Resíduos de saúde têm disposição errada e são queimados a céu aberto

A grande maioria dos 562 municípios mineiros que ainda possuem lixões têm disposição final inadequada dos resíduos de...

06/06/2006 - 00:01
 

Resíduos de saúde têm disposição errada e são queimados a céu aberto

A grande maioria dos 562 municípios mineiros que ainda possuem lixões têm disposição final inadequada dos resíduos de serviços de saúde, segundo a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). Das 576 cidades do Estado que coletam esses resíduos, 287 (49,05%) queimam seus resíduos de unidades de saúde a céu aberto e outras 103 (17,61%) não oferecem qualquer tratamento para esse tipo de resíduo, conforme dados de 2000 da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes/MG). Esses números preocupantes foram apresentados pela vice-presidente da Abes, Maeli Estrela Borges, ouvida nesta terça-feira (6/6/06) pela Comissão Especial dos Resíduos Sólidos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Os números trazidos pela Abes ajudam a compor um panorama nada positivo da situação dos resíduos de serviços de saúde em Minas. "Há um passivo grande, com muito para fazer", reconheceu a gerente da Divisão de Saneamento da Feam, Denise Bruschi, também ouvida pelos parlamentares, que pretendem com as atividades da comissão discutir o gerenciamento de resíduos sólidos em Minas. Ela explicou que o Estado não tem como fiscalizar todas as unidades geradoras de resíduos de saúde em cada município, mas sim orientar as prefeituras - que têm autonomia para tratar do assunto, observando as normas federais e estaduais específicas. Hospitais, clínicas odontológicas e médicas, veterinárias e farmácias são exemplos de geradores desse tipo de resíduo.

Prazo até dia 30 - Apesar do quadro preocupante, duas boas notícias foram dadas na reunião. Uma foi trazida por Maeli Estrela Borges. Ela informou aos parlamentares que os estabelecimentos de saúde públicos e particulares da Capital convocados pelo Ministério Público têm até o dia 30 deste mês para entregarem à Prefeitura de Belo Horizonte os protocolos de seus Planos de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS). Os estabelecimentos convocados são os maiores geradores de resíduos, assim classificados em função da quantidade de lixo produzido e do grau de risco.

"Com o plano de gerenciamento, haverá economia de escala para o estabelecimento, pois o resíduo será segregado na origem, separando-se o lixo comum da unidade de saúde do lixo infectante", avaliou a consultora, que acredita no cumprimento do prazo. A exigência está prevista em Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com o Ministério Público há dois meses. Somente Belo Horizonte produz 36 toneladas/dia de resíduos de serviços de saúde.

José Tarcísio Portela, assessor da presidência da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), informou que todos os 23 hospitais da rede vão encaminhar, até o próximo dia 24, seus planos de gerenciamento, conforme prevê o TAC. O cronograma de implantação dos planos na Fhemig vai até dezembro deste ano, completou.

Cidades com população superior a 50 mil habitantes têm que se adequar até dezembro

A outra boa notícia veio da Feam, que informou sobre a Deliberação Normativa (DN) nº 97/06, do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Segundo a norma, todos os estabelecimentos de saúde localizados em municípios com população urbana superior a 50 mil habitantes ficam obrigados a se adequar, até 31 de dezembro, à Resolução nº 358/05, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Para os demais, o prazo é 4/5/07. Segundo a resolução do Conama, cabe aos geradores dos resíduos o gerenciamento destes desde a geração até a disposição final, além de serem obrigados a elaborar e implantar seu respectivo PGRSS.

Para os estabelecimentos de cidades com população urbana inferior a 30 mil habitantes e que não têm aterro sanitário licenciado, será admitida a disposição final temporária em solo. Mas isso deverá ser feito obedecendo-se a uma série de critérios da própria resolução do Conama e por meio de TAC, com a aprovação pelo órgão ambiental competente.

Desafio para os pequenos - A situação difícil vivida por esses pequenos municípios foi lembrada pelo secretário de Saúde de Mariana, José Miguel Cotta, que representou na reunião a Associação Mineira de Municípios (AMM). Ele reivindicou a capacitação dos profissionais dessas cidades, alegando que os estabelecimentos de saúde não têm corpo técnico ou estrutura adequada para implantarem seus planos de gerenciamento de resíduos.

Já o superintendente da Vigilância Sanitária de Minas Gerais, José Geraldo de Castro, afirmou que o momento agora é "de construção, de parceria com os estabelecimentos". Esse trabalho educativo, de avaliar os planos nas inspeções da Vigilância, precederá a ação propriamente fiscalizatória. A equipe é encarregada de inspecionar, entre outros, o interior dos 700 hospitais públicos e particulares do Estado.

Efluentes - O relator da comissão especial, deputado Célio Moreira (PSDB), afirmou que a principal preocupação é com os pequenos municípios, lembrando ainda o agravante da contaminação dos rios. O presidente da comissão, deputado Irani Barbosa (PSDB), comentou que, em muitos casos, os containers dos estabelecimentos de saúde acabam sendo lavados com água da Copasa, que cai na rede, transformando-se em agente contaminador. Ao final da reunião, o relator disse aos convidados que iria agendar com o presidente visitas surpresas a estabelecimentos, a fim de verificar se a legislação está sendo cumprida.

Comissão recebe sugestões da Abes

Entre as sugestões apresentadas pela Abes à comissão especial, está a de que os órgãos competentes criem incentivos à redução do valor da taxa de limpeza municipal para os estabelecimentos que tiverem seus planos de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde implantados, seus resíduos coletados e destinados por empresa licenciada.

Outra sugestão é que sejam criados incentivos para que o poder público municipal assuma a prestação dos serviços de coleta e transporte licenciados de resíduos de serviços de saúde, com pagamento de preço público ou tarifa por parte do gerador. Ou, ainda, que esses serviços sejam repassados a empresas licenciadas. As propostas, segundo Maeli Estrela Borges, foram consolidadas a partir das contribuições dos participantes do Seminário Legislativo "Lixo e Cidadania", promovido pela Assembléia em 2005.

Também presente à reunião, a especialista em perícia ambiental Soraya Newmann Carneiro cobrou a disseminação de informações para os estabelecimentos de saúde, assim como o financiamento adequado para um trabalho de educação ambiental.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Irani Barbosa (PSDB), presidente; Célio Moreira (PSDB), relator; Edson Rezende (PT), Gustavo Corrêa (PFL), Gil Pereira (PP), Dinis Pinheiro (PSDB), além dos convidados já citados e do presidente da Feam, Ilmar Bastos Santos; de José Rodolfo Batista, do BDMG; de Adriana César, gerente de Vigilância em estabelecimentos de saúde; Thaís Rêgo de Oliveira, da Fiemg; Santelmo Xavier Filho, professor do Cefet/MG; e de Ciomar Humberto Pena, da Tribuna Sabarense.

 

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