Corte de recursos dificulta soluções para gestão dos resíduos
sólidos
Para zerar o déficit da limpeza urbana no País,
seria necessário o investimento de R$ 7,3 bilhões em oito anos,
segundo estimativa de 2004 do Ministério do Meio Ambiente. O número
foi informado nesta terça-feira (13/6/06) aos deputados da Comissão
Especial dos Resíduos Sólidos da Assembléia Legislativa de Minas
Gerais pela gerente de Projetos de Resíduos Sólidos do Ministério
das Cidades, Nadja Limeira Araújo. Apesar de considerar a quantia
"irrisória", ela apontou um entrave para resolver o problema da
limpeza urbana: o corte sistemático de recursos do Orçamento Geral
da União destinados a projetos de saneamento. "O contingenciamento
tem sido drástico, já dura 12 anos e ocorre principalmente no
Ministério das Cidades", informou.
Esses recursos do Orçamento Geral da União,
classificados como não onerosos para os municípios e que poderiam
ser uma solução para as cidades mais carentes, não são suficientes,
informou Nadja Araújo. Já a verba considerada onerosa, proveniente
de financiamentos a partir de recursos do FGTS e outras fontes,
poderia ser um solução para algumas localidades. Entre 2003 e 2005,
o governo federal desembolsou R$ 944,88 milhões para iniciativas de
saneamento com recursos do FGTS. Mas, neste caso, segundo a
representante do Ministério das Cidades, o entrave ocorre porque as
prefeituras não conseguem obedecer a determinadas regras desses
financiamentos. Elas apresentam problemas de capacitação, têm baixo
grau de organização institucional, não possuem órgãos específicos
para cuidar da limpeza urbana nem cobram pelo serviço.
Como resolver, então, o problema? A representante
do Ministério das Cidades informou à comissão que o governo federal
condensou em cinco programas os antigos 27 programas espalhados em
nove ministérios. Apresentou, ainda, uma lista de projetos
estruturantes de 2006 que buscam solucionar o grave problema dos
resíduos sólidos no Brasil - que produz 149 mil toneladas de lixo
diariamente, destinando para lixões 59,3% desse total. A capacitação
dos gestores municipais é um desses projetos estruturantes, assim
como a assistência técnica aos municípios, a revisão de resoluções
do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) sobre o licenciamento
simplificado para aterros sanitários de pequeno porte e o
desenvolvimento de projetos para aplicação de Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) na redução das emissões em aterros e
lixões.
Projeto do governo federal é focado na inclusão dos
catadores
Outro projeto estruturante do governo federal
informado à comissão por Nadja Limeira Araújo é focado nos catadores
de materiais recicláveis - cuja situação foi considerada ainda
crítica por ela. Segundo a gerente, apesar de organizados, esses
trabalhadores não estão totalmente inseridos nos programas
municipais de coleta seletiva para reciclagem. A representante do
Ministério das Cidades informou que o governo prevê a destinação, em
quatro anos, de R$ 169 milhões para a criação de mais de 39 mil
postos de trabalho para organização, capacitação e
profissionalização de 175 mil catadores, além da implementação e
ampliação de unidades de reciclagem.
Políticas nacionais -
Finalizando sua fala, Nadja Araújo defendeu a aprovação, pelo
Congresso Nacional, do Projeto de Lei (PL) 5.296/05, que cria a
política nacional de saneamento básico. Também considerou importante
o envio, ao Congresso, da proposta de política nacional de resíduos
sólidos. Essa proposta hoje está em análise pela Casa Civil da
Presidência da República e não há definição quanto ao seu envio ao
Parlamento ainda em 2006.
BDMG e convidados falam sobre demanda por
informações na área de reciclagem
O incentivo à indústria de reciclagem foi também
discutido na reunião desta terça, que foi convocada especialmente
para avaliar a situação do fomento e do financiamento na gestão dos
resíduos sólidos e a política de recursos financeiros e linhas de
financiamento. Alexandre Pinheiro, representante do BDMG, informou
aos deputados que é impressionante a solicitação de informações da
área de reciclagem por empresas privadas. Segundo ele, há ainda um
grande número de empresas rudimentares, que precisam ser
regularizadas.
A vice-presidente da Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes/MG), Maeli Estrela Borges, vê
com preocupação a falta de indústrias de reciclagem no Estado. Ela
citou como exemplo o vidro, que é coletado aqui, mas processado em
São Paulo. "É preciso ampliar as ações para viabilizar as empresas
de reciclagem e possibilitar que trabalhem com material de coletiva
seletiva", completou. O professor do Cefet Santelmo Xavier Filho,
que é convidado permanente assim como Maeli Estrela Borges, defendeu
ainda que seja aprimorada a qualificação dos representantes dos
municípios, para facilitar a captação de recursos e a implementação
de projetos.
Geraldo Brinati, da Subsecretaria da Receita
Estadual, informou à comissão especial sobre a Lei Robin Hood, que
estabelece prioridades para a destinação dos 25% da arrecadação do
ICMS que cabe aos municípios, privilegiando aqueles que investirem
em saúde, educação e meio ambiente, entre outros setores. Hoje, 1% é
o índice referente ao ICMS Ecológico, que prevê recursos para os
municípios que criarem unidades de conservação e investirem em
saneamento.
Presenças - Deputado Irani
Barbosa (PSDB), presidente, e o deputado Fábio Avelar (PSC), além
dos convidados citados e do assessor da Secretaria da Fazenda
Tarcísio de Castro Monteiro; do analista José Rodolfo Batista; da
gerente do Departamento de Infraestrutura e Desenvolvimento Urbano
do BDMG, Míriam Curi; do diretor da Câmara de Recursos Humanos da
Federaminas e coordenador do Grupo Temático Cidades Sustentáveis,
Plínio da Franca Figueiredo Filho.
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