Transferência simbólica de capital causa polêmica

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 95/06 causou polêmica na reunião conjunta das comissões de Cultura e de Tur...

27/04/2006 - 00:03
 

Transferência simbólica de capital causa polêmica

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 95/06 causou polêmica na reunião conjunta das comissões de Cultura e de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta quinta-feira (27/4/06). A PEC, de autoria da deputada Ana Maria Resende (PSDB), dá nova redação ao parágrafo 2º do artigo 256 da Constituição Estadual, fazendo com que Mariana divida alternadamente a condição de capital com Matias Cardoso, nas comemorações do Dia do Estado de Minas Gerais, em 16 de julho.

O autor do requerimento para a realização da reunião, deputado Paulo Cesar (PDT), disse que solicitou a reunião para que as partes interessadas pudessem expor suas argumentações, elucidar suas dúvidas e participar efetivamente das decisões tomadas na Casa. "Debater abertamente todos os pontos-de-vista, antes de tomar qualquer decisão que venha prejudicar este ou aquele município. Esse é nosso objetivo maior", afirmou o parlamentar.

"A população do Norte de Minas é com freqüência jogada para fora do Estado. Há um preconceito e uma visão distorcida só por causa do sotaque, próximo do baiano, e das diferenças culturais. Isso dói. O objetivo é reconhecer o papel histórico da região. Mariana tem seus méritos inegáveis. É o berço de Minas, mas não o berço das Gerais", defendeu o antropólogo e professor da Unimontes, João Batista Almeida Costa, antes de ler trechos de documentos históricos sobre o surgimento do povoado que habita a região que é hoje a cidade de Matias Cardoso.

A PEC, no entanto, está longe de ser unanimidade. O deputado Jayro Lessa (PFL) fez duras críticas à iniciativa. "Trata-se de uma idéia muito infeliz e com poucas chances de ser aprovada. Uma cidade com pouco mais de dez anos de emancipação está querendo tomar o lugar de Mariana. História não se muda, se faz com a própria história", disse.

Divergência - O relator Carlos Pimenta (PDT) discordou: "Ninguém quer tirar nada de Mariana, a importância dela já é reconhecida, mas o Estado tem essa outra parte da história ainda não contada. Não existe confronto entre cidades. Não é essa a intenção da PEC".

O vice-prefeito de Mariana e presidente da Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes, Roque Camêllo, também mostrou-se contrário à proposta, que, segundo ele, não tem "sustentação adequada". Ele lembrou que Mariana foi a primeira vila, cidade e capital, além de primeiro bispado do Estado. "Sem falar em outras primazias nos campos da cultura, religião, arte e política. A história do Brasil e de Minas de funde com a de Mariana. Não por acaso a Unesco avalia a possibilidade de torná-la patrimônio da humanidade", discursou.

Diante da impossibilidade de consenso, o deputado Rogério Correia (PT) sugeriu uma via alternativa: em vez de alterar a redação do artigo 256, acrescentar um outro artigo à Constituição, que pudesse reconhecer, em outra data, a importância histórica de Matias Cardoso. "Com isso, faríamos justiça às duas visões aqui apresentadas: da população de Minas e do povo das Gerais", opinou.

O relator Carlos Pimenta mostrou-se favorável à sugestão e, além de convocar os presentes para outra reunião a fim de discutir questões de mérito, admitiu que a proposta inicial pode sofrer mudanças.

Município foi origem da expansão pecuária em Minas

Mathias Cardoso de Almeida foi um bandeirante a quem é atribuída a fundação, em 1660, às margens do Rio São Francisco, da Sociedade Agropastoril Mineira, dando impulso ao povoamento da região. Só em 1992, ocorreu a emancipação política, e a cidade deixou de pertencer a Manga. Hoje, o município tem pouco mais de 8.500 habitantes, metade vivendo na zona rural e tirando o sustento da produção agropecuária, pesca e extrativismo vegetal.

Segundo a autora da PEC, a deputada Ana Maria Resende, a idéia é fruto de um trabalho científico feito por historiadores. "Temos que reescrever a história de Minas Gerais. Assim, a capital será transferida simbolicamente para Mariana em um ano; e, para Matias Cardoso, no outro. Em 2006, por exemplo, o governador Aécio Neves entregou a Medalha da Inconfidência em Diamantina e não em Ouro Preto, como ocorre tradicionalmente. Com a proposta, reforça-se a idéia de que Minas Gerais é a soma das Minas com os 'Gerais', sertões desbravados desde 1600, antes mesmo da descoberta das Minas", defende a deputada.

Presenças - Deputados Paulo Cesar (PDT), presidente da Comissão de Turismo; Carlos Gomes (PT); Carlos Pimenta (PDT); Jayro Lessa (PFL); Rogério Correia (PT); e Padre João (PT); e deputadas Ana Maria Resende (PSDB); e Elbe Brandão (PSDB). Participaram ainda o superintendente do Arquivo Público Mineiro, Renato Venâncio, o prefeito de Matias Cardoso, João Cordoval de Barros; o professor João Batista Almeida Costa, da Unimontes; o presidente da Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes, professor Roque Camêllo; o presidente da Câmara Municipal de Matias Cardoso, vereador Arnon Pereira Costa; e o ex-deputado federal Genival Tourinho.

 

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