Prefeitos do Norte de MG querem licença para construção de barragens

A viabilidade e a atual situação de licenciamento ambiental de três barragens no Norte de Minas foram discutidas pela...

14/06/2006 - 00:00
 

Prefeitos do Norte de MG querem licença para construção de barragens

A viabilidade e a atual situação de licenciamento ambiental de três barragens no Norte de Minas foram discutidas pela Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (14/6/06). Lideranças políticas e comunitárias dos municípios da região lotaram o Auditório pedindo agilidade na construção das barragens, pois já existem recursos destinados pelo governo federal para os empreendimentos. "A comissão quer se colocar como intermediária entre a população e os órgãos governamentais", explicou o autor do requerimento pela reunião, deputado Carlos Pimenta (PDT). Ele destacou que as barragens visam ao abastecimento humano e à perenização dos córregos, e apresentou requerimento para que os órgãos competentes sejam notificados sobre a reunião.

"Prevemos que vamos passar sede em pouco tempo se essa barragem não sair", alertou o prefeito de São João do Paraíso, José de Souza Nelcy, temeroso de que os recursos do governo federal acabem recebendo outro fim. O mesmo apelo fez o prefeito de Chapada do Norte, Eraldo Eustáquio Soares, que lembrou que o período de seca, e com ele os problemas sociais, já se aproxima. "Os produtores rurais têm empobrecido com o passar dos anos por causa da crueldade da seca", disse o prefeito de Jenipapo de Minas, Edson Honorato Figueiró.

Figueiró disse que o objetivo não é burlar a legislação ambiental, mas procurar meios para viabilizar a construção do empreendimento. A Barragem de Setúbal, por exemplo, que atingirá os municípios de Jenipapo de Minas e Chapada do Norte, recebeu licença prévia de operação, mas com 36 condicionantes, número que, como defendeu o prefeito, deveria ser revisado. As outras duas barragens previstas pelo convênio entre o Ministério da Integração Nacional e o governo do Estado, por meio da Fundação Rural Mineira (Ruralminas), são Galheiros, no município de Mamonas, e Peão, nos municípios de São João do Paraíso e Ninheira.

De acordo com o diretor de projetos da Ruralminas, José Elias da Cunha, todas as etapas exigidas pela legislação para a construção das barragens estão sendo seguidas. A localização das barragens, segundo ele, foi identificada após anos de estudo sobre o potencial das áreas e as regiões prioritárias.

Ritos são definidos pelo Copam

Depois do relato dos prefeitos, os representantes da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) falaram sobre a situação atual dos processos de licenciamento. João Paulo Sarmento, assessor do IEF, que representou também a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, disse que os empreendimentos não podem deixar de seguir os ritos processuais estabelecidos pelo Conselho de Política Ambiental (Copam); e que o IEF está dando andamento aos estudos que lhe são devidos com lisura e agilidade, dentro dos prazos. Ele esclareceu que não cabe ao instituto proceder a mudanças nas condicionantes, mas, sim, ao Copam.

Cristina Kristemann, assessora jurídica da Amda, que contestou a licença prévia dada pelo Copam à Barragem de Setúbal, disse que a intenção não é prejudicar o lado social, mas que não é possível neglicenciar aspectos legais. Segundo ela, o processo desrespeitou trâmites legais fundamentais, a começar pelo estudo de impacto ambiental apresentado, que não teria sido suficiente. "Empreendimentos desse porte não podem ser executados a toque de caixa só porque apareceu recurso", criticou. Além disso, completou, a bacia hidrográfica do Setúbal está degradada e a construção da barragem não será garantia de geração nem despoluição, mas apenas uma "iniciativa imediatista". "A prioridade deveria ser a revitalização da água", defendeu.

Providências serão tomadas

Durante os debates, vários participantes mostraram preocupação com a possibilidade de perda do prazo para execução dos recursos devido ao prazo estabelecido pela legislação eleitoral. Como sugestão, Fernando Antônio Cardoso, assessor da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, também recomendou que a comissão e a Ruralminas solicitem ao secretário de Agricultura que ele aprove o parecer do IEF, sendo depois submetido ao Copam.

Outra sugestão foi que a Ruralminas encaminhe um pedido ao Copam e ao IEF solicitando uma abreviação do tempo de trâmite do processo, transferindo parte das condicionantes a serem cumpridas para a fase seguinte da concessão da licença. O deputado Carlos Pimenta concordou com as sugestões e apresentou requerimentos nesse sentido, que serão votados na próxima reunião.

O presidente da comissão, deputado Laudelino Augusto (PT), informou que o assunto está sendo tratado com prioridade, diante do risco de o recurso ser utilizado em outros empreendimentos e devido à urgência da população do Norte de Minas. O deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) também ressaltou a importância de evitar a perda dos recursos, mas disse que é necessário assegurar que os procedimentos não passarão por cima da legislação e que as barragens irão realmente suprir a necessidade da comunidade. Já o deputado Jésus Lima (PT) cobrou agilidade e empenho dos órgãos ambientais estaduais para a conclusão dos processos de licenciamento, uma vez que já existe verba federal disponível.

Durante a discussão, o major João Luiz Ramos, do Centro de Controle de Emergência da Coordenadoria de Defesa Civil, afirmou que não basta apenas construir as barragens, é necessário ampliar o alcance da distribuição da água. O técnico da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Mário Augusto Ramos, alertou para o fato de que a barragem não melhora a qualidade da água nem evita a deterioração dos rios. O presidente da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Setúbal, Adail Ribeiro Soares, e vários vereadores e representantes da comunidade reforçaram o caráter de urgência das obras.

Copasa - No início da reunião, a comissão aprovou dois requerimentos: do deputado Laudelino Augusto, pedindo a realização de um debate com convidados sobre o Projeto de Lei 3.374/06, do governador, que cria empresas subsidiárias na Copasa; e do deputado Paulo César (PDT), pedindo reunião conjunta com a Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo, em Ponte Nova, para debater a Portaria nº 39 do IEF.

Presenças - Deputados Laudelino Augusto, presidente; Doutor Ronaldo (PDT), vice; Sávio Souza Cruz (PMDB), Carlos Pimenta (PDT), Jésus Lima (PT) e Paulo Piau (PPS).

 

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