Reunião faz avaliação positiva do sistema de quotas no Estado

Uma avaliação positiva dos resultados do sistema de reserva de vagas nas universidades estaduais foi feita na Comissã...

30/05/2006 - 00:00
 

Reunião faz avaliação positiva do sistema de quotas no Estado

Uma avaliação positiva dos resultados do sistema de reserva de vagas nas universidades estaduais foi feita na Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na reunião desta terça-feira (30/5/06). Adotado há dois anos pela Universidade do Estado (Uemg) e pela Unimontes, o sistema passou a atuar com a entrada em vigor da Lei 15.259, em 27 de junho de 2004, fruto do Projeto de Lei (PL) 272/03, do deputado Paulo Piau (PPS). A lei prevê que as duas universidades terão que destinar 45% de suas vagas para os seguintes grupos de candidatos, distribuídos da seguinte forma: 20% para afro-descendentes, desde que carentes; 20% aos egressos da escola pública, também carentes; e 5% para portadores de deficiência e indígenas.

Um dos que aplaudiram os resultados da lei foi o reitor da Universidade Estadual de Montes Claros, Paulo César Gonçalves. Ele mostrou quadros comparativos com a situação antes da adoção das quotas, em 2004, e depois, já em 2006. Quanto às etnias que ingressam na Unimontes, em 2004, 49% eram brancos, 6% negros e 43% pardos. Em 2006, o percentual de brancos caiu para 34%; o de negros e de pardos subiu para 15% e 45%, respectivamente; e ingressaram também 1% de indígenas.

Aumentou também, de acordo com o reitor, o percentual de pessoas que ingressaram através das quotas de 18% em 2004 para 30% em 2006. Pelos dados apresentados, Gonçalves concluiu que a aprovação dos quotistas tem se dado em percentuais semelhantes aos egressos do sistema universal. Outra conclusão foi a de que a presença, na Unimontes, dos atendidos pela lei 15.259, que já era significativa, aumentou ainda mais com a entrada em vigor da nova legislação. Outro avanço seria a possibilidade de acesso desse contingente a cursos mais concorridos, como Medicina, Odontologia e Direito.

Ingresso de alunos pelo sistema de quotas aumentou

A pró-reitora de Pesquisa e Extensão da Uemg, Neide Wood Almeida, apresentou dados dos campi em Belo Horizonte que mostram o grande aumento no ingresso através do sistema de quotas. Em 2005, entraram para as escolas da Uemg na Capital 3.339 pessoas ao passo que, em 2.006, o número subiu para 5.418 (sendo 1.009 afro-descendentes, 4.329 oriundos de escolas públicas, e 80 portadores de deficiência física ou indígenas). Ela destacou também que, dos 196 quotistas da Uemg/BH, 169 (ou seja, 86,22%) só foram aprovados devido às quotas.

Para a pró-reitora, as estatísticas mostram que o aprendizado independe do sistema de quotas, uma vez que o desenvolvimento dos alunos, quotistas ou não, é parecido. Na avaliação dela, a maior incidência de discriminação se dá no âmbito sócio-econômico, questão que a atual lei não conseguiu abarcar. Neide Almeida acredita que só com programas complementares de auxílio para transporte, alimentação e outros esse problema seria sanado.

Também o presidente do Conselho Estadual de Participação e Integração da Comunidade Negra (CCN-MG) Willian Hestefrany da Silva, elogiou a aprovação da lei, como uma demonstração do compromisso do governo estadual com os grupos excluídos. Ele foi contra a previsão de prazo de 10 anos para vigorar a lei 15.259. "Não há como estabelecer prazo para acabar com essa política afirmativa, que dá tratamento desigual a pessoas socialmente desiguais", concluiu. Também elogiando a aprovação da lei, o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, Flávio Couto de Oliveira, disse que "é uma das leis mais significativas e justas relativas à inclusão social e à educação".

O assessor especial do governador, Aluísio Pimenta, fez também a defesa do sistema de reserva de vagas adotado em Minas Gerais: "as quotas não facilitam para o negro; elas são é a favor do Brasil". Indo mais fundo no assunto educação, Pimenta aproveitou para criticar a mercantilização do ensino superior no País. "Hoje é mais fácil abrir uma faculdade de quinta categoria do que abrir um restaurante self service", disse. E conclamou os deputados a tentarem corrigir essa distorção.

Crachá - Adotando também um tom crítico, o assessor especial do governador para Assuntos Indígenas, Aílton Krenak, condenou o fato de indígenas e portadores de deficiência terem sido contados juntos para a reserva de vagas na lei mineira. E criticou também a exigência feita aos índios pelas universidades estaduais, de um reconhecimento formal da Funai para comprovar a condição de indígenas: "Os índios ainda precisam do carimbo, do crachá da agência governamental, como se fôssemos animais. Precisamos vencer isso para o branco parar de tutelar o índio".

Deputado defende revisão da lei

A deputada Ana Maria Resende (PSDB), que apresentou o PL sobre reserva de vagas para egressos da escola pública (anexado ao projeto de Paulo Piau), reclamou que, nos cursos de maior prestígio - Medicina, Odontologia e Direito -, não são preenchidas todas as vagas reservadas. O mesmo não acontece em outros cursos, onde as vagas são todas ocupadas. Já o deputado Carlos Pimenta (PDT) defendeu o aumento do número de vagas na Unimontes. "Acho que na revisão da lei precisamos aumentar o número de vagas, principalmente nos cursos mais procurados. O investimento será mínimo diante do benefício obtido", ponderou.

Polêmica - O autor do PL que deu origem a lei e do requerimento pela reunião, deputado Paulo Piau (PPS), informou que a nova legislação foi o resultado da contribuição de vários parlamentares e de outros. Minas foi o segundo Estado a adotar a política de reserva de vagas, atrás apenas do Rio de Janeiro. Piau afirmou que o projeto provocou polêmica porque muitos achavam que alunos utilizando as quotas iriam entrar na universidade sem o devido preparo. Por isso, na própria lei é previsto que as universidades estaduais deverão preparar aqueles que não apresentam as condições ideais. O presidente da comissão, deputado Doutor Viana (PFL) elogiou Piau pela iniciativa do projeto e também o grupo de capoeira Muzenza, que se apresentou no início da reunião.

Presenças - Deputado Doutor Viana (PFL), presidente; deputadas Ana Maria Resende (PSDB), vice; e Maria Tereza Lara (PT); e deputados Paulo Piau (PPS) e Carlos Pimenta (PDT). Além dos citados na matéria, também participaram: o assessor especial para Assuntos de Ensino Superior da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Eduardo Santa Cecília; o presidente da Comissão Técnica de Concursos de Montes Claros, Wagner de Paulo Santiago; o conselheiro da CCNMG, Ronaldo Antônio Pereira da Silva; o coordenador do Nucleo de Estudos Afro-Brasileiro, Wagemann Teixeira Matias; o coordenador de Cultura e Arte de BH - MG, Vicente de Oliveira; o presidente da Federação das Associações de Pais e Alunos das Escolas Públicas de Minas Gerais (Fapaemg), Mário de Assis; e a diretora executiva da Associação dos Professores Públicos de Minas Gerais (APPMG), Magda Campbel.

 

 

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