Gestão metropolitana deve mudar até início de 2007

O destino de 4,84 milhões de pessoas que vivem na Região Metropolitana de Belo Horizonte foi discutido nesta segunda-...

12/06/2006 - 00:01
 

Gestão metropolitana deve mudar até início de 2007

O destino de 4,84 milhões de pessoas que vivem na Região Metropolitana de Belo Horizonte foi discutido nesta segunda-feira (12/6/06) por deputados, secretários de Estado, prefeitos e técnicos em um debate público promovido pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O encontro, realizado por solicitação do deputado Roberto Carvalho (PT), analisou os temas "estrutura, desenvolvimento econômico e transporte". O evento é uma preparação para implantação dos novos órgãos de gestão previstos pela Lei Complementar 88, de 2006: a nova Assembléia, a Agência e o Fundo metropolitanos, e o Plano Diretor da região.

Na abertura do encontro, o secretário de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Manoel Costa, afirmou que a intenção é implantar a nova estrutura em um prazo de seis a oito meses. "Ainda não há uma definição se a Agência Metropolitana será uma autarquia ou uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público)", ressalvou o secretário. Já estão sendo organizadas, no entanto, oficinas para ampliar a troca de informações entre os 34 municípios que integram a RMBH. "Dividimos a região em oito blocos de municípios", afirmou o secretário.

A nova Assembléia Metropolitana irá ampliar o poder do Estado. Se na antiga estrutura o governo estadual tinha força equivalente a de um único município, na nova estrutura ele será responsável por metade dos votos. Apesar disso, o secretário afirmou que a autonomia dos municípios será respeitada, e que a nova lei só trará resultados se provocar um trabalho coletivo. "O Estado não tem intenção de ocupar o espaço dos municípios", disse Manoel Costa.

A presidência da reunião foi exercida pelo presidente da Comissão de Assuntos Municipais, Leonardo Quintão (PMDB), e pelo 2º-vice-presidente da Assembléia, deputado Rogério Correia (PT). Quintão lembrou a necessidade de uma política integrada entre os municípios para evitar, por exemplo, que o encarecimento das passagens de ônibus intermunicipais pressione o crescimento populacional da capital. Já Rogério Correia afirmou que a aprovação da Lei Complementar foi apenas o início do trabalho. Autor do projeto de lei que deu origem à nova legislação, o deputado Roberto Carvalho afirmou que outros encontros serão realizados para discutir outros temas metropolitanos, como saúde e segurança pública.

O governo do Estado também foi representado no encontro, realizado no Plenário da Assembléia, pela secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, que transmitiu a mensagem de total apoio do governador Aécio Neves aos debates realizados pela Assembléia Legislativa.

Diferença entre municípios é desafio para gestão

A questão que dominou o início dos debates foi a disparidade entre os municípios que integram a região. Representando a Granbel, o prefeito de Lagoa Santa, Rogério Avelar, ressaltou as dificuldades enfrentadas por municípios mais pobres na área da saúde. "Belo Horizonte blindou seu sistema de saúde. Como o atendimento de alta complexidade é precário em nossas regiões, as pessoas estão morrendo. Se os músicos dizem que o Haiti é aqui, o Haiti é dentro da Região Metropolitana", afirmou o prefeito.

O secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Informação da Prefeitura de Belo Horizonte, Júlio Pires, que representou o prefeito Fernando Pimentel, defendeu a necessidade de um pacto político entre os integrantes da Região Metropolitana. Segundo ele, a nova estrutura irá preencher um vácuo deixado pela Constituição de 1988, que não deu a devida atenção à questão metropolitana.

O expositor do primeiro painel, Enrico Novara, que é consultor do Banco Mundial, chamou atenção para o fortalecimento de pólos de atração secundários dentro da Região Metropolitana. De acordo com seus dados, enquanto Belo Horizonte representava 10,8% da população mineira em 1970, passando para 12,4% em 2005, a população de toda a Região Metropolitana passou de 14% para 25,3% do total populacional do Estado no mesmo período.

