Exigência ambiental traz risco de inviabilizar
desenvolvimento
O debate sobre o excesso de exigências para
licenciamento ambiental de empreendimentos produtivos recebeu
importantes contribuições na reunião da Comissão Especial sobre
Governança Ambiental realizada na tarde desta quarta-feira
(17/5/06), sob a presidência do deputado Paulo Piau (PPS). Ao todo,
31 convidados participaram ou compareceram ao debate, entre
autoridades ambientais de Minas e São Paulo, representantes do setor
produtivo, como a Fiemg, sindicatos de indústrias extrativas e de
produtores rurais, cooperativas, e representantes do movimento
ambientalista.
Na abertura, a representante da Federação das
Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Patrícia Boson, disse que a
norma ambiental tem que considerar o parâmetro sócio-econômico. Do
contrário, não haveria condições de cumpri-la. Carlos Alberto
Oliveira, chefe da Assessoria de Meio Ambiente da Federação da
Agricultura de Minas Gerais (Faemg), discordou que o passivo
ambiental recaia apenas sobre o produtor rural. Para ele, a
recuperação ambiental deve ser custeada por toda a sociedade que
beneficiou-se dela.
A palestra de Décio Michellis Jr., do Grupo Rede,
que representa o setor elétrico paulista, ironizou as 860 normas
legais que regem a produção de energia, e afirmou que, nas demandas
ambientais, o Judiciário tende a acatar os argumentos das ongs e do
Ministério Público, em detrimento das razões dos governos e das
empresas. "É preciso consolidar o entendimento de conceitos
jurídicos indeterminados, como a avaliação dos impactos", disse
Michellis Jr.
O empresário disse também que as compensações
ambientais representam hoje o principal gasto na lista das
exigências para o licenciamento, e que existe uma "indústria do
reassentamento" dos atingidos por barragens, a qual irá consumir R$
14 bilhões nos próximos dez anos. A ambientalista Maria Dalce Ricas,
da Associação Mineira de Defesa do Ambiente, criticou o palestrante
por colocar o empresariado na posição de vítima, e disse que a
posição do cidadão mineiro é a de querer o desenvolvimento, mas com
preservação ambiental.
Michellis respondeu que os ambientalistas não têm
responsabilidade no abastecimento das necessidades da população, e
disse que há impactos que não são mitigáveis. Nas hidrelétricas, por
exemplo, não é possível gerar energia sem formar reservatórios, que
implicam em desmatamentos. "Quem quiser luz tem que aceitar esse
fato, a não ser que o modelo seja engarrafar vagalumes",
ironizou.
Cetesb paulista agilizou a emissão de
licenças
O relato da experiência paulista de agilização do
licenciamento interessou vivamente à platéia. Júlio Cézar Dornellas,
da Cia. de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), detalhou
como um programa de computador com certificação e assinatura digital
é possível ser acessado e utilizado pelo empreendedor, sem sair de
sua sala, para obter, num prazo máximo de 15 dias, o licenciamento
para empreendimentos de baixo impacto ambiental. A Cetesb emitiu
7.004 licenças em 1995, e chegou a 34.888 em 2005. Pelo novo
sistema, chamado Silis, que funciona há menos de dois meses, já
foram emitidas 204 licenças.
Outra polêmica foi aberta por José Ferreira Silva
Filho, presidente do Sindicato da Indústria de Rochas Ornamentais,
um setor muito visado pelas autoridades ambientais, mas que, segundo
ele, é constituído em 97% de pequenos empreendimentos com o máximo
de seis empregados. Ele disse que todos vivem meio na ilegalidade,
incapazes de cumprir tantas exigências, e que o licenciamento
ambiental de um empreendimento extrativista classe 3 custaria R$ 145
mil, um valor absurdamente maior que o praticado no Estado do
Espírito Santo.
José Cláudio Junqueira, da Semad, protestou
imediatamente contra tal valor. Disse que a taxa mineira era de
apenas R$ 10.400 para tal classe, valor similar ao do Espírito
Santo. Ferreira Silva admitiu que tinha computado todas as despesas
para o licenciamento, incluindo taxas da Feam, do Igam, do IEF e os
custos da consultoria ambiental. Junqueira retrucou que a "indústria
da consultoria" era combatida pelo sistema público do meio ambiente.
O deputado Paulo Piau conciliou a divergência, ao dizer que "o Poder
Público é um fabricante de criminosos perante a lei".
Licenciamento ambiental dos assentamentos é
exigência do MP
A palestra de Luci Espeschit, chefe da Divisão de
Suporte Operacional do Incra, definiu o conceito de agricultura
familiar, revelou que o termo abrange 85% dos estabelecimentos, 30%
da área, 38% da produção e ocupa 76,8% da mão-de-obra agrícola
brasileira. Luci mostrou a evolução da reforma agrária em Minas, com
209 assentamentos e 12.936 famílias atendidas num total de 588 mil
hectares. Há outros 54 assentamentos no Noroeste do Estado, com
3.378 famílias. Fora o valor da terra, o Incra investe R$ 30.400 por
família assentada, sendo a maior parte em crédito do Pronaf.
Segundo a representante do Incra, a partir de 1999
começou a discussão do licenciamento ambiental para os
assentamentos, quando o Ministério Público Federal passou a cobrar
EIA-Rima do Incra. Foi então emitida a Deliberação Normativa 44, em
2000, mais tarde modificada pela DN 88, de 2005, que estabelece que
os assentamentos acima de 50 famílias precisam de licença prévia e
depois uma LIO, licença de instalação e operação. "Foi um debate
muito rico, porque a maioria dos acampamentos era composta por
pessoas do meio rural que tinham passado por experiências más no
meio urbano, e precisavam se readaptar ao campo. Para eles,
trabalhar a questão ambiental foi um desafio", disse
Espeschit.
Presenças - Deputados
Paulo Piau (PPS), presidente; Adalclever Lopes (PMDB), Adelmo
Carneiro Leão (PT), Luiz Humberto Carneiro (PSDB). Compuseram a
mesa, além dos já citados, Robinson Justino Teodoro (Cetesb),
Eduardo Nascimento, da Fetaemg, e Patrícia Helena Boson
(Cema/Fiemg).
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