Debate sobre desafios do Suas reúne quase 400 pessoas em Juiz de Fora

Cerca de 400 pessoas, entre lideranças que atuam na área da assistência social, prefeitos, vice-prefeitos e vereadore...

23/05/2006 - 00:02
 

Debate sobre desafios do Suas reúne quase 400 pessoas em Juiz de Fora

Cerca de 400 pessoas, entre lideranças que atuam na área da assistência social, prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de mais de 80 municípios da Zona da Mata, além de seis deputados, lotaram o auditório da Escola de Governo de Juiz de Fora nesta terça-feira (23/5/06), para debater a "Implantação do Sistema Único de Assistência Social (Suas): Desafios e Perspectivas". O encontro regional da Zona da Mata foi o segundo de uma série de cinco promovidos pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O primeiro foi realizado na cidade de Divinópolis, no dia 15 de maio. Os demais serão em Governador Valadares (29/5), Itaobim (2/6) e Montes Claros (5/6).

Os encontros regionais foram propostos durante ciclo de debates ocorrido na ALMG em novembro do ano passado. A organização do evento foi formatada pelos deputados André Quintão (PT), João Leite e Domingos Sávio, do PSDB, e Miguel Martini (PHS), e pela deputada Elisa Costa (PT).

O deputado Sebastião Helvécio (PDT), que abriu o evento em Juiz de Fora, lembrou os objetivos do encontro de contribuir para a consolidação do novo modelo de gestão da assistência social, debater e esclarecer as competências e atribuições das três esferas de poder na implantação do Suas e identificar os principais desafios para a implantação do sistema. Sensibilizar os Executivos e Legislativos sobre seus papéis, discutir a função dos conselhos no controle social do Suas e capacitar os responsáveis pela assistência social e pela execução do orçamento municipal quanto à implantação do novo sistema também são propósitos dos encontros.

Sebastião Helvécio leu ainda pronunciamento do presidente da ALMG, deputado Mauri Torres (PSDB), em que ele afirma que os avanços da legislação que rege a assistência social, desde a Constituição de 1988, fortaleceram o entendimento de que a assistência social não deve estar a serviço apenas de situações pontuais, e sim ser vista como um direito de todo cidadão, a ser cumprido permanentemente.

Ministério aponta aumento do aporte de recursos

O aumento dos recursos destinados pelo governo federal para a área de assistência social foi apresentado pela secretária executiva do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Helena Carvalho Lopes. Segundo ela, em 2002 esse investimento era de R$ 6 bilhões, tendo passado para R$ 8,5 bilhões em 2003; 15,5 bilhões em 2004; chegando a R$ 18 bilhões em 2005 e R$ 22,2 bilhões em 2006. Segundo o prefeito de Juiz de Fora, Alberto Bejani, o governo federal destinou R$ 27,8 milhões para a cidade investir na área social.

Peculiaridades - Para a subsecretária de Estado de Trabalho e Assistência Social, Maria Albanita Roberta de Lima, o Estado de Minas Gerais possui peculiaridades que precisam ser consideradas para a implementação do Suas. Segundo ela, 209 municípios estão fora da habilitação inicial (não se habilitaram nem para a gestão básica nem para a plena) no Estado e, em municípios menores, os gestores têm dificuldades em compreender o que é política pública de assistência social. "Tão importante quanto ter recursos disponíveis é instrumentalizar os municípios para usá-los", defendeu.

O deputado George Hilton (PP), que coordenou as atividades da manhã, enfatizou que o debate com a sociedade civil legitima a legislação. "Sem a contribuição da população, as normas não saem do papel", afirmou. O deputado Edson Rezende (PT) também destacou a importância da participação popular para transformar a sociedade.

Durante a exposição sobre o tema "Implantação do novo modelo de gestão da assistência social: competências e atribuições da União, dos Estados e dos municípios", Márcia Lopes destacou que a assistência social foi inserida no tripé da seguridade social pela Constituição de 1988. Ela fez um levantamento histórico da legislação que trata do tema e reforçou que a assistência social precisa ser vista como uma política permanente de proteção social, que é direito do cidadão. "Quem condena a transferência de renda está em desacordo com a própria Constituição", enfatizou.

