Vale do Rio Doce discute desafios para consolidação do Suas

A consolidação do Sistema Único de Assistência Social (Suas) é o grande desafio para o sucesso das políticas publicas...

29/05/2006 - 00:02
 

Vale do Rio Doce discute desafios para consolidação do Suas

A consolidação do Sistema Único de Assistência Social (Suas) é o grande desafio para o sucesso das políticas publicas da área, conforme avaliou o secretário do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Osvaldo Russo. Ele participou do terceiro Encontro Regional "Implantação do Suas: Desafios e Perspectivas", realizado em Governador Valadares nesta segunda-feira (29/5/06). O evento reuniu cerca de 450 pessoas, entre autoridades locais e profissionais da área de serviço social de várias cidades do Vale do Rio Doce.

Para que o Suas seja bem-sucedido, na avaliação de Osvaldo Russo, é preciso definir claramente os papéis dos municípios, Estados e União na operação do sistema. Ele cobrou maior participação dos demais entes federados no financiamento da rede de assistência social. Segundo o secretário, em 2002 o governo federal arcou com 53% de todos os recursos destinados à assistência social, porcentagem que aumentou para 75% neste ano.

Outro desafio é a universalização da assistência social básica. Para isso, o governo federal trabalha com a meta de dotar todos os municípios brasileiros de centros de referência em assistência social (Cras). "Queremos a assistência social como porta de entrada para as demais políticas públicas, como saúde, educação e segurança", esclarece Osvaldo Russo. Ele também lista como desafios a necessidade de ampliação dos serviços oferecidos pela rede social e de integração dos programas e benefícios existentes nas três esferas de governo.

As dificuldades não terminam aí. Segundo a subsecretária de Estado de Trabalho e Assistência Social, Maria Albanita Roberta de Lima, a maior parte dos municípios mineiros não está preparada para assumir a gestão do Suas. "Cerca de 70% dos nossos municípios são de pequeno porte. A maioria deles não tem sequer uma secretaria específica para a área social, nem capital humano ou recursos tecnológicos para se habilitarem para a gestão do Suas", relatou. Por esse motivo, ela defende que o Estado seja tratado de maneira diferenciada, uma vez que vai ter que redobrar os esforços de orientação e apoio técnico para as pequenas prefeituras.

O maior envolvimento do Estado na capacitação dos municípios também foi enfatizado pela presidente do Colegiado de Gestores Municipais de Assistência Social (Cogemas), Rosilene Cristina Rocha. Ela lembrou ainda a necessidade de continuidade dos aportes de recursos para a consolidação da rede de assistência social. "Não podemos correr o risco de abrir novos Cras este ano e fechar no ano que vem", alertou.

Investimentos na área social triplicaram

Mesmo com tantos desafios a superar, o processo de implantação do Suas é visto como uma revolução pelo secretário do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Osvaldo Russo. Sua implantação, que teve início no ano passado, é o resultado de uma série de pactuações entre os entes federados e de várias conferências que mobilizaram cerca de 400 mil pessoas em todo o País.

Os recursos investidos na área social pelo governo federal, de acordo com a diretora do Departamento de Gestão do Suas no Ministério do Desenvolvimento Agrário e Combate à Fome, Simone Albuquerque, são da ordem de R$ 21 bilhões neste ano. É o terceiro maior orçamento entre todos os ministérios, e representa quase o triplo do valor investido na área social em 2003, primeiro ano de governo Lula, quando foram gastos R$ 6,5 bilhões no setor. Minas Gerais foi o primeiro Estado a aderir ao sistema, e alocou recursos da ordem de R$ 3 milhões neste ano para a implantação de 170 Cras em 142 cidades, segundo a diretora da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes, Juliana Resende.

O prefeito de Governador Valadares, Bonifácio Mourão (PSDB), informou que o município assumiu a gestão plena do Suas no ano passado. Desde então, já foram criados quatro Cras nas regiões mais carentes da cidade. Nesses centros, já foram cadastradas 20 mil famílias com renda mensal inferior a meio salário mínimo, para que elas possam se beneficiar dos diversos programas de distribuição de renda e geração de trabalho. A prefeitura também desenvolve diversos programas sociais, que vão desde ações de apoio a idosos e deficientes físicos a programas de proteção a mulheres ameaçadas pela violência doméstica.

Para deputados, esforço deve ser conjunto

O deputado José Henrique (PMDB), que representou o presidente da ALMG, deputado Mauri Torres (PSDB), na abertura do evento, lembrou que muitas ações na área social nem sempre partem do poder público, mas de instituições de caridade e organizações não-governamentais. "Mas a assistência social não deve estar a serviço apenas de situações pontuais. Ela deve ser vista como direito de todo cidadão e como atribuição do Estado", ressaltou.

A deputada Elisa Costa (PT) também lembrou a importância de políticas públicas consistentes para substituir a velha prática do clientelismo. E o deputado André Quintão (PT), que é assistente social, ressaltou a importância da continuidade dos aportes de recursos para garantir o sucesso da implementação do Suas.

Na fase de debates, a deputada Elisa Costa (PT) fez uma palestra sobre a legislação e o controle social na implantação do Suas, lembrando a todos a importância do envolvimento dos legislativos municipais na elaboração de leis para captação de recursos, uma vez que muitas cidades não dispõem de normas específicas para os fundos municipais de assistência social. "Precisamos romper com a cultura da troca de favores e evoluir para políticas emancipatórias. Queremos superar a pobreza e construir políticas cidadãs, com a participação de todos", destacou.

Nem tudo é desalento entre os municípios do Vale do Rio Doce, no entanto. Em Coronel Fabriciano, cidade com 25% da população abaixo da linha da pobreza, a Secretaria de Assistência Social reordenou o funcionamento da pasta. Foram criados vários novos programas de assistência e intensificada a fiscalização sobre os que já existiam. Com o maior controle sobre o programa Bolsa-Família, foram cancelados cerca de 200 benefícios irregulares, como disse a secretária Júlia Maria Muniz Restori.

Governador Valadares também desenvolve diversas ações na área, como oficinas de capacitação, abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica e acolhimento de menores infratores. A secretária de Assistência Social do município, Eloíza Drumond, reclamou da escassez de recursos estaduais e federais. Em 2006, o município está destinando R$ 3,8 milhões para assistência social, mas os aportes do governo do Estado e da União são de R$ 307 mil e R$ 1,1 milhão, respectivamente.

Presenças - Também participaram do evento o deputado Jayro Lessa (PFL), que coordenou os debates da manhã; o diretor comercial da Associação Mineira de Municípios, Érzio Mansur; os prefeitos de Cantagalo, Roberto de Oliveira Queiroz Costa, e de Central de Minas, Ageu Diniz de Oliveira; e presidente do Conselho Regional de Serviço Social, Júlia Maria Muniz Restori; o vice-presidente do Conselho Estadual de Assistência Social, Jean Carlos Rocha; e a presidente da União Regional dos Conselhos Municipais de Assistência Social de Timóteo, Edileuza Ferreira Calazans.

 

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