Comissão vai a Montes Claros discutir situação dos quilombolas

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai a Montes Claros nesta quarta-feira (7/6/...

05/06/2006 - 00:00
 

Comissão vai a Montes Claros discutir situação dos quilombolas

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai a Montes Claros nesta quarta-feira (7/6/06), debater, em audiência, a situação dos quilombolas da região. Solicitada em requerimento do presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), a reunião será às 14 horas, na Câmara Municipal (Avenida João Luiz de Almeida, 40). São duas as comunidades remanescentes de quilombos na região: a do Brejo dos Crioulos, que fica entre os municípios de São João da Ponte e Varzelândia, e a de Gorutuba, que abrange seis municípios (Janaúba, Porteirinha, Pai Pedro, Monte Azul, Jaíba e Catuti). No primeiro quilombo, são 450 famílias, reunindo 4 mil pessoas; no segundo, 27 comunidades de 650 famílias estão reunidas, ou seja, cerca de 6,5 mil pessoas.

Segundo o advogado André Alves de Souza, que presta assistência jurídica às comunidades, os quilombolas enfrentam muitos problemas. O principal é a morosidade na regularização de seu território. Essas duas comunidades foram certificadas pela Fundação Palmares há três anos, mas até agora o processo não foi concluído. A fundação é a autarquia federal que promove a certificação. Cabe ao Incra, por sua vez, promover a regularização fundiária, que inclui demarcação do território e cadastro dos moradores, entre outras atribuições. Sem emprego ou terra, muitas famílias acabam vendendo também sua mão-de-obra para fazendas de café no Sul de Minas. A alta incidência de doença de Chagas no Brejo dos Crioulos é outro problema, o que evidencia a ausência do poder público.

Além da questão fundiária e da ausência de políticas públicas que os beneficiem, os quilombolas sofrem com conflitos agrários, completa André Souza. A opção para algumas famílias, de acordo com o advogado, foi ocupar propriedades agrícolas. "Elas estão encurraladas por fazendas de agropecuária extensiva numa apropriação que teve início na década de 50", explica ele, que representa o projeto "Balcão de Direitos", implementado a partir de convênio da Comissão Pastoral da Terra (CPT) com a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.

Convidados - São convidados a participar da reunião o coordenador da Pastoral da Terra do Norte de Minas, Paulo Roberto Faccion; o representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Cristiano Meireles; o presidente do Conselho Estadual das Comunidades Negras/Federação Quilombola, Francisco Barbosa; o presidente da Câmara de Montes Claros, Sebastião Ildeu Maia; o superintendente regional do Incra, Marcos Helênio; o diretor-geral do Instituto de Terras (Iter), Luiz Antônio Chaves; e o procurador de Justiça Afonso Henrique de Miranda Teixeira.

Situação dos quilombolas também foi apresentada em debate realizado em 2005

Perda do território para empreendimentos agropecuários, mineração, barragens, reflorestamentos e grilagem; ausência do poder público; falta de alternativas para geração de trabalho e renda; perda das referências culturais e não regularização das terras pelos órgãos oficiais. Essas informações foram prestadas à Assembléia pela equipe do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (Cedefes), durante o Ciclo de Debates "Educação em Direitos Humanos", em novembro de 2005.

O Cedefes promoveu um trabalho de identificação das comunidades, conseguindo ampliá-las de 66 (dados iniciais do governo federal) para 332, fazendo com que Minas passasse a ocupar a posição de terceiro estado em número de comunidades quilombolas. Desse total, 39% estão nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri; 34,9% no Norte e 11% na região Central.

Ainda de acordo com o Cedefes, em 17 anos de vigência da Constituição, apenas uma comunidade em Minas obteve o título da terra. É a Porto Coris, no Vale do Jequitinhonha, que acabou sendo reassentada por causa da construção da Usina de Irapé, segundo André Souza. De acordo com a Constituição, aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos. Se existem esses problemas, por outro lado os quilombos se destacam em aspectos como solidariedade do grupo, apego à família e às manifestações culturais, como a música e a religiosidade. Os defensores dos quilombolas afirmam que esses valores devem ser preservados, por isso é preciso manter seu território.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715