Ministro diz que assistência social agora é política
pública
Começou nesta segunda-feira (15/5/06), em
Divinópolis, região Centro-Oeste de Minas, a série de encontros
regionais que a Assembléia Legislativa de Minas Gerais realiza para
debater a implantação do Sistema Único de Assistência Social (Suas)
no Estado. O evento foi realizado no auditório da Câmara Municipal
de Divinópolis, que ficou lotado, com a participação de cerca de 350
pessoas. O ministro de Desenvolvimento Social e Combate à fome,
Patrus Ananias, que falou na abertura do encontro, disse que o
objetivo do governo federal é colocar a assistência social no plano
das políticas públicas, como prevê a Constituição Federal, "acabando
com o assistencialismo e a distribuição de cestas básicas".
A intenção, com a implantação do Suas, de acordo
com o ministro, é que haja cada vez mais normas, procedimentos,
transparência de ações e controle social do que tem sido feito pelas
pessoas menos favorecidas. "Estamos criando uma nova cultura no
país, e essa tarefa diz respeito a todos nós", completou. Segundo
Patrus Ananias, os investimentos nas políticas sociais também tem
aumentado nos últimos anos. O Ministério de Desenvolvimento Social e
Combate à Fome tem orçamento previsto para este ano de 22 bilhões de
reais, dinheiro que seria destinado exclusivamente aos pobres. Com o
Suas, devem ser integrados todos os programas sociais do governo,
como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), o
Sentinela e o Bolsa Família, entre outros, que estão sendo
descentralizados. Os municípios devem se organizar e manter pessoal
treinado para gerir esses programas.
O 2º-vice-presidente da Assembléia, deputado
Rogério Correia (PT), afirmou que o debate se faz cada vez mais
importante e necessário, diante da recente onda de violência que vem
assustando o país. "Temos que repensar nosso sistema de segurança
pública, mas, para acabarmos com a criminalidade, também temos que
pensar em medidas sócio-educativas e de assistência social no País",
argumentou. Em nome do presidente Mauri Torres (PSDB), ele enfatizou
também a importância de que a assistência social seja gerida de
forma democrática, com a participação de todos.
Dia do Assistente Social -
Cerca de 300 assistentes sociais e estudantes de Serviço Social, de
Divinópolis e cidades vizinhas, participaram do evento na Câmara
Municipal. Não por acaso, o dia 15 de maio, Dia do Assistente
Social, foi escolhido como data desse primeiro encontro. O deputado
Domingos Sávio (PSDB) elogiou a presença dos assistentes. "Aqui
estão homens e mulheres comprometidos com a busca de uma sociedade
melhor. Sem o trabalho das lideranças, dos voluntários, e dos
assistentes sociais o esforço do governo não significaria nada",
disse ele.
Deputados destacam importância de compartilhar
ações
A realização dos encontros regionais para discutir
o Suas foi sugerida no Ciclo de Debates "Sistema Único de Saúde
Social - Suas - estratégias e metas de implantação", realizado na
ALMG em novembro de 2005. A organização dos encontros ficou a cargo
da deputada Elisa Costa (PT) e dos deputados André Quintão (PT),
João Leite, Miguel Martini e Domingos Sávio (PSDB). Elisa Costa (PT)
também elogiou a participação dos assistentes, e falou sobre a
importância de discutir a questão com os gestores das políticas
sociais. Na opinião dela, o grande avanço é compartilhar
responsabilidades, dando maior autonomia para os municípios,
discutindo com a sociedade civil. "A construção coletiva dessas
políticas públicas é uma revolução!", disse a deputada.
O deputado André Quintão chamou a atenção para o
papel fundamental que a Assembléia Legislativa tem tido na
implantação do Suas e lembrou que a realização do evento teve o
apoio a participação efetiva de outros deputados, tamanha a
relevância do tema. André Quintão afirmou que nos últimos três anos,
em Minas Gerais, houve aumento de 30% dos recursos destinados à
assistência social no orçamento do Estado.
O deputado, no entanto, chamou atenção para o fato
de que o Legislativo deve fugir do modelo assitencialista, segundo
ele, praticado até pouco tempo por muitos. "O Legislativo tem que
estar em sintonia com o que propõe o Suas. Temos que lutar pela
valorização do profissional e fiscalizar a adequada aplicação dos
recursos", concluiu. Ele defendeu a participação também das câmaras
municipais, para que todos os municípios sejam habilitados a
participar dos programas sociais do governo. Segundo o deputado,
ainda há 212 cidades em Minas que não estão habilitadas para
implantação do Suas. "Capacitação, informação permanente dos
conselheiros e assistentes sociais é fundamental para que o sistema
funcione", defendeu André Quintão.
O deputado Domingos Sávio fez um apelo para que o
Suas não "seja apenas mais uma sigla", mas que efetivamente
contribua para a consolidação da cidadania, sem nenhum vínculo
partidário".
