carlos
Fortes fizeram visita à cadeia pública de Itapecerica, onde se
encontram 35 presos, sete deles albergados. As condições não são
boas, mas foram melhoradas desde 2001, com doações da comunidade e
trabalho dos presos. Foi construída laje, área para banho de sol e
uma guarita de vigilância. Vários presos apresentaram reivindicações
ao deputado, que assegurou-lhes dar o encaminhamento devido.
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