Inclusão de Filosofia e Sociologia nos currículos é defendida em
reunião
A inclusão da Filosofia e Sociologia como
disciplinas nos currículos escolares foi defendida unanimemente
pelos participantes da audiência pública de duas comissões da
Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que discutiram o tema nesta
quinta-feira (8/6/06). O auditório da ALMG ficou lotado de
professores e estudantes para acompanhar a reunião conjunta das
comissões de Participação Popular e a Especial para emitir parecer
sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 97/06. Essa PEC, da
deputada Maria Tereza Lara (PT) e outros, prevê que o Estado deverá
garantir o ensino dessas duas áreas do conhecimento, nos níveis que
compõem a educação básica, e noções básicas de Direito Eleitoral,
preferencialmente no ensino médio.
Na ocasião, os presentes aprovaram simbolicamente
uma moção de apoio ao manifesto do Sindicato dos Cientistas Sociais
que defende a volta do ensino das duas matérias. Segundo o
documento, a Filosofia e a Sociologia faziam parte dos currículos
escolares até o golpe de 1964, quando os militares substituiram-nas
por Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política
Brasileira (OSPB). Maria Tereza Lara, que também é presidente da
Comissão de Participação Popular, recebeu de representantes dos
professores um abaixo-assinado com mais de 300 assinaturas apoiando
a medida, a ser anexado à PEC.
MEC também é favorável à inserção das duas
disciplinas
A diretora de Políticas Públicas do Ensino Médio do
Ministério da Educação (MEC), Lúcia Helena Lodi, informou que o
órgão está trabalhando pela aprovação de proposta nesse sentido em
três frentes: no Congresso Nacional, apoiando projetos de lei que
tratem da inclusão da Filosofia e Sociologia nos currículos; junto
ao Conselho Nacional de Educação, pedindo o órgão se pronuncie
quanto ao documento encaminhado pelo MEC defendendo a inserção das
disciplinas no ensino médio; e por fim, com a discussão dos
parâmetros curriculares do ensino médio, nos seminários regionais e
nacional realizados, nos quais foi unânime a defesa da inclusão das
duas matérias nos currículos desse nível, de acordo com Lúcia
Lodi.
A professora de Filosofia da PUC Minas e presidente
da Comissão de Avaliação da PUC Minas, Sílvia Maria Contaldo,
defendeu que a Filosofia deve fazer parte dos currículos como
disciplina e não como conteúdo transversal: "a dimensão reflexiva da
Filosofia compreende a interação com outros conteúdos, mas isso não
quer dizer que ela deve ser dada em gotas dispersas; a Filosofia
favorece conteúdos críticos levando a uma visão menos fragmentada".
Mas a professora ressalvou que há alguns obstáculos que deverão ser
superados para se implantar a disciplina. Esses entraves dizem
respeito à formação dos educadores, e à resposta à pergunta sobre
como a Filosofia poderá contribuir para facilitar a formação ética e
crítica dos jovens.
Afirmando-se como "corporativista até a medula na
defesa da Filosofia como disciplina", Maria Tereza Marques Amaral,
professora de Práticas de Ensino de Filosofia da UFMG, avaliou que
essa medida seria fundamental para abrir o mercado profissional para
os graduados nessa área. Apesar de reconhecer o avanço que a
aprovação da lei irá representar, ela acredita que a luta desses
profissionais só está no começo. "Precisamos responder a várias
perguntas: que Filosofia e Sociologia queremos aprovadas? que
projeto de educação e de sociedade vislumbramos?", disse. Também
nessa linha, Flávio Senra, coordenador da Pós Graduação em Ciências
da Religião da PUC Minas, acrescentou que o professor de filosofia,
além de ministrar as aulas, tem como papel ser referência no debate
com os outros professores.
Sindicato dos sociólogos critica Secretaria da
Educação
Uma crítica à atitude da Secretaria de Estado da
Educação foi feita pelo coordenador do Sindicato dos Cientistas
Sociais de Minas Gerais, Flávio Torre. Ele lamentou que o órgão
teria editado uma portaria retirando dos currículos das escolas
estaduais a Sociologia, a Filosofia e também a Educação Física. O
presidente do sindicato, Fernando Antônio Camargo Vaz, valorizou a
formação dos profissionais dessas áreas, dizendo que só eles
estariam aptos a ministrar aulas das duas disciplinas. E destacou
que só com o ensino de Filosofia e Sociologia será possível
construir um saber que supere o senso comum e o "achismo".
Já o professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia do
Instituto Santo Inácio, Ricardo Fenatti, foi além e defendeu a
adoção de conteúdos de Filosofia e Sociologia no vestibular. Ele
avalia que essa medida levaria as escolas secundárias a colocarem
essas disciplinas nos currículos. Fenatti também julgou importante
estabelecer um cronograma para inclusão das matérias. Assim, nos
primeiros anos, graduados em outras áreas de Ciências Humanas
poderiam dar aulas de Filosofia e Sociologia; até que houvesse
graduados suficientes nesses dois cursos para ministrarem as
disciplinas.
Acatando sugestões de participantes, o deputado
Doutor Ronaldo (PDT), presidente da Comissão que analisa a PEC
97/06, sugeriu que fosse mudada a redação da proposição, de forma a
priorizar, na adoção das duas matérias nos currículos, inicialmente,
o ensino médio Ele também afirmou que vai apresentar, na próxima
reunião da comissão, um requerimento de audiência pública em três
cidades-pólo do Estado, para ouvir a opinião dos professores do
interior. O parlamentar fez também um apelo para que a secretária de
Estado de Educação, Vanessa Guimarães, participe das próximas
audiências.
Presenças - Deputado
Doutor Ronaldo, presidente da Comissão Especial da PEC 97/06; e
deputada Maria Tereza Lara (PT), presidente da Comissão de
Participação Popular. Além dos citados na matéria, participaram
também: o professor de Filosofia do Direito da UFMG, Joaquim
Salgado; o professor de Filosofia do ensino médio da rede estadual,
Westerley dos Santos; e o mestre em Filosofia da UFMG, João Carlos
Lino Gomes.
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