Participação Popular discute passe-livre em ônibus intermunicipais

Uma lei estadual editada em 1989, garantindo passe-livre para deficientes em ônibus intermunicipais, emendada em 1991...

04/05/2006 - 00:00
 

Participação Popular discute passe-livre em ônibus intermunicipais

Uma lei estadual editada em 1989, garantindo passe-livre para deficientes em ônibus intermunicipais, emendada em 1991 para estender o direito também aos idosos acima de 65 anos, jamais foi cumprida. Este assunto foi discutido em audiência pública da Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quinta-feira (4/5/06), a requerimento do deputado Edson Rezende (PT), com representantes dos prejudicados, do Conselho Estadual de Assistência Social, DER-MG e do sindicato das empresas de ônibus.

A Lei 9.760/89, emendada pela Lei 10.419/91 e regulamentada pelo decreto 32.649/91, segundo o deputado Edson Rezende, foi objeto até de uma ação civil pública do Ministério Público contra o DER-MG. "O DER conseguiu fazer com que a ação fosse dirigida ao Estado, e este recorreu ao Tribunal de Justiça, que decidiu, em 2000, que não fosse cumprida sem o necessário provimento de recursos orçamentários. É interessante notar que o benefício é concedido nos ônibus locais e nos interestaduais, mas não nos intermunicipais. O que estamos fazendo aqui hoje é reacender a discussão e buscar soluções junto a todos para que esse direito seja assegurado", disse Rezende.

O deputado André Quintão (PT), argumentou que lei é para ser cumprida, e que o Estado deve negociar uma contrapartida social com as empresas de transporte coletivo. Ele propôs também que o benefício passe a integrar as novas relações contratuais que o Estado estabelecer com as empresas de transporte. Sua companheira de partido, Elisa Costa, acrescentou que poderia ser criado um selo social para dar destaque às empresas que assumirem o ônus previsto na lei, mas não descartou que se fizesse este semestre uma emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias e mais tarde à Lei Orçamentária garantindo parte dos recursos que viabilizariam o direito.

Outro deputado do PT, Weliton Prado, foi mais contundente: "Essas empresas são irresponsáveis, e uma parcela da culpa cabe também aos governos estaduais, pois cabe a eles dar a concessão. Um dos primeiros requisitos para se obter concessão de serviço público é cumprir a legislação. Já estamos cansados de lutar para aprovar uma lei e depois ter que lutar novamente para que seja cumprida", disse o parlamentar.

DER considera que o problema é orçamentário

Milton Henriques de Oliveira, do CEAS, disse estar falando em nome de 8 mil deficientes do Oeste de Minas, ao cobrar a aplicação da lei. Criticou o que chama de "inviabilidade da aplicabilidade" da lei, e sugeriu que seja novamente redigida de acordo com a legislação federal que garante gratuidade no transporte interestadual. "Nosso maior inimigo são as gavetas onde colocam as causas sociais", desabafou. Segundo ele, São Paulo e Rio Grande do Sul já regulamentaram e cumprem a lei. Carlos Roberto da Silva, também do Oeste de Minas, acrescentou que os preços do transporte público em Porto Alegre estão baixando.

Os representantes do DER e do Sindpas mantiveram a tese de que, para oferecer o benefício, o Governo deve reembolsar os empresários. Lindberg Ribeiro Garcia, do DER, disse que "o problema sempre foi orçamentário", e que "o Estado deve ressarcir às empresas o custo do benefício". Segundo ele, atualmente, são realizadas cerca de 9 mil viagens por dia no transporte intermunicipal; caso a lei seja cumprida, anualmente o setor teria que arcar com 6 milhões de passagens gratuitas. "O custo operacional é muito alto", rebateu, lembrando que Minas conta com 1.700 linhas de ônibus, que envolvem 300 empresas.

Zaira Carvalho Silveira, advogada do Sindpas, reconhece a legitimidade do direito dos idosos e portadores de deficiência, mas defende o equilíbrio financeiro dos contratos. Reivindicou que as empresas sejam isentadas de culpa, já que estão cumprindo uma decisão do Tribunal de Justiça.

Quando a deputada Maria Tereza Lara (PT), presidente da Comissão, abriu a audiência para manifestações da platéia, sucederam-se vários relatos de casos pessoais de transgressão aos direitos. Ângela Barbosa, da Coordenadoria Estadual de Atenção ao Idoso, reclamou que os deficientes são colocados em poltronas inseguras sobre as rodas do ônibus. Gumercindo Ferreira da Silva, de Guarará, queixou-se de ter que pagar R$ 8,55 para percorrer apenas 40 km. Elza Mendes Pereira relatou constrangimentos que sofreu dentro do Expresso Setelagoano, no trecho entre Matozinhos e Pedro Leopoldo, e afirmou que outro idoso foi ameaçado de despejo no meio do itinerário, por não poder pagar a passagem. Outra pessoa da platéia lembrou que, no passado, as empresas de ônibus davam passe livre para filhos de médicos, juízes e carteiros, mas nunca para as pessoas que realmente necessitavam.

Novas discussões

Ao final da reunião, foram apresentados dois requerimentos, para serem discutidos na próxima reunião da comissão. O primeiro, de autoria do deputado Edson Rezende, sugere a formação de uma comissão com deputados e entidades representativas de idosos e portadores de deficiência, para se reunir com o Ministério Público, a fim de se discutir uma saída judicial para o problema.

O outro requerimento, da própria comissão, quer marcar uma nova audiência pública para se debater com mais detalhes a questão da gratuidade do transporte para portadores de deficiência. Os requerimentos não foram colocados à votação por falta de quórum.

 

Presenças: Deputada Maria Tereza Lara (PT), presidente; deputados André Quintão (PT), Edson Rezende (PT), Weliton Prado (PT), e as deputadas Elisa Costa (PT), Jô Moraes (PCdoB).

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715