Participação popular se reflete na ampliação de sugestões legislativas

A demanda cada vez maior de participação da sociedade civil nas decisões do País, evidenciada no crescente número de ...

25/05/2006 - 00:01
 

Participação popular se reflete na ampliação de sugestões legislativas

A demanda cada vez maior de participação da sociedade civil nas decisões do País, evidenciada no crescente número de sugestões legislativas apresentadas, foi destacada pelos participantes do debate "Participação Popular no Legislativo", realizado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais na manhã desta quinta-feira (25/5/06). A iniciativa do debate é da Comissão de Participação Popular da Assembléia, por meio de requerimento apresentado pela deputada Maria Tereza Lara (PT), sua presidente, e pelos deputados André Quintão (PT) e Miguel Martini (PHS), em atendimento à solicitação dos integrantes do II Encontro Mineiro de Fé e Política, realizado em outubro de 2005.

Tanto Maria Tereza Lara como André Quintão salientaram os avanços conseguidos desde a instalação da Comissão de Participação Popular da Assembléia, em 2003, como as discussões do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) e do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI), que resultaram em diversas propostas legislativas acatadas pela comissão. Segundo André Quintão, o desafio atual da comissão é estimular a criação de mecanismos de participação nas câmaras municipais. Pela manhã, o primeiro painel do debate público teve como tema a "Participação popular nos Legislativos federal, estadual e municipal".

Aproximação com a sociedade é política de governo

O papel da sociedade nas diretrizes do País, dentro da filosofia de governabilidade social, foi uma decisão de governo, segundo o secretário nacional de Estudos e Pesquisas Político-Institucionais da Secretaria-Geral da Presidência da República, Wagner Caetano de Oliveira. Segundo ele, trata-se de uma experiência nova para todos, implantada a partir de 2003, já que antes a relação do governo com a sociedade era estanque, compartimentada nos ministérios. A grande mudança, segundo sua avaliação, veio com os debates do Plano Plurianual, do governo federal, e hoje já se tornou uma ação permanente, efetivada em 32 conferências setoriais, que tiveram a participação de mais de dois milhões de pessoas.

Ele destacou como principais avanços dessa política, o fortalecimento da agricultura familiar; a redução do imposto de renda de assalariados; a política industrial com a implantação de várias linhas de crédito populares; a desoneração tributária para micro e pequenos empresários, ações essas fruto da participação de entidades representativas e organizações populares em discussões permanentes. Wagner Caetano informou que este ano, o desafio é o envolvimento da sociedade civil no ciclo de debates sobre a gestão do Orçamento federal.

Audiências públicas - Representando a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, Helger Marra Lopes destacou quatro pontos para reflexão no debate público: a qualidade das audiências públicas de 2003 em diante, com propostas mais realizáveis; o foco nestas audiências, para as discussões dos projetos estruturadores do governo mineiro; a necessidade de valorizar outras áreas, como competitividade e governança, nessas discussões, "pelo impacto que têm no nível de bem estar"; e o risco de distorção das audiências, em ano eleitoral.

Presidente da Comissão de Legislação Popular da Câmara dos Deputados (CLP), criada em 2001, o deputado mineiro Geraldo Thadeu (PPS) informou que Minas é o Estado mais participativo. "Das 140 proposições recebidas em nossa comissão, entre 2001 e 2004, 57 provinham de Minas". Demonstrando que a CLP tem um resultado positivo, ele informou que até o ano passado, das 362 sugestões que a comissão recebeu, 112 foram transformadas em proposições. O deputado lembrou que este ano foram encerradas as análises das sete sugestões de emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias, recebidas pela comissão

Já o representante do Fórum Mineiro de Participação Popular, Thiago de Azevedo Camargo, destacou que o grande eixo da entidade este ano será a discussão do Orçamento, com foco na criação da Lei de Responsabilidade Social, "para definir metas para o social, em contraponto com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)". Ele informou que a iniciativa não precisa sair antes do Congresso. "As cidades podem fazer suas leis municipais, como já existe no Rio Grande do Sul e em Montes Claros, cujas discussões nesse sentido estão bem avançadas".

Instituições políticas enfrentam crise de credibilidade

O professor da UFMG Carlos Ranulfo abordou o problema da falta de confiança da população brasileira nas instituições democráticas. Para ele, três razões explicam esse fato constatado nas pesquisas de opinião pública: a tradição histórica, a falta de informação e o excesso de escândalos.

Segundo ele, no Brasil, não existe uma tradição parlamentar e, historicamente, a população sempre foi acostumada a ter "chefes", seja ele o imperador, o coronel ou o presidente. No segundo ponto, falta de informação, Ranulfo considera que a população não conhece o funcionamento das casas legislativas e de seus processos e, além disso, não possui interesse em se informar. Por fim, o excesso de escândalos envolvendo as instituições políticas contribui para aumentar o desinteresse da sociedade, que acaba apenas tomando conhecimento das notícias de corrupção.

Diante desse contexto, o professor considera que um dos caminhos para reverter a imagem negativa é a participação popular. Para ele, esse mecanismo pode contribuir para diminuir a distância entre a sociedade e as instituições políticas, na medida que a população aprende a contestar e a compreender os processos legislativos. No entanto, Carlos Ranulfo ressaltou que não basta somente aumentar a participação popular. "É necessário combiná-la com outros mecanismos, como a educação política nas escolas e o combate à corrupção", finaliza.

Direito de participar - Já o integrante do Fórum Brasil de Orçamento, Francisco Sadeck, afirmou que a participação é uma radicalização do modelo democrático, através da abertura de canais participativos. Segundo ele, entretanto, não basta que as instituições políticas criem esses mecanismos. É preciso também que a sociedade tenha conhecimento desses canais e saiba como utilizá-los.

Nesse sentido, o deputado Miguel Martini lembrou que hoje os canais estão sendo concedidos pelas instituições, mas que é necessário que a sociedade não os veja como uma concessão e sim como um direito. Para ele, somente enxergando como um direito é que a população irá se mobilizar para utilizar os mecanismos de participação.

A deputada Maria Tereza Lara fez um histórico sobre a participação popular na Assembléia de Minas Gerais. Ela lembrou a criação do Comitê de Comunicação Institucional que debateu e discutiu mudanças institucionais, no início da década de 90, contribuindo para a ampliação dos espaços de participação com a instituição dos seminários legislativos, dos fóruns técnicos e dos ciclos de debates.

Por fim a deputada falou sobre a criação em 2003 da Comissão de Participação Popular, que, segundo ela, representou um marco na ampliação dos mecanismos de participação na ALMG. Entre as ações desenvolvidas pela comissão, Maria Tereza Lara destacou o Parlamento Jovem, que vem contribuindo na formação da população e no fortalecimento dos movimentos sociais.

Na fase de debates, o público apresentou questionamentos sobre os seguintes assuntos: participação popular nas câmaras municipais, a importância da educação política e a demora nos resultados práticos das audiências públicas, entre outros.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715