Professores designados da Uemg reivindicam adiamento de
concurso
Os professores designados da Universidade do Estado
de Minas Gerais (Uemg), que representam 92% do corpo docente da
instituição, querem o adiamento de concurso público para o
preenchimento de cargos de professor na universidade e continuar
exercendo suas funções até que sejam solucionadas as questões
jurídico-legais que envolvem sua situação funcional. A reivindicação
foi apresentada e discutida em audiência pública da Comissão de
Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, na manhã desta quinta-feira (18/5/06).
Dezenas de professores e estudantes lotaram o Auditório da
Assembléia para participar do debate, realizado a requerimento do
presidente da comissão, deputado Doutor Viana (PFL).
Criada em 1989, ao longo dos anos a Uemg publicou
vários editais para contratação de professores temporários,
aproveitando brechas da lei que permitem esse tipo de contrato para
atender necessidade temporária e em casos especiais. Mas, em vez de
realizar concursos públicos para preenchimento dos cargos,
legalizando a situação, manteve os designados indefinidamente,
renovando anualmente os contratos. Com isso, criou-se uma situação
em que a grande maioria dos docentes exerce, de fato, uma função
pública, inclusive recebendo biênios e qüinqüênios, mas com
tratamento diferenciado em relação aos efetivos no que se refere a
salários e sem direito a aposentadoria como servidores
estaduais.
Problema histórico - Para a
professora Afrodite Aguiar Pinter Cardoso, esse "é um problema
histórico", herdado de governos anteriores como forma de burlar a
lei. Ela avaliou que a dispensa dos designados fere os interesses da
própria Uemg, por causa da experiência que têm e trabalhos e
pesquisas que desenvolvem na instituição: "seria um caos remover 92%
do corpo docente de uma universidade". Nas quatro unidades do campus
Belo Horizonte, há 373 professores designados, sendo 117 mestres,
nove doutores e a maioria dos demais com títulos de especialização.
Afrodite Cardoso leu documento encaminhado ao Executivo e ao
Legislativo em que os docentes reivindicam averbação do tempo de
serviço prestado para fins de direitos e percepção de vantagens, bem
como respeito a seus direitos no caso da realização de concurso,
como exige o Ministério Público.
Deputados apóiam reivindicações
Os deputados presentes solidarizaram-se com as
reivindicações dos professores. "É preciso encontrar uma solução
imediata para que tenham seus direitos reconhecidos. Esta é uma
causa justa, digna e merecida", ressaltou Doutor Viana. Ana Maria
Resende (PSDB) concordou, dizendo que apesar de ser um problema de
difícil solução, é preciso encontrar uma saída. Para Paulo Piau
(PPS), mais que uma irregularidade, a situação dos professores "é
uma fraude". "A função do Ministério Público é fazer cumprir a lei,
mas chegamos a um quadro de legalismo irreal, por causa de uma
Constituição cheia de sonhos e utopias", analisou. Rogério Correia
(PT) também solidarizou-se com a mobilização dos docentes, e
criticou o governo do Estado por não investir na educação e por não
ter enviado representantes para participar da audiência. E a
deputada Jô Moraes (PCdoB) propôs que a Assembléia intermediasse uma
saída para o impasse junto ao Ministério Público.
Na reunião, a comissão aprovou requerimento do
deputado Doutor Viana solicitando ao governador do Estado a imediata
suspensão da publicação do edital do concurso público, mantendo em
exercício os atuais ocupantes designados para os referidos cargos,
até que seja solucionada a sua situação. Outro requerimento
aprovado, da deputada Jô Moraes (PCdoB) e do deputados Doutor Viana
e Paulo Piau (PPS), requer ao procurador-geral de Justiça a
formalização de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o
Ministério Público Estadual e a Uemg com vistas a solucionar as
questões jurídicas e legais relativas aos designados e à implantação
e funcionamento da universidade.
Avanço do ensino privado
Márcio Antônio de Oliveira, professor da
Universidade Federal de Juiz de Fora e representante do Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior,
considerou a situação da Uemg "extremamente grave". Ele disse que a
precarização da situação funcional dos docentes é uma ilegalidade
que atinge outras universidades públicas, inclusive federais, onde
há até 25% de professores substitutos. E relacionou o quadro da Uemg
com o avanço do ensino privado no Brasil. Segundo o professor da
UFJF, em 1980 havia 40 mil professores na rede privada; em 2001 já
eram 128 mil. Atualmente, apenas 20% dos alunos, cerca de 600 mil,
estudam em universidades públicas. Márcio Oliveira disse, ainda, que
a cota do orçamento estadual destinado à educação em Minas é
inferior até mesmo à de outros estados, como São Paulo, Bahia e
Paraná.
Para Otaviano Marcondes Helene, professor efetivo
do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), as
instituições privadas de ensino superior não estão comprometidas com
o desenvolvimento nacional, mas com suas planilhas de custos. "Com
raras exceções, o setor privado não oferece os cursos de que o País
precisa, mas apenas aqueles que têm clientela garantida e dão
retorno financeiro", analisou. Na sua opinião, no caso da Uemg, além
dos aspectos humanos que devem ser considerados, uma ação
inadequada, com o afastamento daqueles que há anos vêm trabalhando
com abnegação e idealismo pelo fortalecimento da instituição, pode
ter graves conseqüências para todos, desmobilizando e desmotivando
professores e alunos.
Professores cobram ação da ALMG
Na fase de debates, vários professores e estudantes
presentes fizeram uso da palavra para denunciar a dimensão do drama
dos docentes. Ubaldo Dutra de Araújo cobrou mais atenção da
Assembléia para com a Uemg. "As vítimas é que estão sendo culpadas
pelo descaso do Estado", acusou, dizendo que o Legislativo tem que
fazer mais do que apenas mediar o diálogo com o Executivo. "Ninguém
aqui quer trem da alegria; queremos justiça e legitimação de nossa
situação nos cargos que ocupamos de fato. A Assembléia pode estudar
e legislar sobre isso. O Direito moderno é reparador e o Parlamento
existe para isso", assinalou. Ele e outros professores criticaram a
abertura de concurso no final do mandato do atual reitor.
Requerimentos aprovados
Além dos requerimentos que solicitam, ao governador
e ao Ministério Público, providências no sentido de equacionar o
problema dos designados da Uemg, a Comissão de Educação ainda
aprovou, na reunião desta quinta-feira, requerimento do deputado
Elmiro Nascimento (PFL) propondo realização de audiência pública com
a finalidade de debater a situação de fato e de direito em que se
encontra a universidade, notadamente o cumprimento de dispositivos
constitucionais e legais; as ações diretas de inconstitucionalidade;
o parecer emitido pelo Conselho Estadual de Educação; a situação das
unidades de Belo Horizonte; os vínculos com as entidades
fundacionais do interior e as chancelas dos diplomas emitidos e a
legalidade dos atos praticados pela reitoria.
Presenças - Deputados
Doutor Viana (PFL), presidente da comissão; Ana Maria Resende
(PSDB), vice-presidente; Leonídio Bouças (PSC), Paulo Piau (PPS),
Rogério Correia (PT) e Jô Moraes (PCdoB).
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