Instrumentos econômicos de gestão ambiental são tema de reunião

A análise histórica da aplicação dos instrumentos de gestão ambiental: comando e controle, instrumentos de planejamen...

31/05/2006 - 00:00
 

Instrumentos econômicos de gestão ambiental são tema de reunião

A análise histórica da aplicação dos instrumentos de gestão ambiental: comando e controle, instrumentos de planejamento e instrumentos econômicos de gestão. Esse foi o tema escolhido, dentro da multiplicidade de assuntos envolvidos na questão ambiental, para o debate da Comissão Especial sobre Governança Ambiental da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na reunião desta quarta-feira (31/5/06). Especialistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Valourec Mannesman (V&M), Faemg e Elabore Assessoria Estratégica em Meio Ambiente detalharam o assunto, dividido em vários subtemas.

O coordenador de Estudos de Regulação do Ipea, Ronaldo Serôa da Motta, apresentou os conceitos principais envolvendo os instrumentos de gestão ambiental. Nessa categoria, ele diferenciou instrumentos de controle dos instrumentos econômicos de gestão, usados em diversas políticas públicas, e não só na área ambiental. Os primeiros fixam parâmetros técnicos das atividades econômicas e englobam, na área ambiental, o controle do nível de emissão por fonte poluidora e o licenciamento ambiental. Já os instrumentos econômicos atuam diretamente nos custos de produção e consumo dos agentes econômicos e incluem a taxa florestal, o crédito agrícola, dentre outros.

Na opinião do pesquisador do Ipea, a adoção dos instrumentos econômicos, sem prejuízo dos instrumentos de controle, gera o incentivo a tecnologias limpas e mais baratas e um padrão de consumo com menor impacto ambiental. De acordo com Ronaldo da Motta, há dois tipos de instrumentos econômicos: os de preços e os de criação do mercado. O primeiro deles, usado, por exemplo, na cobrança pelo uso do recurso hídrico, busca inibir o uso indevido e excessivo dos recursos naturais. Já o segundo aloca direitos de utilização do recurso entre os usuários e permite que estes realizem transações entre si desses direitos, como no caso da reciclagem e do mercado de carbono, previsto no Protocolo de Quioto.

Certificações ambientais são tratadas por empresário

"Gestão ambiental e competitividade no mundo globalizado - barreiras e oportunidades" foi o tema abordado pelo assessor da presidência da V&M, Guilherme Dias de Freitas. Ele defendeu que a gestão ambiental tem que ser inserida na forma de trabalho da empresa. No caso da V&M, foi adotado o Sistema de Gestão Ambiental (SGA), com a busca pela certificação, através da ISO 14.000. Ele citou que no Brasil 1800 empresas já possuem essa certificação. O Japão é o país com maior número de organizações com o ISO 14.000.

Outras certificações foram destacadas pelo assessor: a Eurep-Gap, aliança global para uma agricultura segura e sustentável, FSC e a rotulagem ambiental. A Eurep-Gap considera, além de questões inerentes à qualidade agrícola, fatores ambientais, trabalhistas e sociais, e define padrões para frutos, verduras, aqüicultura e outros setores. Segundo Guilherme Dias, o padrão foi adotado em Pernambuco, numa parceria entre Sebrae e produtores de frutas. O Forest Stewardship Council (FSC) define padrões ambientais, legais e sociais, a serem seguidos por empresas extrativas. No Brasil, 62 empresas têm o FSC, com 3,5 milhões de hectares certificados. Já a rotulagem ambiental estabelece critérios para empresas no sentido de reduzir impactos sobre o clima e geração de emissões poluentes; uso eficiente de energia, dentre outros. Concluindo, Guilherme Dias avaliou que Minas Gerais tem instrumentos e competência para incentivar a certificação e a rotulagem ambiental. Mas isso depende de uma postura pró-ativa e não reativa do Estado.

Leis não garantem preservação do meio ambiente

O engenheiro agrônomo e consultor, que presta serviços à Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Marcelo Martins Pinto, tratou da desconformidade da legislação e procedimentos na proteção do meio ambiente nas atividades agropecuárias. Ele avaliou que a obediência a toda a legislação vigente sobre o meio ambiente não garante uma postura ambientalmente correta. Isso porque, na opinião dele, há vários empecilhos para que as leis sejam devidamente aplicadas. Um deles é o conflito de uso do solo, que leva a distorções como a prevista na lei que prevê que terrenos com declividade acima de 45% não podem ser explorados. "Isso não é correto: há áreas com maior declividade que não geram erosão e outras com declive baixo onde a possibilidade de erosão é muito maior", disse.

Outro entrave seria a possibilidade de conflitos sociais se as leis fossem rigorosamente seguidas. Marcelo Martins citou o exemplo do Vale do Jequitinhonha, onde chapadas, encostas e planícies aluvionárias na bacia do Rio Pardo teriam que ser protegidas. Se a lei de proteção ambiental fosse aplicada, todos os moradores dessas áreas, que correspondem a cerca de 80% da população desse vale, teriam que ser retirados de lá.

Martins também colocou como problema a imprecisão de conceitos aplicados, como topos de morro, nascentes, margens de rio. "Se seguíssemos a definição sobre topo de morro na lei, teríamos que impedir a ocupação de todo o Triângulo Mineiro", afirmou. Por fim, ele destacou como empecilho para o cumprimento das leis ambientais a incompatibilidade técnica. Sobre isso, o agrônomo citou a definição, a seu ver aleatória, do percentual de 20% do terreno para a reserva legal, que não traria, por si só, benefício para a flora, a fauna e o ecossistema como um todo.

Por último, foi dada a palavra ao presidente da empresa de assessoria Elabore, Eduardo de Souza Martins, que fez uma análise da aplicação dos instrumentos de gestão ambiental. De acordo com ele, é preciso se lembrar dos aspectos que precedem o uso desses instrumentos, que são a política e as instituições. Nessa perspectiva, o pesquisador avaliou que o Estado brasileiro está submetido a um círculo viciado, onde se somam: um alto déficit de governabilidade, o uso da estrutura do Estado para formar maiorias precárias e o comprometimento do papel público do Estado. Como desafios que os governos no Brasil terão que enfrentar para vencer essas dificuldades, Eduardo Martins destaca: combater a exclusão ambiental, integrar as políticas públicas de meio ambiente, resgatar o papel do Estado como ente público e como mediador social.

Presenças - Deputados Paulo Piau (PPS), presidente; Doutor Ronaldo (PDT), Padre João (PT), Doutor Viana (PFL) e Célio Moreira (PSDB). Além dos convidados já citados, também compareceram: Mauro da Costa Val, engenheiro civil e sanitarista do Consórcio Intermunicipal da Bacia do Rio Paraopeba (Cibapar); Ana Cláudia Miranda, da Emater; Antônio de Andrade Silva, do Grupo Plantar; Carlos Alberto Baltazar, do Sindicato da Indústria de Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer); Cristina Chiodi, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda); Eduardo Nascimento, da Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg); Fernando Pinheiro Moreira, da Associação Mineira de Silvicultura; Joaquim Leonel, do Comitê de Bacias GD8; Vítor Feitosa, Wagner Soares e Patrícia Gambogi, da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).

 

 

 

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