Novo modelo - A secretária executiva do ministério também listou algumas das características introduzidas pelo novo modelo de gestão da assistência social que, segundo ela, propõe um redesenho do papel e da escala de organização dos serviços com a primazia do Estado e a rede sócio-assistencial privada com papel complementar. O trabalho é feito tendo a família por base, em caráter preventivo, e com o fortalecimento dos vínculos sociais. Os serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social são definidos por nível de complexidade e o território é tomado como base da organização.

O papel do Estado dentro do novo modelo e os desafios encontrados para a efetivação do Suas foram apresentados pela superintendente de Assistência Social da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes (Sedese), Marta Maria Castro Vieira da Silva. Assim como a subsecretária Maria Albanita, ela considera que Minas Gerais enfrenta um desafio especial para a implantação do sistema, por ter um número maior de municípios, divididos em regiões com características diversas do ponto de vista sócio-econômico e cultural. "Além disso, temos uma capital com porte de metrópole", concluiu.

A dificuldade apresentada pelo tamanho do Estado de Minas Gerais também foi compartilhada pelo diretor financeiro da Associação Mineira de Municípios (AMM), Hérzio Mansur, que abordou o tema "Financiamento e recursos humanos: desafios para consolidar o Suas".

Déficit de pessoal - Marta Maria, da Sedese, também lembrou que a secretaria não tem recursos humanos suficientes para abarcar a capacitação dos municípios para o Suas e defendeu que essa responsabilidade seja compartilhada com a União. Ela anunciou também que está sendo preparado um edital para a realização de concurso público no Estado para minimizar o déficit de pessoal nessa área. Em relação aos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), 142 municípios foram beneficiados com recursos do Tesouro Estadual e implantadas 170 unidades. Além disso, segundo ela, foi assegurada a manutenção de quatro núcleos de apoio à família em municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, perfazendo um total de R$ 3,4 milhões aplicados. Os detalhes sobre o financiamento para o Suas foram apresentados na exposição do assessor da Secretaria Nacional de Assistência Social, José Cruz.

A importância do profissional de serviço social no eixo estruturante do Suas foi trazido por Cris do Vale, do Conselho Regional de Serviço Social. Ela defendeu a realização de um diagnóstico que possa apontar para a realidade desses trabalhadores quanto à qualidade com que se inserem no mercado de trabalho e também quanto à sua remuneração e responsabilidades.

Legislação e controle social são abordados na segunda parte do encontro

"A luta faz a lei", afirmou o deputado Biel Rocha (PT), coordenador dos trabalhos da tarde, ao destacar a imensa participação da platéia no encontro regional. O deputado André Quintão (PT), que foi um dos expositores da tarde, abordando o tema "Legislação e controle social no processo de implantação do Suas", também ressaltou a importância da participação popular no processo democrático. Ele afirmou que o papel do Legislativo é fundamental para a consolidação do Suas. Mas lembrou que, historicamente, muitas vezes o Legislativo, em todos os níveis, tratou o cidadão com políticas clientelistas para fins eleitoreiros. "Isso vai na contramão de tudo o que estamos discutindo aqui. Fere todos os princípios do Suas", completou.

Na mesma linha, Mário Albino Martins, do Conselho Estadual de Assistência Social, defendeu a separação entre política partidária e política de assistência social. "Caso contrário, veremos todas as enormes conquistas já alcançadas irem por água abaixo, após as mudanças de governo", concluiu. O presidente da União dos Conselhos Municipais de Assistência Social de Juiz de Fora, Osvaldo Luís Felipe de Andrade, citou os mecanismos e espaços de controle social como os conselhos, as conferências realizadas a cada dois anos, e os órgãos gestores. Para ele, descentralização e participação estão diretamente ligadas e pressupõem a parceria entre sociedade civil e Estado.

A deputada Elisa Costa (PT) defendeu que o envolvimento da sociedade civil no processo democrático de construção de políticas públicas leva os gestores a um comprometimento maior. Ela informou que Minas Gerais tem hoje 256 conselhos regionais de assistência social, mas o objetivo é que todos os municípios tenham um centro de referência. "Ainda não temos recursos disponíveis para isso", afirmou a deputada, que disse ainda que 95% dos recursos executados na área de assistência social em Minas Gerais em 2005 vieram do governo federal.

Ao final do encontro foram desenvolvidas duas atividades paralelas: o relato de experiências dos municípios de Juiz de Fora, Muriaé e Bicas sobre a implantação do Suas e uma oficina de capacitação para operacionalização dos Fundos Municipais de Assistência Social (legislação básica, gestão e prestação de contas).

 

 

 

 

 

 

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