Comissão dos Resíduos Sólidos debate licenciamento ambiental

No final de 2002, apenas 15,9% da população urbana de Minas Gerais tinha seu lixo destinado para aterros adequados so...

16/05/2006 - 00:00
 

Comissão dos Resíduos Sólidos debate licenciamento ambiental

No final de 2002, apenas 15,9% da população urbana de Minas Gerais tinha seu lixo destinado para aterros adequados sob o ponto de vista ambiental. Hoje, o percentual aumentou para 30%; e a meta é atingir 70% em dezembro de 2007. As informações são do presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Ilmar Bastos Santos, que participou, nesta terça-feira (16/5/06), na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, de audiência pública da Comissão Especial dos Resíduos Sólidos. A reunião, convocada a requerimento dos deputados Irani Barbosa (PSDB), Célio Moreira (PSDB) e Gustavo Valadares (PFL), abordou a situação do lixo no Estado e os critérios utilizados para o licenciamento ambiental, e foi a primeira de uma série de audiências que a comissão vai realizar, com especialistas, para analisar o gerenciamento de resíduos sólidos e outros aspectos que dizem respeito ao tema "lixo" em todo o território mineiro.

De acordo com Ilmar Santos, o aumento do lixo destinado a aterros deve-se à implementação do programa "Minas sem lixões", que tem priorizado as ações em 81 municípios com mais de 30 mil habitantes e que são responsáveis por mais de 70% dos resíduos sólidos urbanos gerados em Minas. "A Feam tem desenvolvido uma ação pró-ativa, de apoio e parceria com os municípios", relatou. O presidente da Feam defendeu a ampliação dos estímulos dados aos municípios para investimentos em questões ambientais, como o chamado "ICMS ecológico".

Aterro de BH gera polêmica

Questionado pelo deputado Fábio Avelar (PSC) sobre a legalidade do licenciamento do aterro sanitário de Belo Horizonte às margens da BR-040, feito pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) e não pelo Conselho de Política Ambiental do Estado (Copam), Ilmar Bastos Santos disse os municípios não têm autonomia para licenciar empreendimentos que impliquem em um impacto ambiental de classe cinco ou seis, com impacto em outros municípios, como são os aterros sanitários. "Essa é a ótica da Feam e do Copam. O licenciamento do Comam, nesse caso, é inócuo. A competência é do Estado", afirmou Santos. O deputado Fábio Avelar defendeu que se faça uma denúncia ao Ministério Público a fim de evitar que a PBH leve adiante a construção do aterro, com base apenas no licenciamento municipal. "Temos que evitar o fato consumado", analisou o parlamentar.

Além de criticar o licenciamento municipal do aterro sanitário da capital, o deputado Irani Barbosa cobrou mais atenção dos órgãos estaduais de licenciamento ambiental para o tratamento do lixo hospitalar em Belo Horizonte. "No bairro Camargos, os recipientes em que são queimados os resíduos hospitalares são lavados com água da Copasa, que vai depois para o esgoto", denunciou o deputado.

Irani Barbosa afirmou que a comissão deverá fazer uma visita a Mariana, a fim de examinar o impacto ambiental de atividades da empresa Samarco na região, que estariam ameaçando a sobrevivência de alguns cursos d'água. O secretário municipal de Meio Ambiente de Mariana, José Miguel Cota, disse que a empresa vem cumprindo as determinações dos órgãos competentes, e que não tem conhecimento de ameaças aos rios da região.

Produtores cobram ação educativa, e não punitiva

Outro ponto abordado na audiência foi a linha de ação da Feam. Representantes de setores produtivos cobraram uma atuação mais focada na educação ambiental, e não na fiscalização e aplicação de multas. "A base da legislação é a fiscalização, é a relação comando/controle das atividades produtivas. Deveria ser menos punitiva e mais educativa", ressaltou o chefe da Assessoria de Meio Ambiente da Federação da Agricultura (Faemg), Rodrigo de Almeida Pontes, que também criticou a proliferação de leis, o que dificultaria até mesmo o entendimento das normas e seu cumprimento.

Wagner Soares Costa, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias (Fiemg), fez coro: "A visão comando/controle é equivocada". Ele avaliou que o tema de destinação de resíduos sólidos é complexo e que, por isso, o Congresso Nacional ainda não aprovou nenhum dos projetos que estão tramitando sobre o assunto, alguns há mais de cinco anos. O dirigente da Fiemg criticou, também, a transferência de responsabilidades sobre o tratamento de resíduos para o setor produtivo, argumentando que a obrigação deve ser compartilhada. "O problema é que ninguém quer saber do lixo no seu quintal", disse.

Na opinião de Wagner Costa, a legislação deve ser mais global, conter apenas diretrizes, sem ser detalhista. Ele defendeu, ainda, incentivos econômicos, na forma de premiação, para quem investir em cuidados ambientais, e condenou a dificuldade para obtenção de licenciamento ambiental. Segundo ele, o rigor técnico exigido é irreal, e, por isso, Minas Gerais não tem aterros industriais.

Lixo hospitalar é problema

Maeli Estrela Borges, vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes/MG), lembrou que no Estado há apenas 25 municípios com aterros sanitários licenciados, e avaliou que o caminho a percorrer é longo, e o passivo ambiental, enorme. "Aterro controlado não é solução definitiva, apenas minimiza o problema de lixão", frisou, ao defender que não seja permitida a construção de aterros controlados que não sejam para acabar com lixões existentes.

A dirigente da Abes/MG alertou, ainda, para o problema da destinação dos resíduos de serviços de saúde. De acordo com Maeli Estrela Borges, apenas Belo Horizonte, Betim, Contagem e Lavras têm tratamento para esse tipo de lixo, e a destinação para lixões e aterros controlados representa riscos para a saúde da população. Ela criticou a Deliberação Normativa nº 72, do Copam, que determina que até o volume de cinco toneladas/dia não há necessidade de licenciamento para o tratamento térmico dos resíduos de serviços de saúde. "Quanto menor a quantidade, maior o risco", avaliou.

Também participaram da audiência pública Santelmo Xavier Filho, professor do Cefet/MG, que acusou a existência de 562 lixões no Estado e chamou atenção para a necessidade de investimento em recursos humanos para lidar com a questão do lixo; Herzio Mansur, da Associação Mineira de Municípios (AMM), que frisou a importância da ampliação dos incentivos e de os programas terem continuidade, independentemente de quem seja o governante; e Frederico Pecorelli, coordenador-geral do Grupo de Estudos e Pesquisas em Direito Educacional (Gepede) e Maria Angélica Campos Schmidt, também do Gepede, que ressaltaram a importância da educação ambiental.

Presenças - Deputados Irani Barbosa (PSDB), presidente da comissão; Gustavo Valadares (PFL), Célio Moreira (PSDB), Gustavo Corrêa (PFL) e Fábio Avelar (PSC). Também participaram o presidente da Feam, Ilmar Bastos Santos; Rodrigo de Almeida Pontes, da Faemg; Wagner Soares Costa, da Fiemg; Herzio Mansur, da AMM; José Miguel Cota, secretário de Meio Ambiente de Mariana; Maeli Estrela Borges, vice-presidente da Abes/MG; Santelmo Xavier Filho, professor do Cefet/MG; Frederico Pecorelli, coordenador-geral do Gepede; e Maria Angélica Campos Schmidt, também do Gepede.

 

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