Empresariado mineiro protesta contra concorrência
chinesa
A China teve saldo positivo em sua balança
comercial equivalente a todas as exportações brasileiras, que foram
recorde em 2005. O Brasil exporta para a China principalmente fibras
e matérias-primas, e importa dela 99% de manufaturados. As denúncias
são de que o País estaria transferindo para a juventude chinesa os
empregos que não oferecidos para os jovens brasileiros. Acresce que
o contrabando e as falsificações vindas da China grassam por todo o
território nacional.
Em Minas, os setores produtivos mais afetados pela
invasão de produtos chineses são as indústrias têxteis, confecções,
calçadistas e fogos de artifício. Representantes desses setores
vieram à Assembléia Legislativa para pedir salvaguardas durante uma
audiência pública da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e
Cooperativismo, realizada na tarde desta segunda-feira (29/5/06) no
Plenário, da qual participaram seis deputados.
As denúncias foram feitas em tom exaltado, a
começar pelo presidente da Comissão, deputado Paulo Cesar (PDT), que
representa o pólo calçadista de Nova Serrana. O deputado se referiu
ao "apetite voraz e insaciável do dragão vermelho", que estaria
usando trabalho escravo, sub-remunerado a menos de US$ 1 por dia. "O
tsunami asiático enfraquece cada vez mais a indústria nacional",
atacou Paulo Cesar.
O deputado Doutor Viana (PFL) disse que os chineses
"são campeões da pirataria e detonam a indústria brasileira", e
acrescentou que a invasão chinesa foi liberada e autorizada pelo
próprio Governo Federal, em troca do voto chinês para que o Brasil
integrasse o Conselho de Segurança da ONU. "É uma incoerência de
quem prega a criação de empregos", disse Viana.
Deputados querem Comissão Especial e sanções a quem
vende contrabando
Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) fez um relato sobre as
ações que empreendeu desde maio do ano passado para defender os
interesses do setor de confecções, especialmente as malharias que
sustentam a economia do Sul de Minas. Leu as respostas do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de que a Câmara
de Comércio Exterior havia aprovado mecanismos de salvaguarda em
relação aos produtos chineses, e do então presidente da Câmara dos
Deputados, Severino Cavalcanti, assegurando que combateria as
"condutas predatórias" da China. O deputado apresentou também
requerimento de criação de uma Comissão Especial para tratar do
tema.
Domingos Sávio (PSDB) investiu contra a decisão do
Governo Federal de reconhecer a China como economia de mercado, já
que se trata de uma economia estatizada que não estaria mostrando o
mínimo respeito às normas do comércio internacional. "De nós eles
exigem qualidade e produtos seguros, mas não se preocupam com a
péssima qualidade do que nos vendem. Quando morre um brasileiro na
explosão de fogos de artifício chineses, a culpa acaba recaindo
sobre um empresário brasileiro", acusou o parlamentar, propondo uma
mobilização de empresários e políticos para marchar a Brasília.
Por sua vez, o deputado Carlos Gomes (PT) tentou
justificar o relacionamento comercial especial com a China pelo fato
de que esse país é o terceiro importador mundial dos produtos
brasileiros, recebendo 14,8% das nossas exportações. Contudo, o
deputado se dispôs a participar da marcha a Brasília proposta por
Domingos Sávio para exigir medidas protetoras do Governo Federal.
Gomes apresentou projeto de lei que pretende cassar a eficácia da
inscrição no ICMS da empresa que comercializar, adquirir, estocar ou
expuser produtos falsificados ou contrabandeados. Os sócios do
empreendimento penalizado ficariam impedidos de exercer o mesmo ramo
de atividade.
O 3º vice-presidente, deputado Fábio Avelar (PSC),
também fez coro às queixas do setor produtivo e assegurou aos
representantes da indústria e à platéia que as demandas apresentadas
nessa reunião "serão a bandeira de todos nós daqui para diante".
Fiação e tecelagem responde por 200 mil empregos em
Minas
O setor de Fiação e Tecelagem brasileiro apresenta
um faturamento superior ao da indústria automobilística, com US$ 26
bilhões, e que só em Minas são 8 mil empresas que criam 200 mil
empregos. O presidente da Cia. Cedro Cachoeira, Aguinaldo Diniz
Filho, demonstrou que a cadeia têxtil é responsável por 14% dos
empregos na indústria de transformação e que assinalou menor taxa de
inflação que todos os demais setores da economia. Queixou-se de que
o Brasil é o 6% país produtor de têxteis, mas que isso significa
apenas 0,5% no comércio exterior.
