Aumento da violência assusta moradores da região de
Paraopeba
A Comissão de Segurança Pública da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais vai solicitar aos órgãos de segurança do
Governo do Estado a destinação de uma patrulha rural e de uma
viatura descaracterizada para investigações, além do aumento do
efetivo de policiais militares e civis para os municípios de
Paraopeba e Caetanópolis e o Distrito JK, em Curvelo. Requerimento
nesse sentido, de autoria dos deputados Célio Moreira, Dinis
Pinheiro e do presidente da Comissão, Zé Maia, todos do PSDB, foi
aprovado nesta sexta-feira (5/5/06), durante audiência pública na
Câmara Municipal de Paraopeba, região Central do Estado, a 97
quilômetros de Belo Horizonte.
A audiência, convocada para discutir o aumento da
violência e da criminalidade na região, com destaque para o tráfico
e uso de entorpecentes, foi marcada ainda por relatos de roubos e
depredações em escolas da rede pública e propriedades rurais. Embora
as estatísticas da Polícia Militar de Paraopeba apontem, em 2005,
quedas de 12,5% no número de ocorrências e de 36% no números de
crimes violentos (com armas e agressões físicas), a população se
mostrou assustada, o que, na visão dos participantes, pode até mesmo
justificar o baixo número de denúncias e ocorrências.
A diretora da Escola Estadual Padre Augusto Horta,
Marisa Isabel, citou que as escolas vêm sendo alvo constante de
vândalos, que roubam equipamentos e mantimentos da merenda e chegam
a queimar documentos. "Nossa escola já foi invadida mais de 40
vezes. Só no último ano, foram 15 ocorrências, às vezes até
envolvendo ex-alunos da escola. A gente percebe a relação disso com
as drogas", salientou. Já o presidente da Associação de Produtores
Hortigranjeiros de Paraopeba e Caetanópolis, Alexandre Guimarães,
avaliou que as propriedades rurais talvez sejam as mais prejudicadas
com o aumento da violência. "Os bandidos roubam nossos
transformadores, que custam R$ 10 mil, e o produtor vê a lavoura de
R$ 40 mil dizimada sem irrigação", exemplificou.
O deputado Dinis Pinheiro ressaltou que a segurança
pública é hoje o tema mais discutido em Minas e no País, mas admitiu
que a tranqüilidade desejada pelos brasileiros ainda vai demandar
alguns anos. "Paraopeba é cortada pela BR-040, o que estimula o
comércio e o desenvolvimento, mas também traz insegurança", afirmou.
"Paraopeba e Caetanópolis estão crescendo muito, recebendo empresas,
graças à BR-040. Esse é o custo do desenvolvimento", enfatizou
também o deputado Célio Moreira, que citou ainda dois homicídios
ocorridos recentemente na comunidade de São José da Lagoa (Distrito
JK).
Segundo Dinis Pinheiro, na próxima segunda-feira,
um veículo Blazer ano 2000 será entregue à Polícia Civil de
Paraopeba. Já o comandante do 25º Batalhão de Sete Lagoas,
tenente-coronel Jovino César Cardoso, informou que a corporação
receberá, até junho, uma viatura zero quilômetro, três motocicletas
(sendo uma doada pela Câmara Municipal de Paraopeba), equipamentos
de proteção, armas e ainda a Bike Patrulha. "Só com a participação
da comunidade, poderemos resolver a questão da violência, que é a
segunda maior preocupação dos brasileiros, perdendo apenas para o
desemprego", ressaltou.
Os parlamentares criticaram a falta de recursos do
Governo Federal para a segurança em Minas. Por outro lado,
ressaltaram as ações do Governo do Estado, que, em quatro anos, terá
investido, segundo eles, cerca de R$ 500 milhões nessa área. O
deputado Zé Maia lembrou que esse é o momento da interiorização da
segurança, para conter os criminosos que se deslocaram para as
pequenas cidades, fugindo do policiamento mais reforçado no entorno
da Capital. "Quando há investimentos, há resultados", frisou.
Outro depoimento que emocionou os presentes foi o
de um estudante secundarista que superou o vício das drogas e clamou
por mais atenção aos jovens da cidade, sobretudo com opções de
espaços para a prática de esportes. O presidente da Subseção da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Paraopeba, Niwman Jackson
Araújo, também por meio de um discurso inflamado, criticou os maus
exemplos na política nacional e conclamou os presentes a vigiar os
filhos e a assumir uma maior responsabilidade na prevenção da
violência. "A juventude tem que ser a razão dessa reunião",
salientou.
Debate aborda Lei de Crimes Hediondos
A flexibilização da Lei de Crimes Hediondos (Lei
8.072/1990), em decisão tomada no início deste ano pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) - que concedeu habeas corpus a um condenado
por molestar crianças - também foi alvo de críticas durante a
audiência pública. O delegado regional da Polícia Civil de
Paraopeba, Francisco Nascimento Júnior, afirmou que logo após a
sentença do STF, três dos 50 presos na cidade conseguiram o
abrandamento das penas, com a progressão de regime. "São traficantes
condenados que nos custaram muito prender. Eles estão nas ruas e
dormem na cadeia, mais seguros que nossos cidadãos", lamentou.
O deputado Zé Maia também se manifestou contra a
flexibilização. Foi dele o requerimento que resultou em um amplo
debate sobre o assunto, ocorrido na ALMG no último dia 18 de abril.
"Se o problema não se resolve com penas mais severas, o abrandamento
também não contribui. É preciso dar sinais claros de que o crime não
compensa", defendeu.
Além das autoridades citadas, participaram do
encontro o delegado regional de Curvelo, Walmir de Paula Ramos; o
presidente da Câmara Municipal de Paraopeba, Laércio Assing; além de
diretoras de escolas públicas, vereadores de Paraopeba e
Caetanópolis, autoridades policiais e civis, lideranças
comunitárias, sindicalistas, professores e alunos da rede pública,
comerciantes e moradores.
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