Enrico Novara afirmou que o Banco Mundial irá colaborar na implementação dos novos órgãos de gestão metropolitana, por meio do Cities Alliance, um programa de redução da pobreza em grandes áreas urbanas. O apoio será financeiro e técnico. Enrico Novara chamou atenção para a importância de não se ignorar os municípios do colar metropolitano no processo. Enquanto a Região Metropolitana conta hoje com 34 municípios e 4,84 milhões de habitantes, os 14 municípios do colar somam 506 mil habitantes, segundo dados de 2005.

No mesmo painel, o consultor de Planejamento Urbano, Benício de Assis Araújo, lembrou que, sem planejamento, não é possível melhorar a qualidade de vida da população e obter um desenvolvimento econômico satisfatório para as regiões e para o Estado. Segundo ele, é preciso encontrar mecanismos para assegurar, nesses planejamentos, a participação da sociedade e o conhecimento técnico-científico que o trabalho requer.

Transporte Urbano: fator de desenvolvimento social

No segundo painel do debate público, que abordou o tema do transporte urbano, o consultor e analista de sistema viário, Paulo Bastos, afirmou que uma malha viária eficiente é fator primordial para reduzir custos operacionais e assegurar desenvolvimento econômico e social. Ele citou um estudo que revela que 26% dos brasileiros com renda abaixo de R$ 500 trocaram o uso de ônibus pelo transporte a pé, e 13%, pela bicicleta. "O País mais desruralizou do que urbanizou", disse ele ao atentar para os grandes problemas que ainda assolam as grandes cidades.

Na questão do transporte, Paulo Bastos defende uma aplicação racional dos recursos na infra-estrutura de transporte e uma padronização dos cálculos dos custos das obras públicas. Segundo ele, um mesmo projeto executivo, se orçado em Estados diferentes, apresenta valores discrepantes.

O representante do diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), João Afonso Baeta, afirmou que o governo do Estado está discutindo uma reestruturação do sistema metropolitano do transporte, incluindo a regionalização do metrô e a ampliação da bilhetagem eletrônica para os demais municípios da região.

O diretor-presidente da BHTrans, Ricardo Mendanha, chamou a atenção para o número de pessoas excluídas do acesso às cidades. Uma pesquisa baseada na renda domiciliar dos brasileiros, em 2002, mostra que entre aqueles que ganham até um salário mínimo a média é de 0,12 viagem por habitante/dia. O índice aumenta de acordo com o rendimento, atingindo o índice de 1,94 viagem por habitante/dia entre os que ganham entre 10 e 20 salários mínimos, número 15 vezes superior à faixa mais pobre. "No planejamento, temos que pensar a cidade como um todo", advertiu.

Oportunidades de crescimento

O secretário executivo da Associação Nacional de Centros de Pós-Graduação em Economia e do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), Mauro Borges Lemos, foi um dos expositores do terceiro painel, que tratou do desenvolvimento econômico. Segundo ele, a região metropolitana de Belo Horizonte apresentou um crescimento abaixo da média nacional entre a segunda metade da década de 80 e 1999, quando houve a desvalorização do real, em função do esgotamento do potencial de crescimento das indústrias da região.

A retomada, a partir de então, se deveu, sobretudo, ao incremento das exportações e à expansão do setor de serviços. Segundo ele, com a previsível estabilização dos níveis de exportação, os municípios precisam se adequar e buscar outras oportunidades. Na opinião do especialista, a grande chance de manter o crescimento, ou até elevar os indicadores, é investir no setor de tecnologia, aproveitando a grande produção de conhecimento que já é oferecida por institutos acadêmicos de Belo Horizonte e entorno.

Presenças - Deputados Leonardo Quintão (PMDB), presidente; Rogério Correia (PT) e Roberto Carvalho (PT); secretários de Estado de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, e de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Manoel Costa; secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Informação de Belo Horizonte, Júlio Pires; prefeito de Lagoa Santa, Rogério Avelar; o consultor do Banco Mundial, Enrico Novara; o consultor de Planejamento Urbano, Benício Araújo; o consultor e analista de sistema viário, Paulo Bastos; João Afonso Baeta, representando o diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), José Élcio Monteze; diretor-presidente da BHTrans, Ricardo Mendanha; entre outras autoridades e técnicos.

 

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