Diniz Filho pediu a desoneração total do setor
têxtil e o fortalecimento da cotonicultura, que, segundo Inácio
Urban, da Associação dos Produtores de Algodão, está arcando com
custos altíssimos de insumos, já que o preço dos fertilizantes e
defensivos não baixou juntamente com o dólar.
Júnior Cesar Silva, presidente do Sindicato
Calçadista de Nova Serrana, disse que o Brasil importou 17 milhões
de pares de calçados em 2005, sendo 68% da China, produtos de
qualidade muito inferior à nacional. Disse que Nova Serrana emprega
17 mil pessoas na indústria calçadista, e que a produção foi de 77
milhões de pares. A cidade fornece 55% da produção nacional de
calçados esportivos. O empresário relatou a morte da indústria de
calçados italiana de Fermo, que teve que fechar 75% de suas
fábricas.
O ex-deputado Francisco Horta, dono do Centro
Ótico, combateu a venda ilegal de óculos em bancas de revista e
camelôs, além de "outras quinquilharias sem garantia". Disse que a
abertura em direção à China é maléfica e que os jovens brasileiros
estão muito necessitados de emprego. "O interesse da população na
criação de empregos tem que estar acima de qualquer ideologia",
afirmou.
Rafael Júnior Bossas do Couto, vice-presidente do
Sindicato das Indústrias de Explosivos, denunciou a entrada de
produtos semi-manufaturados da China que oferecem risco aos
operários e aos usuários, além de desempregar muita gente no setor.
Mencionou que o setor de artefatos pirotécnicos está recebendo apoio
da Fiemg do Ciemg e do Sebrae, além do Governo de Minas. Gláucia
Carneiro Rodrigues, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico,
confirmou que o Governo acaba de instalar um centro tecnológico de
pirotecnia em Santo Antônio do Monte.
Modelo chinês de desenvolvimento não tem mais
mão-de-obra escrava
Marta Lassance, da Fiemg, fez uma exposição sobre o
modelo de desenvolvimento chinês, revelando que seu sucesso não está
mais baseado em capitais estrangeiros e exploração de mão-de-obra
semi-escrava. "O PIB da China é maior que o nosso. A indústria já
representa 73% da economia. Os especialistas garantem que o alto
nível de formação do capital fixo e o investimento maciço de até 43%
do PIB é que sustentam esse desenvolvimento espetacular de 9% ao
ano". Lassance acredita que, nos próximos anos, a pressão
internacional pela valorização do yuan vai forçar a China a
direcionar seus produtos para o mercado interno.
Michel Aburachid, presidente do Sindicato das
Indústrias de Vestuário, relatou as razões pelas quais o setor de
confecções exige poucos investimentos e pode gerar empregos não
especializados e pouco especializados rapidamente. Flávio Roscoe
Nogueira, presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas
de Minas Gerais, afirmou que o Brasil não fez opção pelo
desenvolvimento, e que precisa baixar os juros e subir o dólar. No
entanto, segundo ele, o Governo Federal diz que fica sensibilizado,
mas que não fará nada enquanto não for forçado pela sociedade
civil.
Nesta terça-feira, uma caravana de empresários
lesados na relação comercial com a China terá uma audiência com o
presidente Lula. Aguinaldo Diniz Filho, da Cedro Cachoeira, terá
três minutos para falar com o presidente, e vai levar um manifesto
assinado por todos os seis deputados presentes à reunião. Domingos
Sávio pediu que o tom fosse "Fora China ou Fora Lula". Doutor Viana
disse que os shoppings populares são uma oficialização do
contrabando.
Requerimentos: Dois
requerimentos foram aprovados na reunião: um dirigido ao ministro
Furlan, pedindo a implementação de salvaguardas comerciais para
proteger a economia nacional da concorrência predatória dos
chineses. O segundo é dirigido ao governador Aécio Neves, pedindo
uma manifestação formal do Governo de Minas sobre o mesmo assunto.
Domingos Sávio acrescentou que o requerimento deve ser levado em
mãos ao governador e pediu uma audiência no Palácio. Antes de
encerrar a reunião, o deputado Paulo Cesar disse que recebeu
denúncia de que a Sedese estava comprando produtos chineses, entre
eles uniformes.
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