Cemig e Sindieletro reforçam polêmica sobre tarifas do setor
elétrico
A Cemig e o Sindieletro, que reúne os trabalhadores
do setor elétrico, estiveram em lados opostos na reunião desta
quarta-feira (26/4/06) da Comissão de Defesa do Consumidor e do
Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. A polêmica
foi sobre a política tarifária do setor de energia elétrica. O
sindicato revelou que os 4,8 milhões de consumidores residenciais
representam 17% do consumo da Cemig e 36% da receita apurada da
empresa. Os 68 mil industriais respondem, por sua vez, por 59% do
consumo e 33% da receita. "Os grandes consumidores estão sendo
subsidiados, e o consumidor residencial está pagando a conta",
denunciou o presidente do Sindieletro, Marcelo Correia.
Já a Cemig avalia que os grandes vilões da conta de
energia - que teve aumento recente de 5% - são a carga tributária e
os encargos. Outros motivos alegados pela gerente de Tarifas, Maura
Galuppo, para que a tarifa da Cemig seja uma das mais altas do País
são os seguintes: grandes investimentos necessários para levar as
linhas de transmissão até as fronteiras do Estado; consumo médio
residencial baixo e o fato de que 27% do consumo residencial estarem
representados pelos consumidores de baixa renda. Esses consumidores
de baixa renda e os consumidores rurais têm hoje a tarifa
subsidiada.
Consumidor livre - Marcelo
Correia afirmou, em contraponto, que os grandes consumidores
industriais, cerca de 100, podem negociar sua tarifa diretamente com
a empresa, em detrimento do nenhum poder de negociação dos
consumidores residenciais. São os "consumidores livres". Para saber
mais sobre eles, o deputado Edson Rezende (PT), autor do
requerimento da reunião, informou que apresentará novo requerimento,
desta vez solicitando informações sobre o número de acordos firmados
pela empresa com o consumidor livre; o valor médio do kwatt/hora
desses pactos; a participação do segmento no total da energia
elétrica consumida no Estado e o regime tributário a que essa
categoria de consumidores se sujeita.
Na avaliação do parlamentar, a reunião desta quarta
foi o ponto de partida de um trabalho de investigação sobre a
política tarifária do setor elétrico. Para ele, é preciso rever a
estrutura dos subsídios, definindo de fato quem são os necessitados,
além de tornar mais igualitária a relação entre a tarifa residencial
e a industrial. "A energia elétrica é um problema importante, e os
movimentos sociais já estão envolvidos com o tema, assim como a
sociedade, que está cada vez mais incomodada", resumiu.
Um outro requerimento do deputado Edson Rezende,
que deverá ser aprovado na próxima reunião, é o que solicita
informações sobre a composição do preço final, inclusive a estrutura
dos custos gerenciáveis e não gerenciáveis (compra de energia,
encargos e tributos), além dos tributários, com o maior detalhamento
possível dos seus componentes, dividido por tipo e faixa de
consumidor.
Polêmica também na distribuição dos dividendos e
subsídios
O representante do Sindieletro também questionou a
distribuição de dividendos de R$ 1 bilhão do montante de R$ 2
bilhões de lucro que a Cemig teve em 2005. Segundo Marcelo Correia,
por meio de alteração estatutária, a distribuição dos dividendos
passou de 25% para 50% dos lucros da companhia. Ele ponderou que o
Estado de Minas Gerais detém hoje apenas 24% do capital total e que
75% do capital é privado, sendo 55% capital estrangeiro. "Portanto,
a Cemig mandou para fora R$ 550 milhões, e foi o consumidor
residencial quem pagou isso", criticou Correia.
Em resposta, o superintendente de Planejamento
Corporativo e Tarifas da companhia, Emílio Castelar Pereira,
informou que o Estado devia R$ 3 bilhões à Cemig e que aquele só
aceita pagar a dívida sob a forma de dividendos. "O dividendo foi a
maneira que encontramos de receber o pagamento", explicou. Também
replicou que o lucro existe, sim, mas que não viria basicamente da
tarifa, mas também de outras fontes, como as atividades de geração e
transmissão.
Subsídios - A polêmica prosseguiu com relação
aos subsídios, cujo valor anual é de R$ 1 bilhão. A receita anual da
Cemig sem o ICMS é de R$ 6 bilhões. Maura Galuppo informou que,
deste R$ 1 bilhão, R$ 700 milhões representariam o benefício para o
consumidor rural e R$ 300 milhões seriam o subsídio concedido ao
consumidor de baixa renda. Segundo Emílio Pereira, no entanto, cerca
de 50% do total dos consumidores de baixa renda não se enquadrariam
de fato nesse rol. Poderiam ser, na verdade, como informa Maura
Galuppo, detentores de casas de campo e usuários de flats, por exemplo.
Consumidor de baixa renda é aquele que consome mensalmente até 80
kwatts/hora ou aquele que consome até 120 kwatts/hora e que comprove
ser beneficiário de programas governamentais, como o Bolsa
Família.
Na avaliação de Marcelo Correia, do Sindieletro,
pode haver distorções quanto ao consumidor rural. Para o sindicato,
grande parte desse subsídio não beneficia o pequeno produtor rural,
mas sim as grandes irrigações. Voltando à questão do tratamento
desigual entre consumidor residencial e industrial, Correia também
repassou à comissão dados já conhecidos, de que o ICMS sobre a conta
de energia é de 30% para o residencial, contra 18% para o
industrial. "A política do Estado é agradar os grandes consumidores,
além dos grandes acionistas", resumiu ele, informando que, entre
aqueles que integram a lista de doadores de campanha do governador
Aécio Neves, estão empresas como Açominas, Vale do Rio Doce e
Companhia Brasileira de Alumínio, todas grandes consumidoras de
energia.
Propostas apresentadas por Sindieletro e
Cemig
Entre as propostas apresentadas na reunião para
resolver todas as questões levantadas, destacam-se, pelo
Sindieletro, as seguintes: que o governo reduza o ICMS da conta de
luz dos consumidores residenciais; que a Cemig adote a isenção de
tarifa para os consumidores de baixa renda, o que já é feito por
outras empresas de energia do País; e que o governo federal mude a
política tarifária e estabeleça regras justas para o reajuste da
energia. Já a Cemig pretende sugerir ao Congresso que crie um fundo
único nacional que concentraria todos os recursos destinados ao
setor elétrico, congelando os encargos e tributos em reais, sem
aplicação de correção monetária ou aumento real. Para a companhia, à
medida em que o consumo crescesse, o impacto tributário seria cada
vez menor.
Reclamações no Procon -
Também expositor na reunião, o gerente de Atendimento do Procon
Municipal, Antônio José Vital, reforçou as palavras do Sindieletro,
revelando que consumidor residencial não consegue pagar sua conta na
Cemig e que é o consumidor industrial o grande subsidiado. "As
pessoas comuns acabam fazendo ligações clandestinas, os 'gatos',
para continuar a fazer uso do serviço", finalizou.
Presenças - Participaram
da reunião os convidados citados e o deputado Edson Rezende
(PT).
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