Produtores de queijo alegam falta de dinheiro para cumprir exigências

A cidade de Piumhi, no Centro-Oeste mineiro, sediou nesta quinta-feira (4/5/06), uma audiência pública da Comissão de...

04/05/2006 - 00:02
 

Produtores de queijo alegam falta de dinheiro para cumprir exigências

A cidade de Piumhi, no Centro-Oeste mineiro, sediou nesta quinta-feira (4/5/06), uma audiência pública da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, convocada a requerimento do deputado Doutor Viana (PFL) para discutir problemas relacionados com a produção industrial de laticínios na região. De acordo com a veterinária do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Valéria Marise Peixoto, inspeção realizada no início deste ano em Piumhi e outras cinco cidades do entorno constatou que 100% dos laticínios estão fora das normas de higiene estabelecidas por Decisões Normativas do Ministério da Agricultura.

A audiência, realizada no auditório da Câmara Municipal, contou com a participação de veterinários, engenheiros laticinistas, de representantes do IMA, do Ministério Público e de cooperativas de produtores. O prefeito de Piumhi, Arlindo Barbosa Neto, reconheceu a importância do queijo para a economia do município e disse que o desafio do poder público é garantir a qualidade do leite e dos laticínios produzidos ali, sem acabar com a atividade dos pequenos produtores rurais, responsável pela sobrevivência de centenas de famílias. Entre Piumhi, Pimenta, São Roque de Minas, Doresópolis, Capitólio e Vargem Bonita são cerca de 1.500 pequenos produtores de leite e derivados, de acordo com o presidente da Cooperlat, cooperativa local, José Soares de Melo.

O promotor de Justiça da Comarca de Piumhi, João Bosco Rezende Bastos, que tem ajudado o IMA na fiscalização dos laticínios, disse que desde 2003 o Ministério Público vem fazendo reuniões com os laticinistas da região procurando conscientizá-los da importância de se usar o leite pasteurizado e investir em condições sanitárias melhores. "Depois de uma pesquisa, constatamos que o leite vendido na cidade tem muita água, antibióticos e coliformes fecais", disse o promotor. Mas os produtores alegam que o leite pasteurizado encarece muito o produto.

Produtores se queixam que Pronaf é insuficiente

O deputado Padre João (PT) lembrou aos participantes da audiência pública que o Governo Federal oferece recursos por meio do Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar) que poderiam ser utilizados para equipar as pequenas fábricas de laticínios, mas os produtores alegam que esse recurso é insuficiente. Vilmar Faria, dono de uma pequena fazenda em Piumhi, disse que os laticinistas vivem um impasse, pois instalar uma fábrica nos padrões exigidos pelo IMA custaria, hoje, cerca de R$ 300 mil. "Ainda que eu vendesse minha propriedade, não teria esse dinheiro! O que a gente consegue do Pronaf é no máximo R$ 35 mil", declarou.

O deputado Doutor Viana afirmou que as informações colhidas durante a audiência serão estudadas pela comissão, que, se necessário, fará gestões junto ao Governo Federal para que sejam feitos os ajustes necessários na legislação vigente. "A questão social é fundamental, precisamos respeitar aqueles que vivem da produção de queijo, mas também precisamos nos preocupar com a saúde de quem os consome", concluiu. Padre João enfatizou a necessidade de os produtores se organizarem em cooperativas e associações, para se fortalecerem e poderem enfrentar os novos desafios e exigências do mercado.

Impasse na fiscalização e concessão de certificados

Um dos problemas levantados durante a audiência foi com relação à fiscalização dos laticínios e fornecimento de licenças de comercialização. Atualmente, o município, por meio de sua vigilância sanitária, fornece uma licença que permite que o produto seja vendido apenas dentro da cidade. Para um queijo ser comercializado em outras cidades de Minas Gerais, é necessário o certificado do IMA. Já para ser vendido fora do Estado, o produto tem que ter o Selo de Inspeção Federal (SIF).

O deputado Padre João citou o Decreto federal 5.741, de 30 de março de 2006, que cria o Sistema Unificado de Atenção Sanitária (SUASA), que deverá unificar as ações de fiscalização de produtos agrícolas e agropecuários em todo o país. "Vamos realizar nos próximos dias, um debate sobre o SUASA, na Assembléia", informou.

Produtor precisa se preparar para alcançar mercado externo

Segundo o presidente da Cooperlat, José Soares de Melo, o Brasil já tem hoje excedente de leite, o problema é que a falta de qualidade dificulta a exportação. "Nenhum país importa leite de um país que não tem processo de produção adequada", argumentou. Em sua avaliação, a legislação é boa, mas é difícil de implantar em razão da difícil situação financeira dos produtores. "Cumprir a lei ao pé da letra retiraria muitos produtores do mercado", afirmou o dirigente. Ele lembrou ainda que a informalidade é prejudicial aos produtores, que terão dificuldades para se aposentar no futuro.

Na opinião do engenheiro laticinista Otto Rafael Arantes, há algumas alternativas para resolver o problema. Uma delas seria o Estado ajudar os produtores a adquirir equipamentos, ou pelo menos tanques de resfriamento. Outra seria incentivar a produção de queijo cozido, em vez do queijo cru, mais sujeito à contaminação. Ainda há a opção de se comercializar apenas o queijo curado, já que depois de 20 dias de produção o queijo perde 90% do risco de contaminação.

Presenças - Deputados Padre João (PT), presidente; e Doutor Viana (PFL).

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715