Acompanhamento - O
deputado João Leite (PSDB) destacou a importância dos legislativos,
que devem fiscalizar a implementação do Suas e demais leis
referentes à Assistência Social, mudar ou fazer novas leis se for
necessário, e colaborar para o diálogo permanente entre as partes
envolvidas. O deputado chamou a atenção para a necessidade de que a
sociedade também acompanhe a previsão orçamentária para os programas
sociais e para que esse orçamento seja efetivamente cumprido. Ele
citou os instrumentos existentes em Minas Gerais, como o modelo
mineiro de revisão anual do PPAG, e as diversas comissões
permanentes da Assembléia Legislativa, que estão "de portas abertas
para todos".
O deputado Neider Moreira (PPS) foi o coordenador
do encontro na parte da tarde. Ele enfatizou importância da
assitência social para garantir a promoção humana e desenvolvimento
social do País.
Prefeitos reclamam da falta de recursos
Para fazer parte do Suas, o Ministério exige que o
município execute determinadas ações, como por exemplo, que tenha um
planejamento e gestão orçamentária adequada, com elaboração de
Planos Plurianuais de Ação Governamental e que estruture seu
Conselho Municipal de Assistência Social (Comas). O município também
deve ter um diagnóstico atual e preciso das áreas de risco e
vulnerabilidade social da cidade e tem que estar com a secretaria
municipal de desenvolvimento social informatizada.
De acordo com as determinações preliminares do
Ministério do Desenvolvimento Social e combate à Fome, todo Estado
tem que ter um centro de referência em Assistência Social, que seria
uma secretaria ou conselho estadual. Cada município deve ter,
também, um Centro de Referência de Assistência Social (Cras). A
diretora do Departamento de Gestão do Suas no Ministério, Simone
Albuquerque, afirmou que a meta é que, na cidade onde já houver um
Cras, não haja nenhum caso de rompimento de laço familiar ou
comunitário que não seja do conhecimento do conselho, que deve agir
imediatamente.
Na segunda parte do encontro em Divinópolis, o
secretário de Desenvolvimento Social de Formiga, Jaderson Teixeira,
falou sobre as modificações e adequações que o município teve que
fazer para entrar no Suas. Entre os desafios enfrentados, ele citou
a falta de integração entre os diversos órgãos da administração
municipal. "Se o secretário de Fazenda não souber o que é o Sistema
Único de Assistência Social, a coisa não anda", alertou. Outra
dificuldade, apontada por ele e por vários prefeitos presentes ao
encontro, é a falta de orçamento adequado para implementar as ações
necessárias.
O presidente da Associação dos Municípios da
Microrregião do Alto São Francisco (Amasf), Agostinho Carlos
Oliveira, citou a falta de recursos para pagar pessoal especializado
como um empecilho. A falta de técnicos impediria, por exemplo, o bom
andamento do Bolsa Família, que requer visitas, acompanhamento,
fiscalização, para garantir que o processo não "fique viciado",
segundo ele. "Já temos tantas demandas e verbas já comprometidas,
que às vezes só podemos 'apagar os incêndios' em termos de
assistência social", lamentou.
O presidente da Associação Mineira de Municípios
(AMM), Celso Cota Neto, defendeu que, na implantação do Suas,
sejam levadas em consideração demandas regionais. "Os prefeitos e
secretários aqui presentes sabem que diariamente, temos que dar
respostas aos cidadãos, e que, muitas vezes, não as encontramos nos
programas universalizados do governo", disse. Na opinião dele, o
pacto federativo tem que ser revisto, apesar de o governo federal
estar fazendo um trabalho fantástico na área da assistência
social.
Reivindicação - o prefeito
de Divinópolis, Demétrios Arantes Pereira, aproveitou a presença do
ministro Patrus Ananias no evento e entregou um ofício onde pede do
governo federal um maior aporte de recursos para o Peti no
município. "Temos no Peti cerca de 1.250 crianças hoje, mas o apoio
do governo federal continua sendo apenas a 400 crianças, o mesmo
montante que tínhamos há quatro anos", afirmou. Outro pedido do
prefeito é para aumento dos recursos do programa Agente jovem, que
teria uma demanda reprimida de mais de 200 jovens naquele
município.
Na parte da tarde, os presentes participaram de uma
oficina de Capacitação para Operacionalização dos Fundos
Municipais de Assistência Social (legislação
básica, gestão e prestação de contas). Os temas abordados foram
"Implantação e gestão", "Prestação de contas" e "Controle Público.
Presenças - Deputados
Rogério Correia (PT), que representou a Presidência da Assembléia;
André Quintão (PT), e Domingos Sávio (PSDB); João Leite (PSDB) e
Neider Moreira (PPS); e a deputada Elisa Costa (PT). Entre outras
autoridades, também participaram o ministro do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, Patrus Ananias; os deputados federais Jaime
Martins (PL-MG) e Francisco Gonçalves (PPS-MG); e a deputada federal
Maria do Carmo Lara (PT-MG).
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