ALMG pede atendimento especial da Justiça para crianças e adolescentes

Os deputados da Comissão de Participação Popular e a Frente Parlamentar pela Defesa dos Direitos da Criança e do Adol...

18/05/2006 - 00:06
 

ALMG pede atendimento especial da Justiça para crianças e adolescentes

Os deputados da Comissão de Participação Popular e a Frente Parlamentar pela Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais pediram ao presidente em exercício do Tribunal de Justiça de Minas, desembargador Orlando Carvalho, a criação da primeira vara especializada no julgamento de crimes cometidos contra crianças e adolescentes no Estado. A decisão de procurar o presidente do TJ foi anunciada durante a audiência pública da Comissão de Participação Popular, nesta quinta-feira (18/5/06), para avaliar a atual situação do Plano Estadual de Enfrentamento à Violência, Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, lançado em maio do ano passado.

"Enquanto houver impunidade não haverá estímulo a denúncias. Temos que ser implacáveis com quem comete crimes contra crianças", afirmou o deputado André Quintão (PT), autor do requerimento para a realização da audiência e coordenador da Frente Parlamentar. Ele disse que se sente orgulhoso por fazer parte desta rede de combate à violência, e que é também obrigação do Poder Legislativo acompanhar e fiscalizar as políticas públicas implementadas pelo Estado. Ele ressaltou a importância da conscientização da sociedade em denunciar casos de violação dos direitos da criança e adolescente.

André Quintão destacou também que o documento, entregue na tarde desta quinta-feira ao desembargador Orlando Carvalho, foi assinado por representantes de entidades, do governo e da sociedade civil, que trabalham em defesa da criança e adolescente. Durante o encontro, Orlando Carvalho informou que a criação da vara especializada faria parte do projeto que altera a Lei de Divisão e Organização Judiciária do Estado, previsto para ser enviado à Assembléia no mês que vem. Para o deputado Rogério Correia (PT) a criação dessa vara é uma antiga reivindicação da Assembléia. "Claro que não substitui a elaboração de políticas públicas, mas o que não podemos mais é deixar os criminosos impunes", destacou o 2º vice-presidente da Assembléia Legislativa.

Subcretário fala das ações governamentais contra abuso infanto-juvenil

O subsecretário de Direitos Humanos da Secretaria de Desenvolvimento Social e Esportes (Sedese), João Batista de Oliveira, falou das ações governamentais contra abuso infanto-juvenil, realizadas em parceria com a União e municípios. Uma dessas ações, realizada em 2004, foi a campanha de conscientização "caminhoneiro cidadão" em 17 rodovias mineiras, próximas às regionais da Sedese. Outro exemplo apresentado pelo subsecretário foi a capacitação de 100 mil profissionais, espalhados em 3.900 escolas públicas. A superintendência de Estado da Saúde também realizou uma campanha de conscientização em postos de saúde, resultando no aumento de 300% de denúncias através do Disque-Direitos Humanos. O mesmo trabalho, de divulgação do telefone 0800 31 11 19, foi realizado com a Polícia Civil, com a Associação dos Municípios atingindo todos os 853 municípios do Estado. Outra iniciativa, é a participação do programa Sentinela, no atendimento á vítimas de violência.

Números - João Batista citou dados sobre o Disque Direitos-Humanos, uma das opções para quem deseja denunciar algum tipo de abuso, e não quer ser identificado. O subsecretário disse que em 2004, foram cerca de 1.500 denúncias, sendo 467 relativas à violência física, 419 casos de negligência e abandono, 209 de exploração sexual e 114 de abuso sexual. Nos primeiros quatro meses de 2005, o programa recebeu 478 telefonemas, totalizando 174 denúncias de violência física, 117 de negligência e abandono, 61 casos de exploração sexual e 38 de abuso sexual.

Abusos sexuais acontecem em todas classes sociais

João Batista destacou também que os abusos sexuais acontecem em todas as classes sociais e que, em locais com maior poder aquisitivo, o diferencial é a forma "sofisticada" de cometer o delito. Ele exemplificou que nas regiões mais ricas usam-se carros com vidro fumê para fazer entrega de crianças, que recebem pelo programa um telefone celular; enquanto nas regiões pobres, as crianças ficam na beira de estradas e são prostituídas em troca de um prato de comida ou uma sandalha havaiana. "O abusador em Minas Gerais será denunciado porque, com certeza, está sendo observado", disse o subsecretário.

O procurador de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional da Promotoria da Infância e Juventude (CAO-IJ), José Ronald Vasconcelos de Albergaria, disse que, no ano passado, o Ministério Público, em parceria com conselhos tutelares, cumpriu 160 mandados de prisão contra abusadores. Na sua opinião, o problema somente será resolvido com mudanças na legislação e na cultura. "Prostituição deveria ser tratada como nos Estados Unidos, que é considerado crime", destacou o promotor. Ele disse também que a cultura que diferencia o tratamento do homem e mulher, pela sociedade, desvalorizando o sexo feminino, deve ser mudada.

Prevenção - De acordo com Elisabeth Vieira Gomes, do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência sexual, Abuso e Exploração Contra Crianças e Adolescentes, é preciso atenção especial à prevenção. Ela destacou conquistas como a criação de delegacias especializadas, dos comitês e dos sistemas de denúncias, mas advertiu sobre a necessidade de prevenir a violência dentro das famílias. "Está na hora de avaliarmos melhor o processo educativo sobre a sexualidade no seio da família".

O presidente do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente, Jamis Andris Pinheiro, também pediu mais atenção da Justiça ao problema: "Todas as grandes comarcas de Minas Gerais precisam de uma vara especializada, pois demanda não falta para isso. Não podemos ficar restritos a Belo Horizonte", defendeu.

Para a promotora de Justiça e integrante do Fórum de Enfrentamento à Violência Sexual, Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescente, Maria de Lurdes Rodrigues Santagema, crianças e adolescentes devem ser instruídos e conscientizados dos seus direitos, como forma de participar desta luta. E devem ver também agilidade na Justiça quando são vítimas, porque quando são infratores, a punição vem imediatamente.

A coordenadora da Frente Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, Glaucia Barros, disse que em 2004, a verba do orçamento destinada para combater a violência e exploração sexual aumentou de R$ 10 mil para R$ 300 mil. Em 2005, esse valor chegou a R$ 400 mil. Mas questionou a mudança do nome do programa de "Projeto Orcamentário de Combate à Violência e Exploração Sexual", para "Combate à Violação dos Direitos Humanos", argumentando que poderá prejudicar a destinação de verba para tratar de crianças e adolescentes abusados.

Na opinião da vereadora Neila Batista, coordenadora da Frente Municipal em Defesa da Criança e Adolescente, a persistência e união é a melhor maneira continuar a luta. "Estamos aqui, hoje, com pessoas e grupos que estão nesta causa há 20, 30 anos. Precisamos criar políticas públicas para ajudar as crianças e suas famílias a superar essas dificuldades", afirmou.

Antes da audiência, o grupo de teatro Jovens Interagindo da Oficina de Imagem (Jite) apresentou a esquete teatral "A Valsa GG". Os debates foram coordenados pela presidente da Comissão de Participação Popular, Maria Tereza Lara (PT).

Presenças - Deputada Maria Tereza Lara, presidente; deputados André Quintão (PT) e Rogério Correia, todos do PT.

 

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