Comissão questiona planejamento ambiental em MG e BA

A comparação entre os sistemas de gestão ambiental implantados em Minas Gerais e na Bahia dominou o debate realizado ...

03/05/2006 - 00:01
 

Comissão questiona planejamento ambiental em MG e BA

A comparação entre os sistemas de gestão ambiental implantados em Minas Gerais e na Bahia dominou o debate realizado nesta quarta-feira (03/5/06), em reunião da Comissão Especial Sobre Governança Ambiental da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O assessor especial da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), José Cláudio Junqueira Ribeiro, fez uma exposição a respeito das diretrizes do governo mineiro para a área, destacando a recente política de regionalização do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Já a representante da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia, Maria Gravina Ogata, falou a respeito das experiências do estado vizinho, em especial o processo coletivo de discussão para reformulação do zoneamento ecológico e econômico.

A comparação entre as situações nos dois estados motivou algumas críticas aos procedimentos do governo mineiro. Os representantes da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Vítor Feitosa e Patrícia Boson, cobraram uma mudança de foco das políticas públicas no estado, de forma a privilegiar indicadores ambientais definidos tecnicamente e a discussão coletiva. "Vamos continuar privilegiando o comando e controle ou o planejamento?", questionou Patrícia Boson. Segundo Feitosa, o governo mineiro fica atrás da Bahia ao se levar em conta a discussão participativa de políticas públicas para o setor.

Um exemplo dessa discussão coletiva, segundo a dirigente da Bahia, Maria Ogata, é a discussão em andamento que procura articular municípios, empresários, Estado e sociedade civil na reformulação do zoneamento ecológico e econômico. No extremo Sul do estado, se privilegia a interlocução com a silvicultura, na região Oeste com o agronegócio, e no litoral norte com os grandes projetos turísticos. Em sua exposição, Maria Ogata também criticou o detalhamento excessivo da norma geral do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e convidou Minas Gerais a trabalhar com o governo baiano em favor de uma revisão desta norma.

Câmara analisa 50 processos em três horas e meia

O representante da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Eduardo Nascimento, cobrou uma ênfase maior de Minas no planejamento e formulação de políticas, em vez de priorizar o número de processos analisados. Ele citou o exemplo da uma das câmaras do Copam, que analisa uma média de quase 50 processos em cada uma de suas reuniões mensais, que duram três horas e meia. "Eu fico constrangido de participar de uma câmara que consegue licenciar 50 projetos em três horas e meia", afirmou o sindicalista.

O assessor especial da Semad, José Cláudio Junqueira, destacou o fato de Minas Gerais ter sido o primeiro estado a incluir integrantes da sociedade civil no Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), órgão colegiado responsável pela concessão de licenças ambientais. Nos últimos anos, o governo vem priorizando a descentralização do Copam, a fim de resolver antigos problemas do sistema de gestão ambiental, como a centralização do órgão em Belo Horizonte e a falta de sensibilidade regional na avaliação de projetos distantes da capital. Com esse objetivo, foram organizados oito conselhos regionais, que decidem a respeito dos processos de licenciamento de menor impacto. Aqueles de maior impacto continuam sendo tratados em Belo Horizonte, onde o Copam também define as normas gerais a serem acatadas nas regionais.

Complexidade do licenciamento é questionado

José Junqueira e o representante da Fiemg, Vítor Feitosa, concordaram com a necessidade de reduzir a complexidade do processo de licenciamento ambiental. O assessor especial lembrou que o licenciamento ambiental é hoje feito em três fases, sendo que o empreendedor deve primeiro requisitar um licenciamento prévio, depois a licença de instalação, e depois a de operação. Além disso, freqüentemente precisa ainda de buscar uma autorização para exploração florestal e a outorga de direito de uso dos recursos hídricos. "Em muitos países, tudo isso é feito em um processo único", afirmou o assessor especial. Ele ressalvou, no entanto, que apesar de desejável, a unificação dos licenciamentos é um processo complicado, que demanda alterações na legislação federal e nas estruturas e procedimentos de diferentes órgãos. O comentário não reduziu a cobrança do representante da Fiemg. "Esse sistema é complexo e favorece a atividade ilegal. A governança ambiental precisa mudar isso", afirmou Feitosa.

Pesquisa mostra indicadores preocupantes

Uma pesquisa realizada pelo governo mineiro entre professores, pesquisadores e conselheiros ambientais em nível estadual e nacional revela que os indicadores ambientais em Minas Gerais vêm melhorando, mas ainda são muito preocupantes. Os números foram divulgados pelo assessor especial da Semad, José Cláudio Junqueira. Um dos dados mais graves, em sua avaliação, é o de utilização de agrotóxicos pela agricultura mineira. Enquanto os índices internacionais mais baixos são de 1,5 quilo por hectare, em Minas a média é de seis quilos por hectare.

A pesquisa também mostrou que apenas 1,52% da área do estado está protegida, enquanto no Brasil esse índice chega a 3%, ainda assim baixo. O índice de desmatamento foi reduzido de 1% ao ano, em 1983, para 0,25% ao ano, em 2006.

Por sua vez, a representante da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia, Maria Gravina Ogata, também revelou os desafios enfrentados pelo governo vizinho. "Apesar de ser a sexta maior economia do Brasil, a Bahia está em 20º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)", afirmou a dirigente. Por outro lado, ela afirmou que muitos índices e parâmetros aplicados pelo poder público podem não ser adequados à realidade nacional, uma vez que são insuficientes as pesquisas que adaptam os indicadores internacionais.

O representante da Fetaemg, Eduardo Nascimento, cobrou mais respeito aos pareceres técnicos realizados para balizar as decisões do Copam. "O conselheiro pode votar contra o parecer técnico, e isso acaba levando à aprovação de projetos de hidrelétricas com uma série de ressalvas", afirmou Nascimento.

Programação - Apesar de não ter participado da reunião, o presidente da Comissão Especial Sobre Governança Ambiental, deputado Paulo Piau (PPS), apresentou requerimento lido pelo deptuado Sebastião Costa (PPS), propondo uma programação de oito reuniões ordinárias e seis reuniões de interiorização para a comissão, daqui para frente. A proposta foi aprovada.

Presenças - Deputados Carlos Gomes (PT), Ana Maria Resende (PSDB), Sebastião Costa (PPS) e Doutor Ronaldo (PDT). Além das autoridades acima citadas, também participaram o promotor Rodrigo Cançado e a representante da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Priscila Carvalho, entre outros.

 

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