Comissão debate Plano Nacional de Recursos Hídricos

Quanto maior o envolvimento da sociedade, mais efetiva e ágil será a implementação do Plano Nacional de Recursos Hídr...

11/05/2006 - 00:00
 

Comissão debate Plano Nacional de Recursos Hídricos

Quanto maior o envolvimento da sociedade, mais efetiva e ágil será a implementação do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). A avaliação é do secretário nacional de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, João Bosco Senra, que participou, nesta quinta-feira (11/5/06), na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, de audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais. A reunião, convocada por iniciativa do presidente da comissão, deputado Laudelino Augusto (PT), teve por finalidade obter esclarecimentos sobre o PNRH, lançado em março de 2006.

Ao iniciar a apresentação do PNRH, o secretário lembrou que a elaboração de planos de gestão integrada de recursos hídricos integra as "metas do milênio" aprovadas pela ONU, e que o Brasil foi o um dos poucos países a cumprirem o compromisso no prazo acertado, e único na América Latina. "Muitos países europeus ainda não têm seus planos, e até mesmo os Estados Unidos estão buscando a cooperação e experiência do Brasil para fazer o seu plano", afirmou.

Base legal - O plano tem como base legal a Lei Federal 9.433, de 1997, chamada "Lei das Águas", que institui a política nacional de recursos hídricos; o Decreto 4.755, de 2003, que estabelece a competência da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente (SRH/MMA) para coordenar a elaboração do PNRH e auxiliar no acompanhamento de sua implementação; a Resolução nº 32 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), de 2003, que estabelece a divisão hidrográfica nacional; as Portarias Ministeriais 274/04 e 277/05, que instituem 12 Comissões Executivas Regionais; e a Resolução nº 58/06 do CNRH, que aprova o plano, lançado oficialmente em março deste ano.

Princípios - O PNRH tem como fundamento dois princípios: a água é um bem de domínio público; e é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. A gestão dos recursos hídricos deverá proporcionar o uso múltiplo das águas, tomando como base de planejamento a bacia hidrográfica, e, em situação de escassez, o uso prioritário deverá ser para consumo humano e para dessedentar animais.

Objetivos - Os principais objetivos do plano são garantir água em qualidade e quantidade adequada aos respectivos usos para a atual e as futuras gerações; e incentivar o uso racional e integrado dos recursos hídricos, reduzindo-se os conflitos reais e potenciais no uso das águas. Para tanto, o PNRH visa estabelecer um pacto nacional para definição de diretrizes e políticas públicas voltadas para a melhoria da oferta de água, gerenciando as demandas e considerando a água como elemento estruturante para a implementação das políticas setoriais. "Planejar é conceber um futuro desejado e também os meios práticos para atingi-lo", disse João Bosco Senra.

Metodologia - O secretário destacou, em sua explanação, a participação efetiva da sociedade organizada na elaboração do plano. Segundo ele, mais de sete mil pessoas participaram diretamente das discussões, durante três anos, em oficinas, seminários, encontros e eventos realizados em todo o País. Todo esse trabalho foi sistematizado no Seminário Nacional de Diretrizes e Programas, no final de novembro de 2005, dando origem ao plano, elaborado por técnicos da própria SRH/MMA e da Agência Nacional das Águas (ANA). O custo total foi da ordem de R$ 2,6 milhões, valor inferior aos R$ 5,7 milhões pagos em 1997 à Fundação Getúlio Vargas pela elaboração de uma proposta de plano que foi rejeitada por configurar mais um diagnóstico do que propriamente um plano.

Cenários - Ainda sobre a metodologia utilizada, João Bosco Senra explicou que foi feita uma análise diagnóstica, uma análise prospectiva e planejamento com definição de estratégias. Na análise prospectiva, foram traçados três cenários possíveis para o ano de 2020, levando-se em conta a situação internacional e nacional. O primeiro cenário, chamado de "água para todos", leva em conta um quadro internacional e nacional de desenvolvimento sustentável mais favorável. Os demais cenários foram chamados "água para alguns" e "água para poucos".

Ao se considerar as estratégias para a construção do futuro, a principal ameaça é a conjugação de grande expansão das atividades econômicas e urbanas com um sistema ineficiente de gestão dos recursos hídricos. E a principal oportunidade é um quadro de crescimento da consciência ambiental e percepção, pelos atores, da importância dos recursos hídricos enquanto elemento estruturante para a implantação das políticas setoriais para o bem-estar social.

Diversidade - Outro aspecto abordado pelo secretário foi a necessidade de se levar em consideração a diversidade do País quando se trata de planejamento. O Brasil responde por 12% da vazão de águas superficiais (85 mil m³/seg) do planeta, mas a distribuição e uso dos recursos hídricos é muito diferente de uma região para outra. Assim, além da gestão integrada dos recursos, é preciso haver articulação intersetorial e inter e intra-institucional.

Dirigente do Igam aponta necessidade de recursos

Também presente à audiência pública, o diretor-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Paulo Teodoro de Carvalho, aplaudiu a riqueza do diagnóstico contido no PNRH e destacou a importância dos comitês de bacia hidrográfica para a gestão dos recursos hídricos. Em Minas Gerais, segundo ele, dos 36 comitês previstos, 27 já estão constituídos e outros sete encontram-se em formação. Apenas em duas bacias ainda não há nem comissão pró-formação de comitê. A previsão é de que o Plano Estadual de Recursos Hídricos seja aprovado pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos em breve. "Queremos aprovar o plano ainda em 2006", declarou.

Mas o dirigente do Igam alertou para a questão da falta de recursos: "A cada comitê que se cria, cria-se uma instituição que passa a demandar por recursos do Estado, por apoio logístico. Por isso a ANA tem sido cautelosa em relação à criação de comitês". Na opinião de Paulo Teodoro, para que haja disponibilidade de recursos para a implementação dos planos nacional e estaduais, é importante que existam recursos consignados nos respectivos orçamentos. Em resposta, João Bosco Senra lembrou o caso do estado de São Paulo, em que um fundo de recursos hídricos possibilita aportes aos comitês, e ressaltou que muitas vezes os comitês não percebem que são órgãos do Estado, e não organizações não governamentais (ONGs).

MP - O promotor Rodrigo Cançado, do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, também presente, informou que o Ministério Público de Minas Gerais tem atuado, na área ambiental, com base na divisão do território em bacias hidrográficas. E, para chamar atenção para a necessidade de políticas públicas integradas, lembrou a contradição entre a luta para se preservar a mata seca no Norte de Minas e a oferta de linha de financiamento para exploração dessa mesma mata pelo Banco do Nordeste.

Amda - Para Fernando Leite, dirigente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), o PNRH "soa como música clássica de boa qualidade". Ele comemorou a aprovação do plano e a forma democrática como foi elaborado. Mas criticou a proposta de transposição do rio São Francisco, que, na sua avaliação, é conflitante com o PNRH.

Presenças - Deputados Laudelino Augusto (PT), presidente da comissão; Doutor Ronaldo (PDT), vice-presidente; João Leite (PSDB), Paulo Piau (PPS), Carlos Gomes (PT) e deputada Maria Tereza Lara (PT).

 

 

 

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